1ª suspeita: O início da investigação.
Era uma tarde de abril, as aulas no ifba, campus Simões
filho, tinham se iniciado. Os novos alunos da instituição de ensino, ou como
são comumente chamados, calouros, já estavam enturmados com os professores e
com as atividades daquele colégio que mais parecia uma tumba de enigmas e
mistérios que a muitos fazia perder a noite.Apesar de muitos dizerem o
contrário era possível até mesmo se sentir o aroma fétido da maldição carregada
por aquela escola.
Suicídio. Morte. Planos estranhos. Assassinatos. Depressão.
Carnificina. serial killers... Aqueles
que ali estavam mal sabiam o destino trágico que se seguira naquele ano...
Dia 4 de abril de 2013, sol, ifba, campus Simões filho, 14h00min
horas da tarde.
Era mais uma daquelas aulas chatíssimas e maçantes de
português, os alunos, como de costume, estavam quase dormindo naquela aula que
mais parecia um calvário de gramática e literatura arcaica. Do nada, um som de
batidas veio da porta
Toc, toc
-Podemos entrar professor?-dizia o aluno que chegará
apenas uma hora e vinte minutos
atrasado.
-claro- disse o professor- vocês devem ser os alunos que, segundo
o diretor, iriam se ausentar por um longo período de tempo desde o início das
aulas, espero que estejam preparados para o seminário que vão apresentar amanhã.
Mas antes de tudo, que tal se apresentarem?-Enquanto o professor falava o mesmo
indicava aos dois que entrassem e fossem para a frente da sala, para que todos
pudessem vê-los, o que, de muito bom grado, os dois fizeram.
-He,he...bem, meu nome é Daniel, tenho quinze anos, adoro
ciclismo e séries como sobrenatural, death note, neon genesis evangelion e tudo
que envolve mistério e misticismo, curto pra caramba resolver enigmas e detesto
português, mas com as lindas beldades que eu estou vendo nessa sala, acho que
até da pra agüentar né?-Daniel era um rapaz loiro, de olhos verdes, um metro e
setenta e três centímetros, usava uma camisa preta com uma caveira e o nome
“death note” acompanhada da estampa do seu personagem favorito da mesma série,
o detetive “L” , calção jeans e um par de percatas junto a mochila,
caracterizavam o visual do garoto.
-Ui, ui, chegou agora e já está paquerando na cara dura aí
na frente, você não tem vergonha não, rapaz?-
Assim zombava Gabriela, uma garota ruiva, de olhos azuis, um metro e
sessenta, corpo escultural. Sentada no canto direito da sala, Gabriela vestia uma camisa branca com alguns detalhes
lineares de vermelho, uma saia preta e um conjunto de botas de couro de mesma
cor, a ruiva achava graça do comportamento de Daniel e estava louca para ver a
reação do loiro ao ouvir aquela frase que supostamente era uma afronta.
-Vergonha?-Repetiu Daniel- A única vergonha que eu tenho no
momento é de ainda não estar ficando contigo, mas isso nós resolvemos com dez
minutos de conversa- Com essa frase desafiadora a turma foi a loucura, risadas
e até mesmo aplausos foram dirigidos ao rapaz, apesar de duvidar que o loiro
fosse capaz de tanto, Gabriela também gostou da resposta, em contraste ao
professor, que já estava impaciente e um tanto encabulado com o discurso do
rapaz.
-Uhum, muito obrigado pela apresentação Daniel, mas vamos
deixar seu colega se apresentar logo senão não conseguirei concluir a aula- Disse
o lecionando com um tom misto de austeridade e timidez.
-Opa, sou eu né? bem, meu nome é Davi, também tenho quinze
anos, gosto muito de livros como Sherlock Holmes, a batalha do apocalipse de
Eduardo Spohr, dentre outros, adoro meu skate e pratico toda semana e só pra
passar a notinha, eu estou solteiro e disponível.- Davi tinha um metro e
setenta e cinco, cabelo e olhos castanhos, pele branca,usava uma blusa da FIFA
por cima de uma camiseta branca, calça jeas, tênis all star, e uma mochila da
Nike completam a apresentação estética do rapaz.
-Somos detetives juvenis!- gritou Daniel- E podemos resolver
qualquer mistério e caso “insolucionável” que vocês pensarem, estivemos
faltando aulas um mês só pra pesquisar qualquer mistério que pudesse estar por
trás destas paredes e mais do que nunca percebo que existe um mistério dos
grandes que se apodera desta sala!
Nesse mesmo momento, ao invés de rir, os colegas junto ao
professor ficaram quietos esperando que Daniel voltasse a falar depois de sua
pausa dramática, feita propositalmente para que todos prestassem atenção ao que
ele tinha a dizer. Um clima de tensão tomou o aposento, todos se entreolharam
mas não tinham coragem de cortar o silêncio que se impôs sobre eles como a
lâmina de um carrasco.
De repente Daniel voltou a falar - E o culpado disso tudo...
Agora existia um culpado e o clima que já estava pesado
ficou pior ainda. Alguns até mesmo roíam as unhas com medo de que ele revela-se
algum segredo íntimo, e quando já estavam prestes a morrer de ansiedade Daniel
voltou a falar.
-É o professor!-gritou enquanto apontava para o mesmo.
-Eu?- surpreso, o professor se quer conseguiu conter a
reação para aquela suposição ainda incompleta de seu novo aluno.
-Sim, é você professor, não é possível que ninguém percebesse
um negócio destes... Você vai pagar caro pelo que fez!
-Mas eu juro a você que não fiz nada, estou apenas tentando
dar minha aula desde que cheguei aqui, aliás, vocês estão atrapalhando ela- Respondeu
ao aluno num tom de surpresa e indignação.
-É exatamente isso que está errado, essa aula, essa podridão
fétida e horrível que eu vejo em minha frente, isso é um plano mais do que
claro de alienação!-Exclamou convicto.
-Sinceramente- Disse Davi- Você não acha que está viajando
um pouquinho não Daniel?
-Claro que não!-Negou rapidamente- Está mais do que na cara
que ele tem um plano maligno, vocês não percebem? Ele colocou aqui no quadro
que vocês devem ler a hora da estrela de Clarice Linspector, isso é um absurdo,
ele quer fazer de vocês um bando de zumbis consumidores de literatura chata e
arcaica, você até podem não acreditar em mim
se quiserem, mas podem anotar, daqui a um mês vocês vão virar um bando
de emos que curtem restart e passar o dia todo chorando por que morreu o
cachorrinho do vizinho e depois disso vão virar um bando de v...- A fala
entusiasmada de Daniel foi interrompida pela pancada.
Tapof
-Vamos embora- Nervoso, Davi puxava o amigo pela gola da
camisa para fora da sala- acho que você está precisando tomar um pouco de ar lá
fora... E uma boa dose de tarja preta!
Os dois saíram acompanhados por uma legião de risadas que
vinham tanto de seus colegas tanto do seu professor.Apesar de no início terem
dado crédito para o discurso de Daniel, aquela conclusão que ele apresentou era
simplesmente absurda e até mesmo ridícula, sendo este o motivo principal da
risada dos seus colegas, no entanto, apesar de rir, Gabriela gostou bastante
dos novos estudantes e queria conhecê-los o quanto antes, afinal, para uma
garota aventureira como ela, idéias loucas como aquela soavam como música aos
seus ouvidos.
Depois de andar um pouco os dois jovens decidiram se sentar
em um banco de madeira que ficava próximo ao estacionamento em frente ao
pavilhão estudantil. O local em que estavam era, em suas costas, repleto de
grama e algumas plantações cultivadas com carinho pelos funcionários da
instituição, a frente deles estava o estacionamento com uns quatro ou cinco
carros e a sua esquerda estava a entrada de metal para a cantina e o pavilhão
administrativo.
-Da próxima vez que você fizer isso eu juro que arranco os
seus rins!-disse Davi, irritado com o acontecido em meio a sala de aula.
-Deixa disso Davi, você acha mesmo que eu estava brincando?...
E olha que eu estava sendo calmo com o desvendar deste mistério, mas entre nós
posso dizer no mínimo que aquilo se trata de um satânico ritual literário!-Disse
irônico.
-Cara eu vou dar uma volta, por que se eu ficar aqui vou
acabar levando os seus pulmões comigo.
-Relaxa Davi, você é sério demais as vezes, pode ficar
tranqüilo que todo mundo está ligado que aquilo foi brincadeira- Falava o loiro
enquanto dava tapinhas nas costas do amigo.
-Eu entendo quando é brincadeira, Daniel, mas você que tem
que maneirar um pouco com o que brinca, nós já resolvemos vários mistérios
juntos, prendemos uma meia dúzia de bandidos que a polícia não conseguia
incriminar, e nós conseguimos, e é por isso mesmo que eu falo que você deve ver
com o que você brinca, se você for fazer isso em todo o lugar que nós formos,
como vai querer que nos levem a sério?- Ao ver que já estava mais fácil
estabelecer um diálogo, Davi decidiu permanecer no local ao invés de sair como
tinha dito que faria antes.
-Certo, certo, entendi, já não está mais aqui quem falou,
mas então, me diz aí, o que foi que você descobriu nesse mês que você andou
pesquisando sobre esse bairro?- Curioso, Daniel queria saber logo o que o amigo
tinha descoberto sobre aquele pacato bairro de Simões filho, a pitanguinha
velha.A pitanguinha velha não era lá um bairro muito grande, sua única
singularidade era o número exorbitante
de ladeiras que dificultavam a caminhada dos moradores e dos estudantes do
local.
-Não descobri muitas coisas, mais os casos que eu sei são
até um pouco interessantes, repare, fiquei sabendo que um dia desse mesmo um
morador super sedentário, que não fazia nada além de trabalhar, assistir TV e
beber cerveja, conseguiu por um acaso um revolver e...
-Olá!-Os dois foram interrompidos por Gabriela, que esperta
como somente ela pode ser, tinha ouvido toda a conversa.
-Ah, você é a menina que quer conversar comigo né? Pode
deixar que depois eu reservo um tempo pra você- Daniel estava confiante de que
a ruiva estava interessada nele, leso engano.
-Deixa disso menino bobo.Foi mal atrapalhar a conversa, mas
achei legal esse lance de detetive, mas voltando ao assunto, o que ele fez
quando pegou o revolver?
-Bebeu doze litros de cinqüenta e um, teve uma boa idéia, e
saiu matando todas as tropas terroristas do jogo, e essa é a história de
Jaminho, meu amado primo que em um belo dia aprendeu que ele sempre pode ser o
campeão da rua no counter strike, desde que ele beba um pouquinho antes, por
que vou te dizer, sem beber aquele moleque é péssimo- Daniel era mestre em arrumar
desculpas malucas e convincentes, mas
essa não pegou.
-É mesmo?E seu primo por um acaso mora aqui na pitanguinha
velha?- A ruiva não seria enganada facilmente, ainda mais com uma história
louca como a de Daniel.
-Mora, eu sempre passo lá pra pegar o rango quando não dá
tempo de comer em casa e eu tenho que vir pra escola- tentou disfarçar.
-Sério?Mas hoje não é o primeiro dia que você vem pra
escola?-os dois garotos ficaram pasmos ao ver que a ruiva era mais inteligente
do que pensavam, ela sorria mais do que feliz por ter desarmado os argumentos
dos dois.
-Daniel, eu não sei o que faço com você...- Davi
simplesmente desabou de vergonha ao ver a cena.
-Calma, calma, se vocês não querem falar não precisam, mas
podem saber que sou ótima em guardar segredos especialmente de detetives tão
importantes como vocês- a ironia praticamente dançava pelas palavras da garota.
-A propósito, você já sabe quem somos mas qual é seu
nome?-Davi achou que era minimamente importante saber o nome daquela que os
desmascararam.
-Gabriela -falou sorrindo- mais falando sério agora, é
verdade esse negócio de detetive?
-Claro, já resolvemos vários casos que nem mesmo a polícia
conseguiu dar jeito- Daniel estufava o peito com orgulho enquanto falava de
seus feitos.
-Temos inclusive uma permissão especial do governo para
porte de armas e para podermos participar das investigações que nos
interessarmos- Davi explicava enquanto, em sua mão esquerda mostrava a tal permissão governamental.
-Nossa que legal, então é verdade mesmo, espero poder vê-los
em ação- Gabriela ficou muito entusiasmada ao ver que o que os rapazes falavam
era verdade.
-Bem- Davi interrompeu- Já que você sabe, vou te contar um
pouquinho mais sobre nossa atual investigação aqui no ifba, mais por favor
fique quieta.-Fez sinal para que a ruiva se aproximasse.
-Certo, juro que não conto pra ninguém, pode falar.
-Atualmente, tanto na pitanguinha quanto no ifba,
principalmente aqui, é notado um aumento significativo de atos violentos, nós
decidimos que vamos tentar descobrir o motivo disso, até por que isso pode ser
útil em nossas próximas missões. -Era mais do que perceptível que Davi estava
abaixando o tom de voz para que ninguém escutasse.
-Mas isso pode ser apenas coincidência, em vários locais é
normal que o índice de criminalidade suba e desça de um mês ou de um ano para o
outro.
-Sim, eu sei, mas aqui a situação é diferente. No bairro em
si é comum que aconteça algum crime durante o mês, mas esses crimes vem
aumentando em uma velocidade incrível, e principalmente aqui no ifba, a
quantidade de homicídios e suicídios feitos por alunos tem aumentado em 300% do
ano passado pra cá, isso em apenas um mês de aula.
-Mas isso só acontece com as pessoas que já estão envolvidas
neste meio, de fato duas pessoas se mataram e uma assassinou um homem desde que
eu entrei aqui no colégio, mas não acho que exista um motivo real para essa
suspeita toda de vocês.
-Sim, Gabriela, pode ser que isso realmente seja um evento
meio que “natural” só estamos nos precavendo para que não seja algo de fato
planejado.
-O que podemos fazer agora é apenas continuar investigando e
torcer para que isso seja apenas mais uma pegadinha do destino- Finalizou
Daniel.
-Certo... opa, já é 14:40 e o professor de matemática já foi
pra sala, vamos logo se não ele não vai nos deixar entrar-concordou Gabriela
enquanto andava em direção da escada que ligava o estacionamento com o corredor
do pavilhão estudantil.
-Beleza, e só pra saber, ouvi boatos de que o professor de
português passou um debate sobre aborto para duas equipes fazerem amanhã, a
galera tinha dito que devido a falta de pessoas que nós estamos na sua equipe
Gabriela, é verdade isso?-Daniel falava enquanto junto a Davi se levantava do
banco de madeira para ir em direção a sala de aula.
-Sim, sim, estamos na mesma equipe.
-Bem, eu e o Davi não vamos poder vir amanhã pois vamos
ajudar o pai dele com alguns casos que estão quase solucionados, então nós
vamos ficar sem a pontuação do debate?
-Não, não, o professor na certa vai fazer a próxima equipe
se apresentar antes do que ele tinha marcado, na certa vai ser o pessoal que
ficou com o tema da eutanásia, podem ficar tranqüilos que eu aviso o pessoal
que nós não temos como apresentar amanhã.
O debate de português era um trabalho que consistia em,
tendo já um tema pré escolhido em sala de aula, os alunos iam estudar sobre o
mesmo e daí formariam duas equipes de seis pessoas: uma a favor e outra contra
o tema posto em questão, essa era uma forma de fazer com que os alunos
treinassem uma redação argumentativa oral.
Por fim, deram dezoito horas da tarde e os alunos foram
liberados para poderem esperar pelo escolar que chegaria por volta de uns dez a
quinze minutos mais tarde do que a hora em que eles saíram. Nas mentes de Davi,
Daniel e Gabriela a conversa que tiveram no banco ainda estava a perturbar suas
mentes como fantasmas ou almas penadas. ”Será que existe algum motivo pré
meditado para que a violência no bairro e na instituição tivesse aumentado
tanto?”, “será que alguém se beneficiaria com isso”, no momento, essas eram
questões sem resposta e com o tempo eles foram deixando a mente dos jovens. Mal
sabiam eles que o maldito cheiro da morte subia com alegria pelos muros da
instituição.
Dia 6 de abril de 2013, sol, ifba, campus Simões filho, 12h40min
horas da tarde.
Daniel e Davi tinham acabado de chegar na escola, estavam
felizes por terem terminado o serviço do pai de Davi com sucesso e loucos para
saber o que tinha ocorrido no debate no dia anterior o mesmo que eles
faltaram.Ao chegar um pouco mais perto
do corredor do pavilhão estudantil avistaram Gabriela sentada em um dos
vários bancos de concreto enfeitados por mosaicos feitos pelos próprios alunos
em um antigo trabalho de artes.Entusiasmados os dois logo foram ao encontro da
nova amiga com o intuito de abraçá-la e saber das novidades do dia anterior.
-Ei, Gabriela, levanta e vem falar comigo, o Davi também
está aqui. -Disse Daniel super alegre por reencontrar a ruiva
Gabriela ficou quieta, e seus amigos logo perceberam que
tinha algo de errado, Davi logo teve um mal pré-sentimento e junto com Daniel
correu em direção da amiga.
-Gabriela, Gabriela, você está bem? O que foi que
houve?-Davi segurava os ombros da amiga sem saber o que se passava.
-Pelo amor de Deus, o que foi que houve, por que você está
assim?
-Eles...mat...morrer...
-O que foi? Eu não ouvi nada- Daniel balançava a amiga
insistindo em fazê-la ter alguma reação.
-Eles morreram, e mataram um ao outro!- Gabriela gritou e
chorando se escondeu nos braços dos dois rapazes
Daniel e Davi não entendiam o que se passava com a garota e
se entre olhavam com um olhar de dúvida procurando um no outro a resposta para
aquela reação inesperada de Gabriela.O professor de português que ali passava
viu o que estava acontecendo e tomou a voz.
-Acho que ninguém vai conseguir explicar pra vocês o que foi
que ocorreu aqui ontem, mas Gabriela falou que vocês poderiam ajudar, venham
comigo que quando chegarmos lá vocês vão entender o que se passa aqui.
Sem dizer mais nenhuma palavra os dois amigos seguiram o
professor por todo o percurso do pavilhão acadêmico até chegarem aos auditórios
próprios para aula que existiam ao fim do corredor. O professor abriu
lentamente a porta do auditório 1 e fazendo sinal para que os dois entrassem,
se absteve de ver novamente a cena horrenda que se escondia por traz daquela
parede.
-MEU DEUS!- Daniel gritou ao ver tão horrenda cena. No canto inferior do auditório os
corpos de seus colegas estavam em estado de putrefação.
5 mortes.2 revólveres.2 assassinos.Futuros
perdidos.Cadáveres.Sangue.Balas.Morte.Os jovens que viram a cena de imediato
entenderam que existia algo de muito errado naquela escola, realmente existia
algo por trás daquelas mortes e eles tinham que descobrir.
As trombetas da morte vieram anunciar que seu reinado de
sangue estava apenas começando.
2ª suspeita:Pais e filhos.
Dia 6 de abril de 2013, sol, ifba, campus Simões filho,
13h20min horas da tarde
5 mortes. 2 revólveres. 2 assassinos. Futuros perdidos.
Cadáveres. Sangue. Balas. Morte. Os jovens que viram a cena de imediato
entenderam que existia algo de muito errado naquela escola, realmente existia
algo por trás daquelas mortes e eles tinham que descobrir.
O clima estava tenso, Davi e Daniel mal podiam acreditar no
que viam, porém, por mais que não desejassem aquilo era a realidade e agora sua
missão era descobrir o que de fato tinha acontecido naquele cenário de tamanha
matança.
-Meu Deus, o que é isso?...-Daniel falava enquanto, junto a
Davi, se aproximava dos corpos dos cadáveres no chão, ainda intocados desde
ontem.
Davi se agachou para ficar mais perto dos seus colegas
mortos, analisou os corpos, até arriscou ver se existia pulsação, o que foi um
inútil esforço. Os jovens estavam mortos de fato.
-Dois tiros no peito desse...- Falou ao se referir a um dos
rapazes que estavam no canto esquerdo da sala-...um na cabeça desta.- Apontava
para a garota loira que estava ao lado do rapaz baleado.-E desse lado?
-Três tiros nesse aqui e dois na menina do lado dele, qual a
ligação entre eles?- Daniel virou-se para o professor.
-Bem... Ao que eu sei os dois rapazes, Rodrigo e Augusto,
eram amigos, mais não me parece que eles têm ligação nenhuma com as duas
meninas, ao menos na minha aula nunca vi eles conversando.
-Aparentemente não existe lógica nisso... Se eles eram
amigos, por que se mataram? Com certeza alguma coisa aconteceu.
Um silêncio enorme tomou conta do recinto. As informações
que eles dispunham ali eram pequenas demais para levantar alguma hipótese, era
simplesmente absurda a idéia de que dois estudantes comuns teriam a coragem de
empunhar revolveres em mãos e ceifar a vida de seus amigos e de pessoas das
quais se quer tinham contato, apesar de estarem na mesma sala. Os três já
estavam ao ponto de ensandecer quando, do nada, uma voz feminina invade a sala.
-Não se esqueçam o que eles gritaram antes de morrer, se
esse fato for retirado do diálogo pra acharmos a solução disso aqui, jamais
vamos saber o que de fato aconteceu. –A voz que invadira a sala vinha de uma
garota loira, com uma altura por volta de um metro e sessenta e sete, usava uma
saia jeans com uma meia calça preta por baixo, usava batas pretas com detalhes
rosa choque e uma camisa branca enfeitada com uma cruz negra que vinha do ombro até a cintura.
- Quem é você? Estamos no meio de uma investigação, sinto
dizem isso mais você não deveria estar aqui- Davi tinha receio de que outras
pessoas presenciassem a investigação, especialmente naquele caso, onde todos da
sala eram suspeitos.
- Meu nome é Adriana, sou da mesma sala que vocês e estava
aqui na hora que Rodrigo e Augusto
mataram a si mesmos e as duas meninas, Júlia e Alana.
- Você falou alguma coisa sobre grito não é? Pode falar o
que houve em detalhes?- Ávido por saber a verdade, Daniel não hesitava em
questionar qualquer um que ele julgasse ter um testemunho válido.
-Sabe, na verdade eu nunca falei muito com Augusto e
Rodrigo. Eu sempre achei que eles eram dois pivetes playboyzinhos metidos a
filinhos do papai, e de fato eles eram isso mesmo, tanto que eu mesma não
esperava ouvir grandes argumentos da parte deles para esse trabalho de debate.
Quando começou a aula, os dois já estavam um pouco tensos e se negaram a tirar
a mochila das costas quando foram fazer o debate aí na frente da sala. Eles já
estavam em grupos diferentes desde o início e pareciam estar esperando algum
tipo de sinal. Quando Júlia e Alana se levantaram pra falar os dois explodiram
do nada e tirando as armas das mochilas gritando: ”viva Karl Marx!”. O resto
vocês sabem como aconteceu...
-Nossa, por essa eu não esperava- Daniel se levantou e
seguiu em direção da porta, onde, de pé, estavam o professor e Adriana. –Vamos
sair daqui, se quisermos saber mais e achar a resposta pra isso, vamos ter que
fazer uma investigação fora daqui.
-é, vamos. - Concordou Daniel.
Os dois jovens detetives se levantaram com pesar e subiram
as escadas daquele auditório que mais parecia uma pequena sala de cinema. Ao
subirem os degraus centenas de questionamentos passavam pelas cabeças de ambos.
”Quem fez isso?”, “Como eles conseguiram essas armas?”, “O que diabos Karl Marx
têm haver com isso tudo?”. Quando os dois já estavam tão imersos em seus
pensamentos ao ponto que mal viam o que estava em sua frente, a voz da garota
novamente os trouxe de volta a realidade.
-por favor, resolvam esse caso o quanto antes. Eu não
acreditava que vocês eram detetives quando Gabriela me contou ou quando os vi
ontem na sala, mais vendo agora dá pra perceber que vocês entendem do que fazem.
Por favor... Descubram o que levou esses dois a matarem minha amiga!
-Qual delas é sua amiga?- Perguntou Daniel.
- Júlia.
- Vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance mais não
posso prometer nada. Nós te avisamos assim que tivermos qualquer pista sobre o
que aconteceu aqui.-Apesar da pouca idade, Davi era extremamente
inteligente.Apesar de já ter algumas hipóteses formuladas sobre o que de fato poderia
ter realmente ocorrido ali, ele sabia que não podia contar nada do que supunha
para a loira já que apesar de bela e sensual, ela também era uma suspeita.
-Muito obrigada, vou estar à espera de notícias. –Falou, e
seguindo os dois rapazes, rumou em direção de sua sala de aula.
Por volta de duas horas tinham se passado desde o ocorrido.
Era hora do intervalo, apelidado carinhosamente pelos alunos como hora do gov,
ou seja, hora do lanche do governo. No entanto, Daniel e Davi estavam como a
maioria das pessoas de sua sala, sem apetite para comer nada. Sentados nos
bancos ornadas por mosaicos no corredor acadêmico, os dois detetives estavam
parados a olhar para o nada, tentando achar uma solução para o caso.Vendo que
seus amigos estavam extremamente recolhidos graças ao que viram a pouco,
Gabriela e sua amiga Adriana se aproximaram dos dois. Daniel foi o primeiro a
perceber a presença das duas.
-Ah... Gabriela, já está melhor?
-Um pouco. Desculpe se deixei vocês dois preocupados, eu
estava um pouco chocada com aquilo tudo.
- Pode relaxar que nós vamos dar um jeito de descobrir o que
está acontecendo, se eu não conseguir, juro que leio qualquer livro deprimente
que o professor de português passar, por pior que ele seja. Então podem contar
comigo, por que nem mesmo eu que luto a anos com o crime tenho coragem de ler
aquilo. – Se tinha uma coisa da qual Daniel era expert era fazer com que as
pessoas relaxassem em momentos de tensão com suas piadas infames. Em meio a
algumas risadas meio sem graça, logo os amigos retomaram a conversa.
-Ha,há, você é comédia mesmo Daniel...-Já um pouco mais animada, Gabriela começou a se soltar.- Ah é,
queria perguntar uma coisa pra vocês.
-Não precisa perguntar gabi, você sabe que meu coração é só
seu, mas eu acho que agora não é o momento... – Daniel estava mais do que
convicto de que a ruiva ia perguntar sobre ele.
-Não é isso não idiota. Eu queria saber se vocês querem
alguma ajuda na investigação, como eu e Adriana já estamos estudando aqui há um
mês antes de vocês temos muitas informações sobre a sala e sobre os professores
que vocês vão levar muito tempo pra conseguir sozinhos.
-Sem querer cortar o seu barato Gabriela, essa investigação
é minha e do Daniel, nós sempre trabalhamos sozinhos e não estamos precisando
de ajuda, se quisermos saber de alguma coisa vamos saber por nós mesmos ou
vamos pesquisar por aí, sem falar que...
- Que o que? Que eu também sou suspeita?-Esbravejou Adriana.
- Me desculpem, mas como esse caso ocorreu na sala e ao que
tudo indica parece ter influências externas aos envolvidos, todos são
suspeitos. O professor de português, todos os alunos da sala, os demais professores,
funcionários e inclusive e até preferencialmente vocês duas podem ser suspeitos
em potencial. - Afirmou o jovem de olhos castanhos.
- Mas o que é isso? Eu acabei de ajudar vocês dando o meu
relato do que aconteceu, como acham que eu posso ser uma suspeita? Ainda mais
uma suspeita em potencial?- Gritou Adriana.
- Ela tem razão, desde que vocês chegaram aqui e acharam
esse caso nós sempre tentamos lhes ajudar, isso que vocês estão fazendo é o
mesmo que dar uma facada pelas costas. –Indignou-se a ruiva.
- Desculpe, mas não podemos misturar nossa vida pessoal e
nosso trabalho.
-Sigam meu raciocínio- Convidou Daniel. – Se vocês fossem as
culpadas por trás desse assassinato, vocês fariam de tudo para nos provar que
são inocentes, inclusive nos ajudar na investigação para que nós nunca
chegássemos às respostas que queremos. Não fiquem com raiva do Davi, ele é
muito precavido e de fato ele tem razão de ser, mas eu tenho uma proposta aqui
que creio eu todos vão gostar e que com certeza vai nos ajudar a resolver esse
caso.
- E o que você tem em mente?- Gabriela já estava bem nervosa
e não estava em condições de aceitar mais alguma brincadeira ou idéia absurda
de Daniel.
- Daniel, pelo amor de Deus, não viaja não que nós já
estamos com um bocado de problemas com esse caso, reanalíse o que você tem a
propor e olhe mesmo se vale a pena dizer isso- Igualmente a Gabriela e Adriana, Davi
menosprezava a idéia do amigo, apesar de, diferentemente das duas, ele sabia
que mesmo muito brincalhão Daniel era igualmente inteligente e perspicaz a ele.
-Relaxa Davi. - Falava Daniel tentando acalmar o amigo. –O
problema em questão não é se elas vão nos ajudar ou não, mas sim se elas são ou
não culpadas, certo?
-Certo. E daí?
- E daí que tudo se resolve da seguinte forma. Elas não
querem ajudar? Então deixemos que ajudem, se são culpadas ou não só vamos
descobrir com o tempo observando as ações delas. Admito que seria muito
interessante seguir uma investigação onde os culpados estão bem do nosso lado,
fazendo de tudo para provarem que são inocentes.
- Droga, Daniel, por um momento eu pensei que poderia ao
menos contar com você e você vem com essa? Sinceramente... – A ruiva
simplesmente não agüentava ouvir uma idéia tão louca quanto aquela.
- Diz alguma coisa pra ele er...Davi, certo?
-Sim.
-Diga logo alguma coisa pra esse tal de Daniel, você sabe
que eu e Gabriela não somos culpadas, vocês tem que nos deixar ajudar, minha
amiga foi uma das vítimas dessa matança.
Davi esboçou um sorriso confiante e até mesmo com uma pitada
de sadismo no rosto e seguiu com sua fala. – He, he, he, sinceramente Daniel,
quando penso que você está voando e pra você tanto faz o que acontecer, tu me
vem com essa carta gigantesca na manga. Muito bem, eu aceito a ajuda de vocês
sobre os termos de Daniel, desde que ele não esteja fazendo isso com o intuito
único de ficar mais próximo de Gabriela.
- Claro que eu não faria isso, eu sou Daniel, o maior
detetive juvenil que a terra já conheceu e não um idiota qualquer que age
apenas pelo coração.
As duas amigas se entreolharam, surpresas pelos dois amigos,
apesar de tão diferentes, terem chegado a aquele conclusão absurda.Sem terem
opção decidiram aceitar a proposta dos rapazes, confiando que com o tempo elas
provariam que não eram culpadas pelo caso.
- Muito bem, vendo que parece que vocês não tem uma idéia
mais louca que essa e que nunca vão nos deixar ajudá-los sob condições normais,
nós aceitamos essa maluquice. –Disse Gabriela, num tom de desprezo.
- Legal, mas saibam de uma coisa.
No mesmo instante, Daniel mudou a expressão alegre de seu
rosto adotando uma um tanto negra com doses fartas de desconfiança e até mesmo
ódio. Um tom de apreensão estranho tomou o ar e todos prestaram atenção em
Daniel esperando com ansiedade e dúvida as palavras que se seguiriam.
- Eu sinceramente espero que vocês duas não sejam culpadas
pelo ocorrido, mas tenham certeza que se vocês estiverem por trás disso e só
estão tentando nos ajudar para tentar apagar seus crimes da história tenham
certeza que eu e Davi vamos procurar vocês até mesmo no mais baixo inferno e
vamos acabar com vocês com toda certeza, isso eu juro em nome dos cadáveres que
estão no auditório. Eu odeio assassinos e não é por serem bonitinhas que vão
sobreviver se forem culpadas.
No mesmo instante em que essas palavras foram proferidas por
Daniel a espinha das duas amigas gelou e por um minuto elas ficaram ali,
imóveis, simplesmente congeladas no tempo, assim como uma presa que é cercada
pelo predador.
- Mas podem ficar tranqüilas. –Seguiu o loiro- Se vocês não são as culpadas que nós dizemos
que podem ser, tenham certeza que não lhes farei mal.
- Bem, deixando esse papo sinistro de lado, o que é que
vocês sabem que vocês querem nos falar sobre os dois assassinos mirins? –
Perguntou Davi.
- Er... –Ainda meio assustada Adriana foi a primeira a
falar. – Minha amiga, apesar de não falar com nenhum deles, morava no mesmo
bairro que os dois, e se bem me lembro eu sei em que casa os dois moram.
-Onde fica?
- Em Salvador, na graça, se não me engano.
- Beleza, acho que vamos dar uma passadinha na casa dos
nossos ex-amados coleguinhas. –Encerrou Daniel.
Dia 6 de abril de 2013, nublado, Salvador, Graça, 17h13min
horas da tarde.
Seguindo imediatamente para o local indicado por Adriana
para a ex-casa de um dos cadáveres, Daniel e Davi pegaram um ônibus para a
graça e desceram no ponto indicado por Adriana, seguindo as instruções dada
pela mesma, eles chegaram a uma casa grande, com dois andares, pela fachada,
com grama artificial e com um jardim florido pelas mais diversas flores, era
notável que aquela casa que ao menos em seu exterior era completamente
revestida por mármore branco, mostrava com clareza a ótima situação econômica
dos proprietários do local.
-Caramba, é um belo dum casarão isso aqui. –Daniel estava
espantado com o tamanho da casa de seu colega.
-segundo Adriana, aqui é a casa do tal do Augusto,
realmente, se aquele moleque não é playboyzinho, eu não sei se existe alguém no
mundo que o possa ser. –Davi falava enquanto apertava a campainha.
Ding-dong
A porta se abriu e de lá saiu uma empregada um tanto jovem,
o que era de se esperar, já que para se cuidar de uma casa daquela dimensão,
eram necessários funcionários jovens e enérgicos. A jovem trajava a já natural
veste de empregada, toda prata e branca, ela era uma garota morena de cabelos
curtos e tão escuros quanto seus olhos, com sua beleza e gentileza visivelmente
herdadas por sua árvore genealógica indígena a jovem empregada tratava com
cordialidade os dois rapazes.
-Pois não?-Falou a indígena, num tom calmo e suave.
-Nós viemos à procura dos... –Davi logo foi interrompido por
seu humorado amigo loiro.
-À procura de uma beleza tão genuína e rara quanto a sua
madame, poderia passar-me o teu facebook e celular? Qual a sua operadora?
- hi,hi.-Sem graça perante a um discurso tão enfeitado
quanto o de Daniel, a pobre empregada só conseguia responder com tímidas
risadas.
- Agora não, Daniel. Estamos à procura dos pais de Augusto
Rodin, o senhor e a senhora Rodin, eles se encontram no momento?
-Sim, sim. Esperem um minuto que já, já eu chamo meus amos.
-Certo, muito obrigado.
Neste momento, a porta se fechou e a jovem foi a procura de
seus chefes.
Pam
-Daniel, da próxima vez que você ficar paquerando qualquer
rabo de saia que você ver pela frente em quanto estivermos resolvendo um caso
eu juro que eu...-Neste mesmo instante a porta se abriu novamente, só que desta
vez, em vez da empregada, apareceu a mãe do rapaz que há poucos dias tinha sido
morto.
- Me desculpem garotos, esse não é um momento bom pra
visitas, se querem ver meu filho, saibam que ainda ontem ele...
-Nós já sabemos. -Disse Daniel. - É exatamente sobre isso
que viemos falar, seu filho está morto desde ontem, ele trocou balas com outro
amigo em plena sala de aula e desde ontem está na cena do crime para ser
analisado por especialistas, pois bem...
-Nós somos esses especialistas. –Interrompeu Daniel. - Somos detetives
juvenis e a pouco estivemos na cena do crime analisando o que foi que aconteceu
com seu filho, temos visto especial do governo para seguir em frente com esse
caso e gostaríamos de fazer algumas perguntas à senhora.
- Ah, que bom saber disso, por favor, entrem que eu vou
pedir que Lourdes, a empregada, prepare um café enquanto conversamos, quero
saber o que está acontecendo o mais rápido possível.
O interior da casa era igualmente grande e luxuoso quanto o
exterior. Enquanto os dois jovens seguiam para a sala de estar, precedida por
uma outra sala e um corredor que ficava ao lado do quarto do defunto, Daniel e
Davi observavam os detalhes da casa. Era impossível dizer a quantidade de obras
de arte únicas que estavam presas na parede, todas com assinaturas de artistas
famosos da atualidade, os estilos variavam do moderno ao barroco e as paredes
eram todas ornamentadas por uma centena de detalhes e cenas angelicais pintadas
a mão por alguns grande artista regional do qual os dois nunca tiveram contato.
Mesas de mármore, ventiladores de teto, mesinhas, estantes, armários, poltronas e cadeiras eram
apenas alguns dos milhares dos objetos importados, caríssimos e igualmente
belos espalhados pelo casarão.Ao se sentarem em volta de uma pequena mesa de
vidro, própria para um cafezinho matinal, na sala de estar, os três começaram o
diálogo.
-Então, senhora Rodin, poderia nos dizer se a senhora viu
alguma mudança aparente no comportamento ou até mesmo no vestuário e no modo de
falar do seu filho?-Perguntou Davi.
- Ele mudou muito, meu filho nunca teve uma vida muito
saudável, pelo menos não aos padrões da minha época de criança.Ele vivia
enfurnado no vídeo-game ou no computador, mas de um mês pra cá, desde que ele
começou a ter aulas de sociologia ele mudou e mudou muito.
-O que exatamente mudou no seu filho?-Continuou Daniel,
incitando a velha senhora a prosseguir com seu relato.
-Basicamente tudo. Ele, que já não passava pouco tempo no
computador, agora passava ainda mais, ele vivia falando coisas como:”a classe
burguesa é um mal para a sociedade” ou “luta de classes...”, eu já não lembro
ao certo tudo o que ele dizia, mas ele passou a ser um grande adepto da filosofia
de Karl Marx desde que o mesmo o foi apresentado nas aulas de
sociologia.Segundo ele, Marx era um herói, um exemplo a se seguir, alguém que
valia a pena morrer pelos seus ideais.
-Alguém que vale a pena morrer?...Muito estranho.- Pensava
Daniel em seu íntimo.
-Ele passava dias e noites inteiras sem falar com a família
apenas lendo sobre Marx, e a coisa só foi piorando, quando notei, ele tinha
virado um marxista maníaco.
-Entendo...Acho que existe muitas coisas para se analisar,
mas tenho que pensar com calma em casa antes de falar qualquer coisa-
Calculista, Davi suspeitava de que havia uma forma mais eficiente de saber a
verdade por trás do estranho comportamento daquele garoto.
-Então, senhora Rodin, seu filho tinha facebook?
-Sim, até mesmo eu tenho um facebook, mas acho que é muito
tarde para adicionar meu filho aos amigos...
-Não é exatamente essa a minha intenção, mas voltando ao
assunto, ele tinha um computador, tablet ou notebook do qual só ele usava?
-Sim, ele tem um notebook, por que a pergunta?
-É que receio que logo teremos que ir embora, e para
continuar a investigação em casa, eu gostaria de levar o notebook comigo, para
poder analisar o grau de envolvimento do seu filho com o marxismo para podermos
avaliar se ele realmente estava tão maníaco quanto a senhora afirma. –Disse
Davi.
- Vocês até podem levar o notebook se quiserem, mas como
farão para mexer nele? Ele só é ligado por meio de uma senha que só meu filho
sabia.
-Fique tranqüila senhora Rodin, é para isso que serve meu
parceiro. – Ao ouvir essas palavras vindas de seu amigo instantaneamente Daniel
sorriu com satisfação.
-Certo, podem pegar o notebook no quarto que está ali do
lado, está em cima de uma prateleira de livros.
- Muito obrigado senhora Rodin, seu testemunho será de muita
importância na investigação. -Finalizando assim o diálogo, Daniel e Davi
seguiram para o quarto de Augusto.
Mais duas horas se passaram e agora, na casa de Davi, ele e
Daniel estavam analisando o notebook do seu ex-colega.
- Já conseguiu entrar, Daniel?
- Calma, espera mais um pouquinho aí que eu já consigo, dois
minutinhos que eu resolvo isso aqui.
Daniel era um mestre com um teclado de computador em mãos.
Com esta máquina digital, ele já conseguiu até mesmo acessar contas bancárias
de criminosos para saber qual foi seu último saldo e assim tentar descobrir de
onde foi que ele roubou aquela quantia de dinheiro afim de ir ao local para
conseguir mais pistas sobre o paradeiro do mesmo.Com tamanha habilidade,
conseguir descobrir a senha do notebook de um adolescente qualquer era bico.
-Pronto, consegui. –Avisou o loiro.
- Beleza, agora entra na internet.
-Entrar na internet? Mas você não ia só olhar os arquivos do
not que falavam sobre Marx?
-Isso eu falei apenas pra não espantar a mãe dele, o que eu
quero mesmo é entrar no facebook daquele
moleque.
- Entrar no face?
-Exato, a maioria das pessoas que tem um notebook ou um
computador particular não se importam em fechar o facebook antes de desligar o
computador, já que é somente elas que usam o mesmo, logo, assim que entrarmos
no site do face, vamos estar adentrando a página inicial do face do Augusto.
-Concluiu Davi.
- Rá, entendi, você quer ver as conversas dele no face pra
saber se tem algo suspeito, certo?
-exato, então, vamos lá.
Eles ficaram por horas olhando as conversas do colega. Em
suma, no início, ou seja, nas conversas mais velhas, ele só falava de coisas
fúteis como futebol ou jogos de vídeo game. Ao correr do tempo os dois
detetives foram analisando as conversas mais recentes, de preferência, as que
ele tinha como interlocutor o amigo que também morreu em sala de aula. Já
passava da meia noite quando eles acharam o que procuravam: algo estranho e
fora do normal, eles só não esperavam que fosse algo tão grave assim.
-Ei, olha só isso Davi, finalmente achamos alguma coisa!
-Deixe-me ver!- Respondeu Davi ao seu amigo.
-Rodrigo Richard disse:
-oi, oi, é amanhã o grande dia, ta preparado?
Visualizada às 10:30 de
20/04/13
-Augusto Rodin disse:
preparadíssimo
Só to estranhando... vc naum falo q naum qria falar disso no
face?
Visualizada às 10:32 de
03/04/13
-Rodrigo Richard disse:
Sim, eu falei, mas agora nós podemos conversar a vontade por
q amanhã tudo acaba, ninguém poderá nos impedir, Marx estaria orgulhoso se nos
visse agora
Visualizada às 10:36 de
03/04/13
-Augusto Rodin disse:
Com toda certeza, amanhã vamos morrer pelos ensinamentos de
Marx e vamos levar mais duas da maldita classe burguesa conosco!
Visualizada às 10:40 de
03/04/13
Em direção da morte,
os dois amigos já em óbito, mostravam seu sorriso sádico e seu ódio macabro
pela sociedade.
3ª suspeita: Facebook assassino.
Era difícil imaginar o que se passava pela mente dos
detetives juvenis. Com apenas quinze anos ver dois de seus colegas simplesmente
combinando a melhor forma de se matarem mutuamente e levarem consigo mais duas
garotas. Até o momento, isso era simplesmente inconcebível.
- Deus do céu... Esses moleques são loucos. –Afirmou Daniel.
- Alguma coisa os levou a fazer isso. Nós vimos as outras
conversas deles aí mesmo e até agora eles era garotos normais. Como isso foi
acontecer? – Completamente absorto pelo que viu, Davi não conseguia achar uma
solução plausível para tamanho enigma.
Um silêncio tenebroso tomou o quarto de Davi. Os dois jovens
já tinham resolvido centenas de casos, desde descobrir o paradeiro de bandidos
famosos, até mesmo a evitar uma série de assassinatos em massa que seriam
orquestrados por terroristas mundialmente procurados, mas aquilo era um crime
de proporções enormemente diferentes. Além de se matar, os réus levaram mais
duas vítimas consigo, mas com que propósito? Qual motivo levaria dois rapazes
que mal começaram a vida a acabar com a mesma de uma forma tão inesperada? Era
um caso aparentemente sem resposta, o que não significava, de forma nenhuma,
que eles não tentariam achar as respostas para essa investigação. E quando a
pausa feita para pensarem estava quase os matando de tanto raciocinar, Daniel
novamente interveio.
- Espera... É isso!
- O que foi Daniel?
O loiro tirou o celular do bolso e se pôs a discar.
- Para quem você vai ligar?
-Gabriela.
-Gabriela? E você tem o número dela?
- Você acha mesmo que eu ia perder tempo com ela? Ontem
mesmo peguei o telefone fixo, celular, MSN, facebook e o blog, dela e de
Adriana
-Mesmo assim, já é meia noite e vinte. Acho que está um
pouco tarde pra você ficar paquerando ela por telefone não?
- Xiu, fica quieto que ela já está atendendo
Do outro lado da linha Gabriela dormia, estava exausta, pois
acabou de acordar ao ouvir o toque de seu celular, pôs o telefone na orelha e com muita
relutância atendeu ao chamado do amigo.
-alô, Daniel? O que você quer a essa hora? – Ela não estava
nervosa, mas o sono acabava completamente com seus modos.
-Oe gabi, desculpa incomodar a essa hora, apesar de saber
que eu nunca sou um incomodo, mas tem como você me dizer que dia da semana nós
temos aula de sociologia?
- Amanhã. Das quatro e vinte até as seis da tarde.
- Certo, obrigadão mesmo, beijo na boca.
- Besta, tchau.
Ao terminar a ligação Daniel mostrava claramente que estava
satisfeito com o resultado e ao olhar para o amigo percebia que ele nada entendia
ao ouvir a ligação.
- Beleza, temos aula de sociologia amanhã mesmo, vamos poder
tirar algumas dúvidas.
-Dúvidas? Mas ao que eu sei o professor nem marcou prova
nenhuma.
- Caramba, mas você é lerdo mesmo, né? Vamos tirar dúvidas
sobre o caso que estamos analisando agora- E falando isso, deu um tapa nas
costas de Davi.
- Não, eu não entendi. O que é que você vai descobrir na
aula de sociologia amanhã?
- Poxa, parece que eu vou ter que explicar mesmo, né? Tudo
bem, como não tem jeito mesmo... Raciocine comigo, o comportamento desse tal de
Augusto mudou, segundo a mãe dele, a mais ou menos um mês, certo?
-Certo.
-Pois bem – Continuou a explicação para o amigo de cabelos
castanhos. – É exatamente esse o período em que começaram as aulas, daí tudo se
encaixa.
- É, Daniel, eu finalmente
consegui chegar a uma conclusão.
-Sério?
-É, pode ter certeza que de duas é uma. Ou é o sono que está
afetando minha mente e eu não estou conseguindo entender nada, ou você ta
viajando na maionese e está falando coisa com coisa.
- Caraca, você é burro mesmo, viu? – Indignou-se Daniel-
Está tudo mais do que na cara. Na certa, com o início do ano letivo, Augusto
também passou a ver as aulas de sociologia junto com seu amigo e foi lá que ele
teve o primeiro contato com os ensinamentos de Marx, daí as coisas se encaixam,
por algum motivo eles passaram a ser adeptos maníacos pelos pensamentos do
filósofo e alguém na certa os levou a esse maniqueísmo louco ao ponto de fazer
com que ambos se matassem, com isso já fica na cara que nosso primeiro suspeito
só pode ser...
- O professor de sociologia. – Completando a frase do amigo,
Davi por fim entendeu o raciocínio de Daniel e estava convicto de que ele
estava mais do que certo. O próximo passo da investigação era saber qual era a
real índole do professor de sociologia.
- Está vendo, quando
você se esforça um pouco até mesmo com sono você pode manifestar um mínimo de
inteligência.
Juntos, os dois
amigos decidiram que Daniel dormiria ali mesmo, na casa de Davi, já que pelo
horário as ruas de Salvador estavam perigosas. Ao acordarem, estavam
determinados a investigar o professor de sociologia a qualquer custo, e se
houvesse algo de errado nele, eles descobririam na hora.
Às onze horas e trinta minutos da manhã os jovens, já
arrumados, desceram as escadas que ligavam o corredor do quarto de Davi e a
sala, se despediram da Mãe de Davi, pois sei pai já tinha ido trabalhar, saíram
pela porta da frente e pegaram o primeiro dos dois ônibus que eles ingressavam
para ir para a escola, Iguatemi.
Ás meio dia e quarenta os dois jovens chegaram ao seu
destino. Assim que chegaram avistaram Gabriela e Adriana e logo se apressaram
em saldar as amigas.
- Oi gabi, conseguiu
dormir bem depois que eu te liguei?- Perguntou Daniel.
- Fiquei com insônia pelo resto da noite e não consegui
dormir mais, sabe, eu adoro quando atrapalham o meu sono à meia noite por causa
de uma aula de sociologia.- Disse a ruiva em tom irônico.
- Desculpe a ligação de Daniel ontem à noite, Gabriela, mas
é que ele estava tão empolgado com a investigação que não podia esperar pra
hoje.-Davi explicou.
- E o que isso tem haver com a investigação?
- Muita coisa, Adriana, mas depois nós conversamos sobre
isso. Então, tem como me dizer o endereço da casa do outro garoto, o Rodrigo?-
Continuou Davi.
- Sim, tenho. Vocês vão lá agora?
-Não, primeiro vamos bater um papo com o professor de
sociologia.
E assim, com o passar do tempo, as quatro primeiras aulas se
foram e a tão esperada aula de sociologia se aproximava. O professor entrou na
sala, com um andar imponente e uma cara de poucos amigos e os dois detetives,
assim que o viram, trataram de examiná-lo. Ele era um homem alto, de físico um
tanto avantajado, usava uma camisa salmão justa e uma calça jeans com um par de
tênis da Nike. O homem mostrava em seu andar toda a sua imponência e o respeito
que desejava que tivessem para com ele. Com o início da aula o professor logo
se pôs a escrever alguns esquemas no quadro para que pudessem o auxiliar na
aula e assim que o viram, os dois jovens logo perceberam do que se tratava o
discurso que vinha a seguir.
- Hoje vamos dar seguimento à aula sobre Marx, weber e Durkheim.
Uma aula normal, um assunto normal a ser dado ao primeiro
ano e um discurso normal. Aquela aula que antes parecia ser a chave para todos
os enigmas guardados para aquela escola do nada foi reduzida a apenas mais um
dia com dois horários de sociologia, no entanto, ainda existia muitos fios
soltos nessa trama e os dois amigos fariam de tudo pra saber a verdade. A aula
terminou, todos estavam saindo da sala com o intuito de pegar o escolar, porém,
Daniel e Davi permaneceram no local e assim que viram que não tinha mais
ninguém na sala, começaram o interrogatório.
- Olá professor. – Davi se adiantou. – Gostamos muito da sua
aula e queríamos fazer algumas perguntas.
- Podem falar, mas sejam breves por que logo eu tenho um
compromisso do qual tenho que comparecer.
- Que seja. – Daniel interrompeu. – O senhor pode falar
sobre os dois alunos assassinos e suicidas que coincidentemente eram seus
aprendizes?
- Augusto e Rodrigo? Sim, eles eram bons alunos, viviam me
perguntando sobre o assunto, entendiam muito bem tudo que eu explicava e quando
levantavam a mão para dar a opinião sobre alguma coisa eles iam tão longe que
algumas vezes eu mesmo tinha que interrompe-los senão não conseguiria dar
continuidade a aula, eram dois maravilhosos alunos.
- Sério? O senhor por um acaso sabia que os dois morreram
gritando ”viva Karl Marx!”?- Daniel perguntou já com o intuito de abalar aquele
professor que mais parecia uma rocha impenetrável em seus mistérios.
- Onde querem chegar com isso? Acham que eu, de alguma
forma, influenciei os meninos a fazerem alguma coisa? Que provas vocês tem
disso?
- É mais do que evidente que alguém influenciou aqueles dois
a fazerem o que fizeram, e tomando base pelo que eles gritaram antes de morrer,
o senhor é o primeiro da lista de suspeitos. – Sem medo das injúrias que
estavam por vir, Davi iniciava seu julgamento.
- Isso é um absurdo! Eu sou um professor mais do que
renomado nas áreas sociais. Me formei na Inglaterra e vim para o Brasil para
fazer com que o grande Marx ajudasse ao menos um pouco aos meus jovens
contemporâneos, e o que recebo em troca? Uma investigação medíocre vinda de
dois moleques que mal saíram das fraldas. Não sou obrigado a responder nada do
que eu não quiser e é exatamente isso que eu vou fazer.
- Espera aí! – Daniel barrou o professor e tratou de tirar o
visto especial do governo para investigação do bolso.
- Isso aqui – Falou enquanto apontava para o visto. – É um
visto especial que nos permite interrogar qualquer um a qualquer momento em
nossas investigações. Somos detetives juvenis e não simples estudantes do
ensino médio, professor. Se não responder as nossas perguntas só vai levantar
mais suspeitas de que você é realmente o culpado por trás disso tudo.
- Calem-se! – imperativo, o professor gritou. – Eu sei muito
bem quais são os meus direitos, e tenho total consciência de minha inocência nesse
caso, não quero e não vou responder a nada do que perguntarem. Adeus. – E
falando isso se pôs a subir as escadas, passar pela porta e ir embora em
direção ao estacionamento onde pegaria seu carro.
Os garotos o seguiram com a intenção de ver se achariam, nesse curto percurso,
mais alguma pista que incriminaria o sociólogo. Ao chegarem lá, viram que
Adriana vinha correndo ao encontro dos dois.
-Davi, Daniel, venham ver.
- O que foi que houve?- Davi perguntou.
- Aquele homem ali – A loira apontou para um homem de preto.
– é o pai do Rodrigo. Ele veio aqui para poder levar o corpo do filho e
conversar com a diretoria sobre o ocorrido, é uma ótima oportunidade de
conversar com ele. Vamos logo!
Todos os quatro se põem em disparada ao ouvir o que Adriana
disse. Chegando mais perto daquele que supostamente era o pai de uma das
vítimas do massacre ocorrido no auditório, logo eles perceberam que aquele
homem não era apenas um senhor de preto, era um homem de classe. Aparentava ter
trinta anos, carregava em seus lábios um cigarro importado qualquer e trajava
um terno preto tão luxuoso e bem cuidado quanto seus cabelos penteados para
trás com o pigmento das trevas. Ele olhava calmamente para o corpo do filho que
estava, além de coberto por um largo pano branco, preso dentro de um caixão com
a frente de vidro (provavelmente usado com a intenção de prevenir que o mau
cheiro de carne podre se espalhe pelo ambiente) que possibilitava ver o rosto
encoberto pelo pano.
- Muito obrigado por todo o cuidado que teve para com o
corpo de meu filho e a investigação que já está providenciando no momento,
diretor, estou em eterno débito para com o senhor e se puder fazer alguma coisa
para ajudar eu o atenderei de muito bom grado.- Era incrível a forma sedutora
da qual aquele homem utilizava para falar, ele tinha classe, educação e modos
exemplares para qualquer pessoa ficar boquiaberta perante tamanha elegância.
Ao se virar, o homem de terno logo percebeu os quatro jovens
que ali estavam de pé a esperar a conclusão de sua conversa com o diretor para
iniciarem seu discurso.
- Boa noite, meus caros jovens. O que desejam?
-olá. – Disse Davi em tom seco – Nós somos detetives juvenis
– Falou enquanto levantava o visto especial do governo. – E viemos aqui para
interrogar o senhor.
- Interrogar? Mas eu sou o pai da vítima.
- Você poderia ser a pobre cabritinha doente e indefesa
dele, se fosse de proveito para a nossa investigação nós iríamos te interrogar.
O homem de preto deu uma leve e educada risadinha ao ouvir o
que Daniel disse, e fazendo um sinal com as mãos, pediu para que o diretor se
retirasse para que ele e os jovens pudessem conversar tranquilamente. De início
o diretor ficou um pouco relutante em sair do local, já que ele não gostava nem
um pouco daquela atitude imponente de “simples alunos”, mas como ele bem
conhecia a fama dos dois rapazes não tardou em voltar aos seus afazeres.
- Pois bem – disse o homem. – meu nome é John Richard, sou o pai do
Rodrigo. O que desejam com esse interrogatório, senhores?
- Nós fazemos as perguntas aqui, senhor Richard. – Daniel
tomou a frente. – O senhor poderia nos dizer se o seu filho apresentou algum
comportamento estranho antes da sua morte?
-Não sei lhes informar grandes coisas – John levou a mão ao
queixo – eu fico pouco tempo em casa, a maior parte do ano estou viajando a
trabalho, mas sempre que eu me encontrava com meu filho parecia estar tudo
bem.Sinceramente senhores, eu sou o pai da vítima, fui um dos que mais arcou
com as consequências desta tragédia, a forma com que vocês tem usado para falar
desde o começo deste interrogatório é muito deplorável, até parece que estão
tentando me culpar de algo.
-Senhor Richard, acho que não está levando a sério a
investigação – Davi afastou Daniel e ficou cara-a-cara com o homem. – não somos
crianças, já resolvemos mais casos do que o senhor é capaz de imaginar. Cada um
que se relacionou ou desejava se relacionar com a vítima é imediatamente um
suspeito nosso. Uma das garotas, inclusive aquela que foi morta pelo seu filho,
é filha de um chefe de uma empresa que é rival da sua, acho que seria
conveniente até que demais que a morte dela fosse causada pelas mãos do seu
filho, não acha?
Daniel ficou boquiaberto ao ouvir o que seu amigo disse, nem
mesmo ele sabia que seu parceiro tinha chegado tão longe em suas investigações.
- Huhuhuhuhu... – Em
resposta ele riu – admito que são muito sagazes e que não se deixariam enganar
fácil, afinal essa é a especialidade de vocês, descobrir o que os outros estão
fazendo ou fizeram, mas como acabei de falar eu passava pouco tempo com meu
filho e não tenho como dizer para vocês nada do que desejam.
-ESPERE!- Davi exclamou –Nós ainda não acabamos nosso
interrogatório, tenho perguntas a faz...- Daniel interrompeu a fala do amigo.
-Calma Davi, o “senhor Richard” não quer mais responder ao
interrogatório, nós já sabemos de tudo que precisamos saber e o escolar acabou
de chegar, vamos embora.
Sem pestanejar ou até mesmo entender a situação, Davi
decidiu seguir o conselho do amigo, confiante de que Daniel tinha uma carta na
manga ele subiu junto aos seus colegas no escolar indo embora no mesmo. Richard
também já entrando em sua negra e belíssima Mercedes quando pegou o celular e
fez uma misteriosa chamada.
-Sim, sou eu, como você avisou aqueles dois moleques já se
intrometeram, mas ainda não sabem de nada... uhum, sei... Certo, vamos deixar
uma bela lembrancinha para eles amanhã. Aumente a dose... Em breve este colégio
estará tingido de sangue.
E entrando no carro foi embora.
4ª Suspeita: "Sou seu assassino, zodíaco!"
Dia 10 de abril de 2013, quinta-feira, sol, Simões Filho,
IFBA, 9h30min da manhã.
De uma forma um tanto incomum, a sala de Davi e Daniel
estava presente na escola desde às oito horas na manhã. Chegaram ao instituto
assim tão cedo com o intuito de estudarem em conjunto para a tão temida prova
de física. Outro motivo que os levara a estarem presentes em tal lugar tão cedo
era a reposição da aula de educação física, o professor teve de se ausentar na
aula da semana passada por motivos pessoais e graças a isso marcou a reposição
da última aula para ás dez horas de hoje.
Passados dez minutos após o horário marcado pelo professor,
os alunos já estavam trajados a rigor (camisa ou camiseta, bermuda e calçado) e
já dirigiam-se para a pracinha que ficava ao lado do pavilhão administrativo. A
pracinha era o local favorito dos casais do IFBA, devido a sua beleza e ao
quase inexistente fluxo de pessoas por ela. Junto à praça, descendo como quem
vem pelo lado da portaria, existia a quadra e pouco depois dela a APA
Joanes-IPitanga, uma bela área de preservação ambiental que era preservada
tanto pela comunidade da Pitanguinha quanto pelos próprios estudantes do IFBA e
até mesmo alguns funcionários do instituto federal. Mais a direita também era
possível ver o anfiteatro, um teatro semelhante aos tetros gregos, um tanto
menor, lógico, teatro esse que era utilizado em diversas apresentações dos
projetos interdisciplinares de IFBA, como a semana de cultura ou consciência
negra. Era nessa pracinha que a aula seria lecionada, o professor de educação
física gostava muito de dar aulas em tal praça, já que a sombra de suas árvores
era reconfortante e sua brisa era magnífica, muito melhor do que a abafada sala
de educação física, ao menos era assim que ele pensava até hoje, até o dia em
que presenciou tal cena.
-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!- Uma das meninas gritou
assim que viu aquela carnificina.
-MEU DEUS, O QUE É ISSO?- Gritava um dos estudantes enquanto
tampava o nariz a fim de não sentir aquele cheiro horrível emanado pela carne.
-BLEEEEEEEEEEARGH- Uma terceira de estômago fraco vomitou de
tanto nojo.
Algumas garotas choravam sem nem mesmo saber por que o
faziam, talvez a cena fosse tão aterradora de forma que fosse impossível
segurar as lágrimas. O fato era: algo de muito errado aconteceu ali.
Oito corpos estavam pendurados por meio de cordas ao”teto”
que ficava atrás do anfiteatro. Todos mortos. O mal cheiro de sangue e carne morta vigiava o local.
Davi pegou na mão de um dos corpos, estava gelada. –Devem
ter morrido há algumas horas, não sei precisar quantas, mas não deve ter sido
há muito tempo, caso contrário o mau cheiro estaria bem pior.
- Professor, tire essa galera daqui. Não quero ver outra
garota vomitando de novo, de fedor o dos corpos já é mais do que o suficiente.
– Daniel aproximou-se dos corpos e fez sinal para que seus colegas fossem
embora.
Por mais que não desejasse obedecer a ordens de um
adolescente que tem metade de sua idade, o professor Arnaldo não tinha outra
opção, ele bem sabia da boa fama dos dois detetives, sabia que em toda a cidade
ele jamais acharia alguém melhor para avaliar o caso e mais do que tudo sabia que
eles tinham permissão dada diretamente pelo diretor para investigarem qualquer
anormalidade que ocorresse no IFBA, sem opção, fez o que Daniel lhe mandou.
-EI, ESPERE!- Gabriela gritou. – ESTAMOS AJUDANDO NA
INVESTIGAÇÃO, DEIXE-NOS FICAR! –Falava referindo-se a si e a Adriana.
-Por favor, professor, nós também fazemos parte da
investigação. –Insistiu Adriana.
-Elas falam a verdade, deixe-as ficar, professor! –Por mais
que estivesse centrado no caso Daniel não perderia a chance de voltar para sala
a sós com Gabriela.
Novamente a contra gosto o professor teve de obedecer às
ordens de Daniel. Os demais alunos estavam pasmados com a visão que acabaram de
ter, alguns jamais teriam coragem de voltar ao local, outros desejavam
desesperadamente saber o que aconteceu, mas nenhum deles voltou lá, tinham
total ciência de que se o professor os pegasse na certa seriam reprovados.
Os dois amigos estavam olhando para os corpos das vítimas
com uma concentração que Adriana e Gabriela jamais presenciaram. Davi estava
olhando em baixo das camisas de cada um dos cadáveres e quando chegou ao último
finalmente quebrou aquele silêncio aterrador.
-Oito corpos... Cinco negros, dentre eles duas meninas e
mais três brancos, também duas meninas e um rapaz, todos têm pequenos
ferimentos nas costas, sinal de que provavelmente foram arrastados por algum
local de chão irregular. Suas cabeças estão muito disformes, arrisco dizer que
foram mortos a apunhaladas.
-E que apunhaladas! – Concluiu Daniel. – Foi utilizada uma
força brutal em cada golpe, os rostos estão quase irreconhecíveis. Tenha medo de
quem fez isso, ou era um bruta montes daqueles ou era uma mulher na TPM , a
única coisa que sei é que quem fez isso estava com muita raiva...
- Ei, meninos!- Gabriela chamou os amigos. – Tem uma
suástica feita de sangue aqui, venham ver!
De fato existia tal símbolo feito com sangue na parede que
estava a uns cinco centímetros de Gabriela e Adriana e a uns quatro metros dos
rapazes.
Alguns dizem que a suástica, além de ter sido utilizada como
símbolo pessoal de Adolf Hitler na segunda guerra mundial, também era um sinal
comum nos rituais de magia negra e nas religiões neopagãs. Dizem que até mesmo
algumas estátuas de Buda possuem a suástica, símbolo este que está entre uma
das coisas mais misteriosas e sombrias da história da humanidade.
-Hum... – Daniel olhou o símbolo. – Isso é uma ótima pista,
ou o culpado por isso é um mago negro neopagão ou é alguma espécie de nazista
maluco.
-Olha só, alguns pingos de sangue fazem uma trilha que
começa nos corpos, provavelmente ela vai nos levar ao local onde o assassino os
matou. – Assim que falou isso Davi e os demais saíram correndo seguindo a
trilha de sangue.
A trilha ia seguindo sem problemas, o sangue não era muito,
mas era o suficiente para deixar claro que era o sangue das vítimas encontradas
há pouco. O sangue indicava para uma trilha que existia pela APA da escola, a
Joanes-IPitanga.
Por uns dez minutos eles ficaram andando com um pouco de
dificuldade de enxergarem a trilha, já que era mais difícil de se enxergar o
sangue na areia. Com o passar do tempo o mato fechava mais e mais, como um leão
que cerca sua presa, até que enfim eles chegaram a um local escuro, sombrio,
com galhos e arbustos que passavam por cima da cabeça de um homem alto, esses
galhos estavam tão entrelaçados que mal se podia ver a cor do céu quando se
estava em baixo deles. Galhos tão emaranhados que formavam um túnel, e em baixo deste túnel estava uma enorme poça
de sangue.
-Enfim chegamos ao local do crime. – Disse Daniel com
satisfação.
-Esses assassinos são muito burros, nem se deram ao trabalho
de limpar ou esconder esse sangue para não serem pegos. – Adriana abaixou-se
para ver o sangue mais de perto.
-Não, eles fizeram isso de propósito. –Davi corrigiu. – eles
querem que nós vejamos isso, caso contrário eles jamais iriam pendurar os corpos
numa praça pública e nem iriam pensar em desenhar aquela suástica de sangue,
quem quer que tenha feito isso não tem nenhum pudor de que saibam o que ele
está fazendo.
-Sim, mas a questão é: por que eles fariam isso?- Questionou
Gabriela.
-Arrá! Olhem só o que eu achei moçada! – Daniel estava com
um sorriso de orelha a orelha.
-Um pózinho branco?- Adriana aproximou-se.
-Não é um simples “pózinho branco”, isso aqui é cocaína.
Nossas vítimas foram drogadas, drogadas para serem mortas.
-Essa trilha que acabamos de andar é o chamado atalho, não
é? Se não me engano, o pessoal que anda por aqui sabe que este caminho é mais
rápido que o convencional para se chegar ao ponto de ônibus do Cia um, e também
sabe que este caminho é perigoso ao ponto de que a diretoria não permite que os
alunos andem por aqui, certo? – Davi perguntava aos demais.
-Isso mesmo, Davi. –Gabriela respondeu.
- Então, Gabriela, você sabe de algum caso como este que
tenha ocorrido com os estudantes que estiveram no atalho?- Davi continuava com
o interrogatório.
-Não, ao menos até onde eu sei. Eu sempre fui convidada a ir
pelo atalho até o ponto de ônibus com o pessoal lá da sala, especialmente
quando saíamos cedo por conta de alguma aula vaga, já que o ônibus escolar iria
demorar a chegar, mas eu nunca andei por aqui, Adriana não gosta desse lugar e
a fama do atalho não é boa.
-Certo, achou mais alguma pista, Daniel?- Davi dirigiu-se ao
amigo.
-Não, Davi. Acho melhor chamarmos uma analista para dar uma
olhada melhor nos corpos.
- É Daniel, acho que não tem jeito não, vamos ter que ligar
para a Clara. – Era perceptível que daqui achava graça de mencionar esse nome
na presença do amigo.
- Não me fale dela, por favor... Esse nome me dá dor de
cabeça... – Daniel fez cara de zangado.
-Quem é essa tal de Clara? – Perguntou Gabriela.
- É uma longa história, depois eu falo sobre isso, vamos
voltar pra sala por que essa tarde promete. – Davi e os demais voltaram para o
pavilhão estudantil.
_______________________________________________________________________
-Por favor, expliquem-nos o que está acontecendo.
-Eu nunca mais quero ver aquilo... NUNCA MAIS!....
-Quem é o culpado por isso?
-É verdade que vocês são detetives?
-Nós estamos corremos perigo?
Daniel e Davi estavam agora no meio do corredor do pavilhão
acadêmico. Essas (e mais uma centena de) perguntas os cercavam por todos os
lados, a comunidade estudantil estava inquieta, todos queriam saber o que
estava acontecendo. Os dois jovens estavam aflitos, não queriam responder a
pergunta alguma por que isso somente causaria um pânico sem sentido trazendo
enormes obstáculos para a continuidade da investigação.
-Calma pessoal. Nós
temos tudo sobre controle... –Davi disfarçava um sorriso.
-É isso aí galera, não podemos falar nada agora, mas logo
pegaremos o culpado por tudo isso!- Com sua imensa autoconfiança Daniel tentava
acalmar a todos.
-EU TENHO O DIREITO DE SABER A VERDADE, DIGAM LOGO O QUE
ESTÁ ACONTECENDO!- Furioso um dos estudantes do segundo ano gritava com todas
as suas forças.
-ISSO MESMO, QUEREMOS RESPOSTAS!-Um segundo jovem apoiou seu
colega.
O clima ficou tenso e pesado, e ao contrário do que Daniel
pensava a situação estava fora de controle, todos estavam desesperados, Davi já
não sabia mais o que dizer para acalmar a multidão e seu amigo já estava pronto
pra entrar numa briga, Adriana e Gabriela temiam pelo que aquela situação
poderia gerar. O caos estava espalhado, a fúria semeada naquelas jovens mentes,
e o desespero... Reinava. Tudo estava pronto para explodir quando uma luz
surgiu em meio daquela tormenta.
-Relaxa, galera. Eu bem conheço a fama de Daniel e Davi, são
ótimos detetives. Já temos um suspeito em potencial e estamos para pegá-lo, a
polícia está conosco e teremos todo o apoio necessário para acabar com isso de
uma vez por todas.
A voz que surgiu para acalmar os corações dos que ali
estavam vinha de um calouro ruivo, com um belo par de olhos verdes que
transmitiam confiança.
Ao ouvirem as palavras daquele jovem os demais estudantes
pararam de questionar os dois detetives, e com mais dez minutos de conversa
logo voltaram para a sala.
A dupla de investigadores estava impressionada com a perícia
que aquele jovem de cabelos cor de sangue
demonstrava ao acalmar seus demais colegas de escola, no entanto, era
mais do que suspeita a forma que ele utilizou para conseguir acalmar a todos,
onde afinal ele pôde ter conhecido os dois detetives? E mais, como ele acredita existir um suspeito
que nem mesmo Daniel e Davi conseguiram achar? Existiam demasiadas pontas
soltas nessa história.
- O maiores detetives juvenis da história, Daniel e Davi...
É uma honra conhecê-los. - Falava o jovem ruivo.
- E quem diabos é você? Como nos conhece? – Como de costume
Daniel foi simples e direto.
-Ah, desculpe, esqueci-me de me apresentar. Meu nome é
órion, órion Barbosa, sou dono de um blog chamado “casos sinistros”, lá eu falo
sobre crimes reais e incomuns. Eu conheço vocês por que já li muito sobre todos
os casos que já resolveram juntos,
inclusive o mais famoso, aquele que foi o primeiro de vocês, o caso do...
-Sim, nós já entendemos, onde você quer chegar com isso?-
Davi interrompeu fazendo cara de poucos amigos,
-Cara, eu sou muito fã de vocês, sempre foi meu sonho
participar de uma investigação com vocês dois, assim que eu soube que vocês
estudavam aqui eu estava disposto a aju...
-Você não vai nos ajudar nas investigações, isso não é um
jogo, moleque. Nós fazemos o que fazemos por que já estávamos nesse mundo mesmo
sem querermos, e elas só nos ajudam –Daniel apontou para as duas amigas. – Por
que estão sendo úteis e uma amiga delas morreu em um caso que ainda não
terminamos.
- Ah, cara, qual é? Deixe-me ajudar, garanto que vou ser
útil, até já tenho um suspeito em especial para esse caso e era dele que eu
estava falando há pouco.
- E quem seria esse suspeito?
-Até onde sei, os corpos das vítimas estavam com os rostos
tão fraturados ao ponto de estarem quase irreconhecíveis, certo? Bem, uma
suástica foi desenhada com o sangue das vítimas do anfiteatro, certo? Daí já dá
para criarmos algumas hipóteses. Primeiro, o assassino tinha algum motivo para
matar suas vítimas para tê-las executado de forma tão brutal, o que indica que
não é um “simples” serial killer, o criminoso tinha algum motivo muito forte
para fazer aquilo, algo mais forte do que o simples desejo de matar. Segundo, a
suástica, ela é uma pista muito importante nesse caso, o assassino, ou o grupo
de assassinos, davam muita importância para aquele símbolo, para o que ele
representa, nisso já podemos tirar algumas conclusões...
- O assassino tem ou é simpatizante com ideologias nazistas!
– Adriana não acreditava que o assassino fosse envolvido com religiões
neopagãs, falando assim apenas da única alternativa que considerava plausível.
-Além de nazista ele pode ser um bruxo ou neopagão, se for
esse o caso podemos esperar por mais mortes, por que aquilo que fizeram seria
um ritual e rituais acontecem de tempos em tempos, é um evento periódico.
Acredito que ele fez a suástica e deixou os corpos expostos na praça como parte
de um ritual ocultista ou como forma de propagar suas ideologias. – Concluiu
Órion.
-É, tenho que admitir que você é bom, mas ainda é cedo para
dizer que está dentro do grupo. Pode nos ajudar se quiser, mas fique ciente de
que qualquer deslize e você cai fora! –Disse Daniel.
*HIROGARO YAMI NO NAKA KAWASHIATTA KAKUMEI NO CHIGIRI
DARE NI MO JAMA SASERU WAKE NI WA IKANAI KARAAAAA...* (música the world, death
note)
-Ei,
Davi, não é o seu celular tocando? – Daniel avisou o amigo.
- Ih, é
mesmo, espera um momento que eu já... Epa, número desconhecido?
Uma
aura estranha tomou conta do ar, Gabriela estava com um mal pré-sentimento.
Davi pegou o celular, atendeu e colocou na orelha, todos ficaram calados. Davi
começou a falar.
-Alô?
-
“Alô?” – Uma voz horrível e medonha, quase que desumana, atendeu do outro lado
da linha.
- Aqui
é Davi Oliveira. Quem fala?
-“Quem
fala?” hu,hu,hu... Quem fala aqui do “outro lado” é o cara da suástica... sou o
seu assassino... Meu nome...
...”É zodíaco”...
E assim a sétima trombeta foi
tocada.
5ª suspeita: Calourosa IFest
Dia 10 de abril de 2013, quinta-feira, sol, Simões Filho,
IFBA, 11h00min da manhã.
“-...Sou seu
assassino... Meu nome é...”
...”Zodíaco.”
O celular de Davi estava no viva-voz e todos os que
escutaram isso ficaram paralisados.
Um assassino que liga para seus inimigos dizendo seu nome,
revelando seu segredo mais íntimo como criminoso:sua identidade, aquilo era no
mínimo estranho.
Ninguém sabia o que dizer perante aquela monstruosa voz,
todos estavam pálidos, as meninas, Adriana e Gabriela, suavam frio, Daniel e
Órion estavam Boquiabertos, Davi estava congelado.
-Para provar que sou quem digo ser vou relatar como foi meu
último assassinato.
Era uma noite de terça-feira, por volta de umas dezoito
horas, ah, como o céu estava lindo naquela noite, alua parecia desejar sangue.
Convidei alguns estudantes para irem comigo até o Cia pelo atalho. Andamos por
cerca de uns vinte minutos, eu não via a hora de matá-los. Escondi-me deles, e
assim que percebi que eles já não me viam pensei em sair correndo por uma rota
alternativa mais rápida que o atalho a
fim de matá-los no fim do caminho que o atalho conduz, mas como acabei de dizer
eu apenas pensei em fazer isso, pois vi algo interessante antes de sair
correndo. Os estudantes estavam usando drogas, cocaína. Fiquei escondido por um
tempo, mas quando vi que todos já estavam sobre o efeito das drogas eu me
revelei me matei a todos sem dificuldade.
Sinceramente, não teve graça nenhuma matar aqueles idiotas, seria mais
interessante se eles não tivessem utilizado drogas e eu pudesse ter a
oportunidade de colocar meu plano principal em prática, teria sido uma ótima
caçada. Fiquei furioso com isso, descontei toda a minha raiva naqueles crânios
de merda, tirei uma barra de ferro de dentro de minha mochila e dei um golpe em
cada um deles com força suficiente para deixá-los desacordados, depois disso
veio a melhor parte de toda essa merda, bati nos crânios deles até os esmagar,
bati com toda a minha força. O trabalho estava feito, mas faltava algo para dar
um belo ponto final ao meu serviço, arrastei os corpos até a parede do
anfiteatro e os amarrei pela cabeça no teto de lá. Por fim, tive a ideia de
fazer uma bela suástica de sangue para deixar como lembrança de meu trabalho,
adentrei minha mão na cabeça do primeiro e...
-Muito bem... – Davi estava chocado com o que tinha acabado
de ouvir, mas logo tomou fôlego para voltar a falar. – Não tenho mais dúvidas
de que você é o assassino, mas por que está ligando pra mim? Como descobriu meu
número e como me conhece?
-Estou ligando pra você... – A horrenda voz deu seguimento
ao seu maquiavélico discurso. - ... Por que quero deixar meu trabalho mais
divertido, mais interessante. Quero disseminar o terror, o pânico, quero que
todos vejam que os maiores detetives juvenis da história nada puderam fazer
para me pararem. Conheço vocês por conta de um informante e sei seu número por
causa do mesmo. Tenho algo para dizer a vocês.
- O que é?- Dvi começou a se irritar.
- No próximo fim de semana acontecerá aí no seu colégio o
calourosa ifest, a festa que recepciona os calouros deste e de outros campi do
IFBA, inclusive virão para cá pessoas desses outros campus para cá justamente
por conta desta festa, pois bem, lá eu farei minha próxima vítima. Ela é uma
bela loira, uma estudante, vou matá-la enquanto admiro sua bela expressão de
dor e de medo da morte.
- DESGRAÇADO! QUER TANTO ASSIM QUE PEGÊ-MOS VOCÊ?- Gritou
Daniel com fúria.
- Vocês não vão me pegar, o zodíaco nunca acabará, só estou
revelando meus planos por que assim as coisas ficam mais interessantes. Querem
me pegar? Pois tentem...
TU-TU-TU-TU...
O assassino desligou.
-DROGAAAAAAAAAA!-Daniel deu um soco na parede. – Eu juro por
tudo que é mais sagrado que eu vou pegar esse maldito custe o que custar.
-Calma Daniel. – Davi tentava acalmar o amigo – Vamos tentar
usar essa ligação ao nosso favor, esse cara, o zodíaco, é o assassino que
procuramos, não tenho dúvidas quanto a isso e não estava blefando quando admiti
esse fato. Ele é bom no que faz, mas nós somos melhores, com certeza vamos
pegá-lo.
-Beleza galera, mas antes de tudo acho que devemos saber
quem será a próxima vítima. – Concluiu Órion. –Se o que ele falou é verdade
certamente ele vai matar essa loira, ela deve ser alguém próxima de vocês dois,
já que o assassino provavelmente quer os atingir com isso, e como a festa é exclusiva do IFBA
provavelmente é alguém que estuda aqui. Arrisco dizer que essa loira seria...
-ADRIANA? – Gabriela assustou-se. – Está querendo dizer que
esse assassino está mirando a minha amiga?
-Faz sentido. – Disse Davi. – Se for esse o caso é melhor
ela nem vir para a calourosa.
-Não, é melhor que ela venha, nada nos garante que o
assassino fala a verdade. O zodíaco é muito sagaz, ele pode ter imaginado que
chegaríamos a essa conclusão e tentaria matar Adriana dentro de sua própria
casa. –Um tanto mais calmo, Daniel levantou em questão o que Davi falava.
- E o que eu vou fazer pessoal? – Adriana estava quase
chorando, estava em pânico.
-Primeiramente faça de tudo para seus pais saírem nesse dia,
mas não diga nada a eles sobre o assunto, pois eles podem entrar em pânico e
não é isso que queremos, como meu pai é policial vou pedir para ele ficar
atento a qualquer movimentação estranha que haja em sua casa por esses dias,
tente ficar tranquila. Venha para a festa, nós vamos protegê-la. Daniel, vamos
ter de trazer “aquilo”. – Disse Davi.
- Sim, eu sei. – Daniel correspondeu.
Adriana fez sinal de que ia perguntar o que é “aquilo”, mas
Gabriela a parou, ela sabia que se a dupla de detetives estava se referindo a o
que quer que fosse como “aquilo” é sinal
de que eles não querem dizer do que se trata. Ela já confiava muito nos dois,
sabia que se não queriam dizer algo é por que seria melhor que não dissessem.
Dia 13 de abril de 2013, sábado, sol, Simões Filho, IFBA,
14h35min da tarde.
Os quatro amigos (Daniel, Davi, Gabriela e Adriana) chegaram
ao IFBA juntos, já que eles marcaram de pegarem o ônibus todos juntos em frente
ao shopping Iguatemi no bairro de mesmo nome.
-Eu sei que você não vai gostar disso, mas eu liguei pra
Clara, ela falou que vem hoje para nos mostrar os resultados da análise que
elas fez nos corpos. – Davi estava com uma bermuda xadrez, uma camisa preta do
Sherlock Holmes e um belo par de sandálias de couro.
-Certo, só espero que as coisas não se compliquem ainda
mais... – Com uma bermuda jeans preta, uma camisa rosa estrelada e um par de
percatas também pretas, Daniel falava com cara de preocupado.
-Quem é Clara? – Gabriela estava com o cabelo solto, estava com um maravilhoso vestido multicor
que ganhou de aniversário e fazia cara de poucos amigos.
- Está com ciúmes, é? – Adriana tentava fingir que estar bem,
mas estava claro que ela era a que estava mais nervosa de todos os quatro. Seu
celestial vestido branco era lindo, mas sua expressão era horrível.
-EI, DAVI, DANIEL!- De camisa polo vermelha e bermuda jeans
preta Órion chamava os amigos que acabara de ver. - E aí, tudo bem, galera?
- Tudo certo. Algo estranho aconteceu?- Davi perguntou.
-Não, até o momento nada, mas tem uma garota procurando por
vocês ali.
Órion apontou para a tal garota. Com um sorriso de desafio e
um olhar sedutor, aquela linda garota de cabelos negros olhava para os
detetives. Seu belo corpo estava ornado por um vestido azul celeste enfeitado
por centenas de delicados detalhes e babados brancos.
-Olá, Daniel, Davi, como vão?- A garota de cabelos negros
perguntou.
-Vou bem, obrigado. – Respondeu Daniel com uma cara
amarrada. – Não esperava vê-la tão cedo, Clara.
-Calma, Dani. Não precisa ser tão grosso. – Antes que Davi
pudesse responder a sua primeira pergunta Clara já iniciava sua conversa com
Daniel.
-Depois que nós terminamos você nem quis conta comigo, foi
Davi te chamar e você veio correndo, e você ainda vem me pedir pra não ser
grosso?Por favor... – Daniel deu a primeira alfinetada.
-Heloo, eu não vim só pra ver o Davi, vim pra te ver também,
sem falar que estou aqui pra lhes fazer um favor. Foi por causa desse teu ciúme
besta que eu te pedi um tempo.
Com o passar do tempo a conversa ficou apenas entre clara e
Daniel, os demais começaram a conversar entre si mesmos. Gabriela sempre dava
uma olhada de leve, mas não ousava entrar na conversa do ex casal. Daniel
sempre que podia olhava para Davi como quem pede por ajuda para lidar com a
situação, desde que ele pôde ser chamada de ex-namorada falar com Clara sempre
o deixava nervoso, o que ajudava era que o papo
entre eles já estava mais calmo, mais tranquilo, já estavam falando
sobre coisas do dia-a-dia com direito as casuais piadas infames de Daniel. Davi
tinha percebido as olhadelas do amigo, mas ele nada podia fazer, estava
conversando com Adriana, que inclusive nem dormiu na noite passada de tão tensa
que estava, ele estava tentando acalma-la, estava tentando fazê-la esquecer de
todo esse papo de assassino e zodíaco, se ele fosse ajudar o loiro sabia que
não conseguiria manter Adriana calma e no momento ela era a prioridade.
O tempo passou, o anfiteatro, que finalmente estava cheio,
já tinha recebido duas bandas, uma de pagode e outra de reggae, agora estava
subindo no palco uma banda de rock ali do campus Simões Filho mesmo, os
selváticos na terra do dengo, uma banda composta por alunos e ex-alunos do IFBA
que fazia um belo som. A conversa do grupo de investigação ia se alongando e os
selváticos já estavam em sua última música intitulada “o poeta chora”, assim
que terminaram de cantar começaram a arrumar as coisas para saírem do palco e
darem lugar a uma banda de samba do IFBA de Salvador, campus Barbalho.A quarta
banda já estava pronta para tocar, quando, de repente, ouve-se um grito.
-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
-O QUE FOI ISSO?- Gritou Daniel.
-U...um assassino...e-e-e-ele matou minha amiga e está
fugindo.- Disse a garota que gritara a pouco.- OLHEM, ELE ESTÁ ALI!
-Vamos lá, Davi! Clara, cuide de Adriana e Gabriela, Órion,
fique com elas.- Disse Daniel.
-Certo! - Clara e Órion responderam em uníssono.
-ESPERA DANIEL! NÓS PODEMOS AJUD...- Gabriela estava aflita.
-FIQUEM AÍ!- Gabriela assustou-se com a resposta que Daniel
lhe deu antes de sair correndo.
O assassino estava em
disparada, e ao invés de ter feito sua fuga pelo portão dianteiro ele decidiu
ir pelo portão que estava no fundo da escola a uns trezentos metros do
anfiteatro. O portão, como de costume, estava fechado, já que a estrada que vem
depois dele é perigosa e deserta. O assassino, um homem alto, careca e branco
teve um pouco de dificuldade em pular aquele portão, ele apoiou-se no teto de
uma pequena salinha que estava junto ao portão (salinha esta que muito
provavelmente servia de abrigo para o guarda do local). Colocando o dedo em uma
das brechas e tomando impulso a partir de tal manobra ele conseguiu saltar o
portão saindo correndo logo após obter êxito em sua investida.
Daniel e Davi estavam correndo logo após o Zodíaco, ainda
não tinham pulado o portão quando viram o corpo da garota assassinada estirado
no chão, como não viram sangue concluíram que ele tinha sido enforcada, mas não
pararam para ter certeza, até por que por mais que aquela visão fosse horrenda
a prioridade agora era pegar o bandido. Com metade do tempo que o criminoso
levou para pular o portão os dois amigos repetiram o salto e caíram dando uma
pirueta, evitando assim machucados ou contusões. Daniel já fez Le parkour
quando estudava em seu antigo colégio e Davi era ótimo fazendo manobras de
skate e melhor ainda passando por obstáculos sem ele. Com mais dois minutos de
uma corrida desenfreada os detetives avistaram seu alvo.
- Se não o ferirmos antes de pegá-lo vamos ter problemas,
aquele cara é uma bola de músculos ambulante, mesmo usando nossa carta na manga
vai ser difícil segura-lo, um deslize e nós dançamos. – Disse Daniel.
-Não esquenta! – Davi tirou um revolver da mochila – minha
mira é ótima mesmo correndo e é por isso que essa coisa aqui é nossa carta na
manga. – Falou enquanto apontava para a arma.
Davi avistou na beira da estrada algumas árvores que estavam
bem do lado em que o Zodíaco estava correndo. “É isso!”, pensou, Davi disparou
na direção de um grande galho de uma árvore que estava a alguns metros do
Zodíaco, que em sua corrida desenfreada nem percebeu o grande galho caindo bem
em cima de sua cabeça.
CRAAAASH
O assassino caiu dando um urro de dor e enfim Daniel e Davi
o alcançaram.
-Te pegamos, Zodíaco!- Falava Davi enquanto apontava a arma
para o vilão.
- Desgraçado, vai pagar por tudo que fez! – Disse Daniel.
-NUNCA!- Gritou o Zodíaco – O ZODÍACO NUNCA MORRERÁ!- Ele
retirou dois chips celulares de seus bolsos e mordendo-os, os estraçalhou.
-PARE COM ISSO! ESTOU AVISANDO, PARE OU EU VOU ATIRAR!-
Definitivamente Davi não estava blefando.
-SIM, PARE OU... ELE VAI ATIRAR!- Concluiu Daniel.
-O ZODÍACO NUNCA MORRERÁ... - O bandido mordeu sua própria
língua- ...
NUNCA!- E falando
isso ele selou seu destino cortando sua língua em dois.
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-Merda...- Disse Daniel- Suicídio, por essa eu não esperava.
-Certo, agora para de reclamar e me ajuda a carregar esse
corpo, lembre-se de pegar o outro pedaço da língua também, isso vai provar que nó
não o matamos. - Assim que terminou de falar Davi pegou o homem pelas pernas.
Com vinte minutos de uma boa caminhada e muito esforço para
levantar aquele corpo enorme sobre o portão, finalmente Daniel e Davi tinham
voltado para o anfiteatro. Assim que chegaram todos que estavam presentes foram
ver o gigantesco corpo do malévolo Zodíaco, agora morto. A dupla de detetives
não disse a verdade quanto à forma que utilizaram para pegar o brutamontes, não
queriam que todos, em especial Adriana e Gabriela, soubessem que eles estavam
armados. Ao invés disso inventaram uma história qualquer em que diziam que o
bandido machucou-se seriamente assim que pulou do portão, não agüentando correr
muito, vendo que não existia escapatória o bandido cometeu suicídio.
Enfim aquela história toda de Zodíaco havia acabado,
deixando pontas soltas, claro, mas os detetives logo dariam um jeito de unir
essas pontas, afinal de contas esse era o trabalho deles. Tudo parecia voltar
ao normal e depois de uma tarde tão agitada todos decidiram ir para casa.
- Graças a Deus, acabou.- Disse Adriana, aliviada.
-Assim que chegar em casa vou tomar um bom banho, depois
dessa aventura toda estou precisando esfriar a cabeça.- Por mais louco e pesado
que tenha sido esse dia Gabriela ainda tinha forças para sorrir.
-Foi simplesmente incrível, espero poder vê-los em ação
novamente.- Órion referia-se aos feitos da dupla de detetives.
-Ora, ora, meu caro Órion, isso não foi nada de mais, já fiz
coisas extremamente mais difíceis e complexas do que esta simples corrida,
houve uma vez mesmo em que eu...- Daniel foi interrompido pelo vibrar de seu
celular vindo de seu bolso.- Só um minuto galera... Número desconhecido?
Todos ficaram como congelados, o tempo parou para eles, a
última ligação de um número desconhecido que eles haviam recebido foi para
proceder um assassinato, Adriana começou a passar mal e o restante suava frio,
Davi estava com a pupila tão dilatada que mal podíasse vem ela em seus olhos.
Como que quebrando um encanto maligno Órion começou a falar.
- Calma aí galera, vai ver é só um amigo ou um trote atende
aí pra ver o que é, Daniel.
Relutante, Daniel enfim apertou na tecla verde e colocou o
aparelho na orelha- A... Alô?
-Tenho um recado para você...- Uma voz horripilante e
desconhecida respondeu ao rapaz.
-U... U... Um recado?- Perguntou o loiro?
-Sim, queria avisar para vocês não ficarem muito felizes,
pois o Zodíaco... Está vivo.
6ª suspeita: casal suspeito
Dia 13 de abril
de 2013, sábado, nublado, Simões Filho, IFBA, 17h23min da tarde.
-Queria
avisar para não ficarem muito felizes, pois o zodíaco... Está vivo.- Dizia a
monstruosa voz.
-DESGRAÇADO!
O QUE DIABOS VOCÊ QUER?- Daniel teve um ataque de raiva do outro lado da linha.
-Só quero
deixar as coisas mais interessantes, meu caro amigo. A polícia não pode me
pegar e por mais que eu tenha certeza de que vocês não conseguirão fazê-lo vou
continuar a brincar com vocês, pois assim as coisas ficam mais interessantes.
Sabe, eu
tenho um prazer imenso em matar pessoas, é mais divertido que matar animais e
bem mais prazeroso do que qualquer besteira que estejam pensando agora, pessoas
são inteligentes, oportunas, diferentes, caçar pessoas é o melhor tipo de caçada
que existe e é mais divertido ainda quando temos obstáculos interessantes, e
vocês são esses obstáculos, sua obrigação é nos entreter, deixar as coisas mais
difíceis, e pra tudo ficar mais divertido ainda vou lhes contar qual será nosso
próximo passo,, pois ele será o mais bacana de todos, mas para que nosso jogo
dê certo é necessário que o atual número de estudantes da sua escola não
diminua muito, queremos muitos espetadores no nosso show, por isso vamos
começar a caçar todos os que saírem da escola com medo de serem mortos a partir
de agora, avisem isso para a diretoria e para os demais, se eles nos
desobedecerem só causaram mais mortes, no momento vamos dar uma pausa nos
ataques, assim fica mais interessante, vai ser um ataque triplo e muito bem
bolado, vocês não perdem por esperar.
Até nosso próximo jogo, divirtam-se
tentando inutilmente nos pegar. Bye.- E falando isso o monstro desligou.
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Daniel
estava morto de raiva, assim que a ligação com o zodíaco terminou ele quase
jogou o celular no chão, o que ele teria feito caso não viesse a se lembrar do
tiro no bolso que o mesmo lhe custou.
Poucos
minutos depois daquela enigmática ligação a polícia chegou ao local. Eles
fizeram algumas perguntas aos rapazes, e os levariam para a delegacia a fim de
começar um interrogatório ainda maior caso já não conhecessem os rapazes e
confiassem nos mesmos. Cinco minutos de conversas com os homens da lei e os
detetives foram liberados.
Todos
estavam tensos, sem ação, até que Daniel sugeriu que todos fossem ao shopping,
não para divertirem-se, mas sim para discutirem tudo o que tinha acontecido até
o momento. Quarenta minutos depois e lá estavam eles no salvador shopping, mais
especificamente na livraria cultura, comendo um lanche para relaxarem. Assim
que terminaram de comer começaram a discutir.
-Foi mal
ter chamado vocês para discutirem sobre o zodíaco justo aqui no shopping, mas se fôssemos para a casa de alguém com
certeza o dono ou a dona da casa iam ficar preocupados ao ouvirem o que vamos
falar, sem falar que depois de toda essa aventura doida conversar no meio da rua
ou no IFBA mesmo está fora de cogitação, pensei em virmos pra cá por ser um
local calmo onde pudéssemos relaxar.- Dizia Daniel- Muito bem, vou começar
falando sobre a conversa que tive com aquele maldito de agora há pouco.
Daniel
disse aos amigos tudo o que o zodíaco lhe falou ao telefone em detalhes, ele
decidiu falar sobre isso apenas agora por conta de que estava muito nervoso para
comentar sobre isso no instante e que a
ligação acabou, até agora tudo o que os demais sabiam era que o criminoso havia
ligado para Daniel,.
Após trinta
minutos relatando sobre o que aconteceu e xingando o assassino, enfim Daniel concluíra
seu discurso.
-... E
depois disso ele desligou o telefone.- Disse o loiro.
-Certo,
vamos colocar a cabeça no lugar agora e parar para raciocinar.- Davi iniciou o
debate.- O que sabemos até agora?
-Quem ligou
para mim era uma mulher, e não estamos enfrentando uma só pessoa, mas toda uma
quadrilha ou organização.- Respondeu Daniel.
-Essa coisa
de organização faz sentido.- Gabriela dava sua opinião.- Segundo o que Daniel
nos relatou o zodíaco referia-se a si mesmo como "nós" e não como
"eu", só não entendo por que ele não disse isso antes, já que ele nos
dá tantas dicas de como pegá-lo. Só não entendo por que você acha que o zodíaco
que te ligou era uma mulher, Daniel.
-É simples.
Primeiro, o tom de voz do zodíaco que me ligou era mais fino que o do zodíaco
que ligou para Davi, o que também é outra prova de que tem mais de uma pessoa
envolvida nisso. Ele pode estar usando algum aparelho para modificar a voz, mas
mesmo assim está claro que sua voz era mais fina do que a última ligação. Segundo,
a forma que o zodíaco que me ligou falava era claramente feminina, homens
geralmente não falam "bye" quando terminam uma ligação, falam?
-Gostei de
ver.- Davi deu sinal de positivo.- O próximo passo é saber o número de pessoas
que está envolvida nisso. A priori eu diria que são oitenta e oito, por conta
do nome da organização ser zodíaco e de existirem oitenta e oito constelações
em nosso zodíaco, o que faria todo o
sentido se não fosse o fato do número ser
muito grande para uma organização de assassinos, são raras as vezes em que tantos deles se
unem e mais raro ainda em se tratando de assassinos inteligentes como os do
zodíaco. Doze deve ser um número mais razoável, pois é o número de constelações
de nosso horóscopo e do horóscopo chinês.
-Sem falar
que provavelmente eles estão trabalhando para alguém.- Daniel veio com sua nova
suposição.- Quando recebemos a primeira ligação deles enquanto o zodíaco falava
de seus crimes duas vezes ele referiu-se a eles como "trabalho" e
"serviço", o que indica claramente que eles estão fazendo isso a
serviço de alguém.
Adriana,
Gabriela e Órion estavam impressionados com o que acabaram de ouvir, em poucos
minutos os detetives conseguiram descobrir que seu algoz era toda uma
organização, conseguiram levantar o número de participantes da mesma, e
concluíram sua hipótese dizendo que eles trabalham para alguém, a inteligência
dos dois jovens era digna de aplausos.
-Hu, hu,
hu- Risadas de satisfação vinham de Clara.- Engenhosos como sempre, acho que
vocês devem estar certos. No entanto, existe outro fator que vocês devem
analisar. Quando vocês me pediram pra fazer uma análise dos corpos das oito
primeiras vítimas da semana passada eu as levei ao laboratório e fiz o que
pediram , tudo estava normal no corpo daqueles estudantes, com exceção das
cabeças estraçalhadas, cocaína em grandes quantidades e uma espécie de droga
nova da qual eu nunca tinha visto até então.
- E que
tipo de droga seria essa?- Pergunto Davi.
-Não sei.
Se soubesse a chamaria pelo nome. Mandei amostras dela para São Paulo para ser
analisada por um especialista em drogas, o doutor Julien Conors, ele foi meu
professor na USP, eu fiquei um tempo esperando os resultados, mas até agora
nada, nem mesmo ele conseguiu identificar a droga, porém ele me assegurou de
que vai continuar a analisar a droga e me trará resultados assim que possível.
- Acho que
vamos ter que esperar esses resultados chegarem antes de tirar qualquer
conclusão.- Davi falava depois de beber seu último gole da sua lata de Coca-Cola.
Momentos
depois Davi mandou pedir a conta ao garçom que servia a mesa ao lado e dentro
de cinco minutos ele apareceu com a mesma em mãos. O rapaz de cabelos castanhos
ficou pálido com o que viu.- Qua... Quarenta e três reais e vinte centavos?
- O QUE?-
Daniel pulou de susto.- Como assim quarenta e três reais? Mas nós só comemos um
salgado e um refrigerante cada, isso é um absurdo! Eu vou falar com o gerente,
ele vai ouvir um bocado agora, ah vai.
Em vão Davi
tentou impedir seu parceiro de investigações em dar sua queixa, Daniel saiu da
mesa furioso e adentrou a gerência do local fazendo uma baita confusão.
Davi estava
morto de vergonha enquanto os demais riam da reação inesperada de seu amigo,
ele já estava quase dando um treco quando Clara o chamou para conversar. Depois
de algumas palavras o jovem detetive deu uma risada irônica e chamou os demais
amigos para irem dar uma volta, deixando apenas Clara na mesa.
Após vinte
minutos de muita briga e estresse Daniel voltou para a mesa sem resultados
satisfatórios, ele já estava tendo um surto de raiva quando avistou Clara
sozinha na mesa olhando para ele o que quase o fez dar meia volta, desde eles
se separaram era um desafio imenso encarar a ex-namorada. Sem opção ele foi em
direção à mesa mesmo a contragosto.
- Onde está
a galera?- Perguntou.
- Eles já
foram, fiquei aqui para te esperar.
Ele sabia
que isso tinha sido armado por sua ex-namorada com a ajuda de Davi, era a cara
deles aquilo, jurou para si mesmo que daria um belo soco no amigo assim que o
encontrasse, pois Davi, mais do ninguém, sabia que o loiro não gostava de ficar
a sós com Clara.
Clara era
quase uma princesa em se tratando de beleza, seu olhara era provocante, seu
corpo era escultural e seus lábios eram naturalmente convidativos, tudo nela o
chamava, no entanto lembrar o passado o fazia manter distância.
- Dar uma
volta, né? Diga logo o que você quer...- Daniel evitava olhar para a garota de
cabelos negros.
- Pode
deixar de ser grosso só por um minuto? eu vim aqui especialmente para conversar
com você e sou tratada dessa forma...
- Não tem
nada para conversar.
-Ah, tem
sim, nós temos assuntos inacabados, eu pedi um tempo e você nem quer se dar ao
trabalho de saber?
-Isso foi
há seis meses atrás, pedir um tempo, especialmente nesse caso, significa “terminou”.
-Você sabe
por que eu fiquei tanto tempo longe, eu estava muito ocupada com o trabalho,
mas sempre mandava sms pra você quando eu podia, inclusive de três meses pra cá
você não responde nenhuma que eu te mando.
-Clara,
sinceramente, nós nunca íamos dar certo e você bem sabe disso. Seus pais são
ultra bem sucedidos, um juiz e uma neurocirurgiã, assim que você se formou no
curso de patologia da USP com apenas 18 anos eles vieram para cá e daí nos
conhecemos, hoje você tem 19, é três anos e meio mais velha do que eu e já trabalha na área ganhando bem mais do
que eu poderia sonhara em ganhar como detetive, isso quando eu ganho alguma
coisa, já que as vezes estou em casos dos quais não sou remunerado como este
que estou trabalhando agora, por exemplo. Você é boa demais pra mim, nós dois
sabemos disso, e foi por isso que você pediu seu “tempo”, pra acabar de vez com
toda essa loucura.
-Não chame
nosso relacionamento de loucura. Eu pedi meu tempo para saber se é isso mesmo
que eu queria, pra ver se você me amava de verdade, Dani. Você sempre foi
ciumento demais, isso sem falar da fama de mulherengo, eu precisava saber se
você me amava mesmo e hoje eu vejo que sim, que você me ama de verdade, você
ficou triste quando eu te pedi um tempo, sem falar que você tem dificuldade de
me encarar por que gosta de mim, não é verdade, Dani?
Daniel
ficou corado ao ouvir essas palavras, ele não esperava que a garota fosse
acertar tão precisamente sobre seu atual estado. Depois de alguns segundos
calado enfim ele respondeu.
-Odeio
quando você está certa. Intuição feminina é fogo.
-Hi, hi,
sabia que estava certa.- Ela aproximou-se do rapaz- Então, que tal você parar
de me chamar de “ex-namorada”? Se você tirar só o “ex” eu adoraria.
-Você tem
ideia da besteira que está fazendo?- Ele repreendeu.
-Sim, eu
tenho, estou voltando a namorar o cara mais louco e insano que conheci em toda
a minha vida, mas o que tem de mais? Eu também não sou muito boa do juízo
mesmo...
Essas foram
as últimas palavras que procederam ao beijo que se seguiu, um beijo longo, com
gosto de nostalgia, um doce beijo que trazia lembranças de uma época mais
feliz, um doce beijo que prometia acender a chama da paixão que um dia fora
apagada.
Pouco tempo depois o casal que há pouco se
reconciliava saiu da lanchonete onde se encontravam em busca de um local mais
privado para terem um tempo juntos. Eles foram para o cinema, para a praça de
alimentação, para a área de jogos e tiveram uma tarde como nenhuma outra,
repleta de beijos e risadas. Por fim, já ao anoitecer, os dois foram para casa
na esperança de se encontrarem o quanto antes.
Dia 13 de abril
de 2013, sábado, chuva, Salvador, amaralina, 23h47min da noite.
Mesmo com
um dia tão agitado Adriana estava na internet de seu notebook em seu quarto
pesquisando qualquer coisa que pudesse ser útil para a investigação. Depois de
horas e horas pesquisando em vão Adriana começava a perder as esperanças.
-Ai, ai...
Já estou ficando com sono, vou fazer uma última pesquisa e dormir.
“Zodíaco”
foi a palavra que a loira digitou no google a fim de saber mais sobre o
criminoso de mesmo nome. Ela leu sobre as constelações, sobre horóscopos, sobre
uma série nipônica intitulada “saint seya”, mas não existia nada ali que podia
ajudar no caso. Adriana abriu todas as dez primeiras páginas que apareceram na
pesquisa do google sem nem ao menos olhar a descrição delas. A garota já estava
exausta e começou a fechar todas as abas, mas quando já estava para fechar a
última algo lhe chamou atenção naquele site singular.
- Um site
sobre serial killer’s, mas o que isso tem haver com o zodíaco? Esse google deve
estar louco...
A menina
começou a ler o texto da página que se seguira da seguinte forma: “Hoje vamos
falar sobre um caso incrível que abalou toda a América do sul há quarenta e
quatro anos atrás (1969), dentre seus inúmeros nomes destacasse como “o
massacre de São Francisco” o nome do serial killer da vez é...”
-“Assassino”...
“do zodíaco”?
7ª suspeita:O caso de 44 anos atrás
Dia 15 de abril
de 2013, segunda-feira, nublado, Simões Filho, IFBA, 12h37min da tarde.
Davi e Gabriela estavam indo sozinhos para o IFBA, o que era
estranho, pois raramente eles não andavam acompanhados de seus outros amigos.
Os dois já tinham chegado à instituição de ensino federal e o suspeito diálogo
entre eles parecia não ter fim.
-Rica, filha de imigrantes, formada na USP com apenas
dezoito anos e já trabalha na área que gosta ganhando muito bem para alguém de
sua idade... É, essa daí é suspeita. - Disse a ruiva.
-Há, há, há, calma Gabi, nós conhecemos muito bem a Clara e
tenho certeza de que não há motivo algum de suspeitar dela nesse caso e não
digo isso apenas por ela ser namorada de Daniel, mas por que ela é minha amiga
também.- Davi achava graça das suposições de Gabriela.
-Namorada? Como assim “namorada”? Eles não tinham se
separado há um tempo? E por que você não levanta nenhuma suspeita sobre ela?
Você fala que até mesmo eu e Adriana poderíamos ser as culpadas.
-Depois de ficarem sozinhos como aqueles dois ficaram ontem
eu acho difícil eles não voltarem a namorar, por isso eu falei “namorada”, e eu
não levanto suspeitas sobre ela por que a conheço muito melhor do que conheço
vocês duas. Que isso Gabriela? Você bem sabe que esse é o nosso trabalho, é
natural suspeitarmos de qualquer um, parece até que você está com ciúmes de
Clara.
-Ah tá, vai achando. Ciúmes? Fala sério.
Os dois ficaram quietos por alguns instantes e logo
dirigiram-se para a sala onde a aula de matemática seguia-se sem mais problemas.
Cinquenta minutos depois, mais especificamente no início do
segundo horário daquela aula maçante, Daniel enfim chegara com um sorriso de
orelha a orelha, ele avistou Davi e Gabriela sentados juntos e logo se
aproximou deles.
-Olá garanhão, qual foi o motivo da demora? Não vai me dizer
que dormiu tarde falando com certas pessoas no celular?- Com um sorriso irônico
Davi referia-se a Clara.
-Isso não é da sua conta. Vocês me deixaram na mão ontem. -
Daniel irritou-se com a provocação.
-Calma aí rapaz, aquilo foi ideia de Clara, eu apenas fiz o que ela me pediu. Agora vamos
aos detalhes, o que foi que rolou ontem?
-Não rolou nada, conversamos um pouco e voltamos para casa,
só isso.
Alguns instantes depois o celular de Daniel tocou mostrando
uma mensagem de Clara.
“De: my love
Enviado: 15/04/2013
ás 13h45min
Adorei nossa noite
ontem, podíamos fazer isso mais vezes, né? Espero te ver o quanto antes, que
tal esse fim de semana. Me liga. Beijos”
Com muito esforço, Davi também conseguiu ler a mensagem,
fazendo Daniel corar no mesmo instante.
-Não rolou nada, né?- Davi caiu na gargalhada e começou a
tirar sarro da cara do amigo.
Voltando-se novamente para o professor Daniel fingia não
ligar para o que seu companheiro dizia,
o que era difícil para um rapaz tão cabeça quente quanto ele.
Por fim a aula acabou e dava-se início aos vinte minutos de
intervalo dos alunos do IFBA, todos estavam saindo da sala e a dupla de
detetives junto a sua amiga ruiva não eram exceção.
Daniel acabara de sair da sala com a maior cara de poucos
amigos e Davi sabia o por que disso, seu colega não gostava de ter ajuda quando
se tratava de conquistar uma mulher, especialmente quando essa mulher é Clara,
o loiro não aceita ajuda do amigo sob hipótese alguma, não por raiva ou
orgulho, mas sim por algo que aconteceu entre os dois amigos tão difícil de
encarar que ele prefere esquecer.
Um tanto calados os três amigos seguiram ruma á cantina a
fim de comer alguma coisa antes do próximo horário de aula. Daniel estava
calado, imerso em seus pensamentos, já Davi esboçava um enorme sorriso no
rosto, embora ele soubesse que o loiro não gostava nada da atual situação ele
também sabia que tinha feito o certo e que era questão de tempo até que o
namorado de Clara o agradecesse pela ajuda. Apesar do estado dos dois
companheiros Gabriela parecia ser a mais preocupada dentre os três, ela não
conseguia compreender completamente a situação, ela achava que seus amigos
estavam brigados, apesar dos dois não demonstrarem isso.
Alguns instantes depois o trio enfim chegou á cantina. Davi
pediu uma coxinha com suco, Daniel foi logo atrás de seu imenso x-tudo e
Gabriela pediu apenas um suco, a preocupação e o regime não a deixavam comer
muito. Em silêncio os três comeram, silêncio esse que era apenas quebrado por
comentários como “passa o guardanapo” ou “obrigado”, nada que passasse do
essencial e indispensável. Ao término da refeição os três seguiram para a sala
a fim de assistirem a aula de biologia que por sinal já havia começado há cinco
minutos.
Uma hora e quarenta minutos depois e a aula acabou, aula
essa que seria imediatamente procedida por outra caso o professor de sociologia
não viesse a faltar por conta de problemas de saúde.
Assim que souberam do atual estado de seu professor os
alunos do primeiro ano de eletromecânica dirigiam-se á suas casas. Assim que
saíram da sala Daniel, Davi e Gabriela notaram que duas de suas colegas de sala
estavam comentando sobre os acontecimentos dos últimos dias.
-Então, Cláudia, já decidiu para que escola você vai quando
sair daqui?- Disse a primeira enquanto fechava a bolsa que carregava os seus
pertences.
-Não, Dora, mas acho que independente disso não vou mais
sair, eu ia embora por que estou com medo desse assassino louco que está à
solta por aí, mas correm boatos de que ele vai matar a todos que quiserem sair
daqui. Estamos num beco sem saída, se ficarmos aqui morremos, se sairmos
morremos- Como pausa, ela deu um longo suspiro- Espero que peguem logo esse
assassino.
-É...espero...- Caladas, as duas saíram duas saíram da sala com
medo do que pudesse vir a acontecer.
-Todos estão desesperados, temos que acabar com isso de uma
vez por todas- Com pesar Davi concluiu.
-Como elas sabem que o zodíaco ameaçou matar aqueles que
saírem da escola?- Gabriela perguntou.
-Hoje mesmo liguei para o diretor para falar da ligação que
o zodíaco me faz há poucos dias, falei inclusive sobre essa ameaça, só não
esperava que a notícia fosse se espalhar tão rápido...- Daniel coçava a cabeça
num gesto de preocupação.
OS três ficaram ali parados e só vieram a sair de lá quando
Davi recomendou que eles fossem para casa. Já estavam quase saindo do colégio a
apenas alguns metros da porteira, quando avistaram uma pessoa correndo a toda
em sua direção. Quase caindo, a pessoa chegou até eles.
-Adriana?- Disse Davi ao reconhecer à amiga.
-Arf... Arf...- Ofegante a garota começou a falar- Oi gente,
cheguei tare hoje por que eu só vim a dormir de madrugada e precisava terminar
umas pesquisas antes de vir para cá. Assim que cheguei aqui vi Dora e Cláudia
indo para casa, elas me disseram que todos já tinham ido para casa por conta de
que o professor de sociologia não pode vir, por isso vim correndo, pra dar
tempo de achar vocês, precisamos muito conversar.
-Nossa- Gabriela impressionou-se com aquela chuva de
palavras vidas da amiga- o que é que você quer tanto nos falar?
-Eu já vou dizer, mas antes vamos para a pracinha, estou
exausta e preciso sentar um pouquinho, lá nós conversamos melhor.
Sem demora os quatro amigos seguiram rumo á pracinha do
colégio que Adriana havia mencionado. Assim que lá chegaram Adriana sentou-se,
juntamente aos seus amigos e prontamente tirou de sua mochila seu notebook HP
rosa junto ao seu pequeno modem 3D. Adriana até poderia usar a conexão wi-fi de
sua escola, no entanto a lentidão da mesma a fazia recorrer ao seu modem sempre
que podia. Assim que conectou na internet e abriu seu navegador google chrome a
loira começou a falar.
-Ontem a noite eu estava pesquisando sobre o zodíaco, eu
queria saber se sabendo mais sobre o zodíaco eu conseguiria saber mais sobre os
assassinos que ligaram por meio de uma mulher para falar com Daniel nesse
sábado. Sabe, no começo achei apenas coisas bobas como detalhes sobre as
constelações, horóscopos online e uma série japonesa chamada cavaleiros do
zodíaco. Eu já estava quase desistindo quando achei esse site que acabei de
abrir chamado “serial killer’s.net” e achei algo interessante, vou ler aqui
para vocês saberem do que eu estou falando: “Hoje vamos falar sobre um caso incrível que
abalou toda a América do sul há quarenta e quatro anos atrás (1969), dentre
seus inúmeros nomes destacasse como “o massacre de São Francisco” o nome do
serial killer da vez é assassino...” –A loira fez uma pausa como quem teme
dizer tal nome- “...do zodíaco”.
-Caramba...-
Daniel estava impressionado.
-Vocês
acham que pode haver uma ligação entre os dois casos, o nosso e o de 1969?-
Perguntou Gabriela voltando-se para os detetives.
-Há uma
possibilidade, mas acho que ainda é cedo para dizer qualquer coisa. O que mais
está escrito aí, Adriana. –Davi começou a interessar-se pelo caso.
- “Zodíaco,
como era chamado, foi um assassino singular, pois ele não escondia seus atos.
Em cindo de julho de mil novecentos e sessenta e nove ele fez sua primeira
vítima registrada, um casal estava a namorar em Vallejo, Califórnia, em seu
carro, um homem os abordou matando-os a tiros com uma maluger nove mm. Instantes
depois um homem liga para a polícia local relatando tudo o que havia acontecido
em detalhes, era ele, o zodíaco. Os meses que se seguiram foram de puro
desespero, pois o zodíaco fazia mais e mais vítimas sempre avisando ou
relatando a polícia sobre seus atos. Existem boatos em que dizem que o zodíaco
teria afirmado ter assassinado 37 pessoas. O caso foi amplamente investigado
por muitíssimas autoridades no assunto,
mas o zodíaco jamais foi pego...” É isso, esse é o resumo de tudo, mas se quiserem posso ler a versão completa
que está logo abaixo. –Disse Adriana ao terminar a leitura.
-Não, agora
não. Vamos trabalhar com o que temos. –Davi falava enquanto Adriana fechava o
notebook. –O que você acha disso tudo, Daniel?
- Bem, acho
que de fato existe sim uma ligação entre o nosso caso e o de 44 anos atrás, o
modus operante de ambos os assassinos é muito semelhante, eles avisam a forma
com que vão fazer seus crimes e agem logo em seguida, mostrando a imensa
autoconfiança de ambos os criminosos em ambos os casos sem falar no óbvio que é
o nome deles ser zodíaco tanto no nosso caso quanto no que Adriana achou na
internet.
- E você
acha aqui trata-se do mesmo assassino do passado?- Perguntou a loira a Davi.
- Acho que
não.- Respondeu Davi- Se ele ainda estiver vivo certamente está em idade muito
avançada, o que dificultaria com que ele entrasse em ação, A única chance de
ele estar envolvido nesse caso seria se ele fosse o cabeça desse grupo de
assassinos que estamos investigando, mas
nesse caso viria outra dúvida: pra que diabos um cara desse calibre viria ao
Brasil?
- Faz
sentido...- A ruiva sutilmente levava os dedos ao queixo como sinal de
preocupação.
- De toda
forma existem mais algumas coisa que não podemos deixar passar batido, primeiro,
os dois casos tem uma ligação muito estreita então podemos esperar que nossos
assassinos continuem agindo da mesma forma que têm agido até agora. Segundo,
devemos prestar muita atenção na próxima ligação deles, pois só assim vamos saber
qual o grau de envolvimento deles com o cara de 44 anos atrás, e terceiro,
devemos pesquisar mais sobre o “zodíaco” do passado, isso pode nos dar dica
sobre como agir de agora em diante. –Concluiu Daniel.
-Muito bom.
– Davi levantou-se a começou a andar – Mas acho que devemos nos apresar, já são
cindo e quarenta e cinco da tarde, daqui a pouco o escolar vai chegar.
- Ah, é
mesmo. – Gabriela olhou para o relógio ficando assustada com o horário –
Adriana, vamos ali no banheiro comigo, rápido, se não o escolar chega. – Puxou
o braço da amiga – Podem ir andando meninos, daqui a pouco nós alcançamos
vocês.
- Há, há –
Davi ria enquanto a garota se afastava – elas são lindas, né?
- Até
demais... – Daniel sorria.
- é uma
pena que elas tenham de se meter nisso tudo.
- Mas um
dia isso tudo vai acabar, já saímos de cada situação bizarra... Não é essa que
vai nos derrubar, não é mesmo, Davi.
- Sei não
Daniel, nós até sabemos nos virar, vivemos nesse mundo de riscos desde os treze
anos, mas elas duas... Isso sem falar no caso que estamos agora, é muito
arriscado.
- Com
assim? Aonde você quer chegar?
- Não
consegue entender, Daniel? É simples, na última ameaça em que o zodíaco nos fez
ele disse que iria matar uma loira, parecia que ele estava referindo-se a
Adriana, certo?
- Sim, mas
era tudo um engano, a vítima acabou por ser outra pessoa.
- Certo, mas
veja bem, esse assassino sabe muito sobre nós, nossos nomes, celulares... Não
temos ideia de até onde eles sabem, talvez eles até tenham conhecimento sobre
Adriana e Gabriela, e se eles fizeram aquela ameaça justamente para nos
confundir? É uma possibilidade. Eu quero que você entenda uma coisa Daniel, eles
querem se divertir, querem brincar de gato e rato conosco e não vão para até
que estejamos loucos de raiva para pegá-los.
- O que
você quer dizer? Não pode ser que... – Daniel deu um passo para trás.
- É isso
mesmo que você está pensando Daniel. Para o nosso zodíaco isso tudo não passa
de uma brincadeira, um pega-pega, um jogo e nós não passamos de peões em seu
tabuleiro, eles farão de tudo para nos moverem da forma que quiserem e agora
eles devem estar querendo deixar as coisas mais movimentadas e vão usar de tudo
para que nós entremos em seu jogo. O que quero dizer é que provavelmente eles
vão querer que levemos isso tudo pro pessoal, eles já nos deram dicas sobre
seus atos para ameaçar nosso orgulho quando conseguissem se mostrar vitoriosos,
o próximo passo para nos colocar na “brincadeira” deve ser... Matar alguém
próximo a nós e que está nos ajudando na investigação justamente para nos
sentirmos culpados e essas seriam...
- Gabriela,
Adriana e... Clara?... – Daniel começou a tremer.
A foice da
morte voltou-se para as amigas dos detetives.
8ª suspeita:visita na escola.
8ª suspeita:visita na escola.
Dia 16 de abril
de 2013, terça-feira, sol, Simões Filho, IFBA, 12h43min da tarde.
Em
plenos e massacrantes 29 cº estavam a andar Daniel e Davi em direção a sua
escola, mais um dia de aula começava para eles. Depois de alguns minutos
andando e conversando sobre assuntos corriqueiros do dia-a-dia os dois
detetives enfim chegaram a entrada do pavilhão acadêmico de seu colégio
avistando logo em seguida um burburinho próximo a entrada do mesmo.
-
O que é isso? – Perguntou a Daniel a um colega de classe que estava presente no
local.
-
Ah, oi Daniel, é que saiu o edital da semana de saúde – Respondeu o colega – As
equipes que estão sem vagas estão aqui com seus líderes para chamarem o pessoal
que está sem equipes.
A
semana de saúde consistia em um período de três dias em que o IFBA parava todas
as suas atividades para presenciar e assistir as apresentações dos alunos de
toda a instituição sobre saúde. As apresentações da semana de saúde abordavam
sobre infinitos temas, desde drogas lícitas ou ilícitas até doação de sangue.
Por ser um projeto interdisciplinar a semana de saúde era organizada por equipes
de apresentação composta por alunos do primeiro ao terceiro ano, cada equipe
com trinta pessoas, dez de cada ano, e sua pontuação valia 25% da pontuação
geral da unidade, ou seja, 2,5 pontos. Daniel e Davi já estavam cientes de que
a semana de saúde seria realizada pouco tempo depois do início do ano letivo,
eles só não sabiam que viria a ser tão cedo e que as equipes estavam quase que
completamente formadas.
-
Então, vocês já tem uma equipe? – Perguntou o colega de Daniel voltando-se para
o mesmo.
Antes
que o loiro tivesse a oportunidade de responder negativamente a questão que lhe
foi feita eis que uma voz feminina o interrompe.
– Sim, eles estão na minha equipe – Gabriela,
acompanhada de Adriana, tinha acabado de chegar – Tomei a liberdade de colocar
o nome de vocês dois lá, o nome da equipe é “yashin” e pertence à Luciana,
aquela menina alta do terceiro ano de petróleo e gás, ele me convidou para
entrar na equipe dela semana passada.
- Ah, obrigado Gabi, mais um pouquinho e nós
ficaríamos sem equipe e sem nota. – Davi dizia isso ao abraçar as amigas num
gesto de carinho e saudação.
-
Eu acho que seria muito mais educado perguntar se queríamos entra na equipe,
não acha? – Daniel parecia não gostar da ajuda da ruiva.
-
Por que você está falando assim comigo? Eu só estava tentando ajudar, não fiz
nada de errado – Gabriela magoou-se.
-
Só falei a verdade, eu nem sei quem é essa tal de Luciana, e se nós não
gostássemos ao ponto de não querer entrar nele, o que você ia fazer? –
Questionou Daniel.
-
Eu... Eu... Eu ia bater em vocês dois – Gabriela irritou-se – Eu tentei ser
educada, tentei ajudar, mas não, ninguém precisa da minha ajuda aqui né? Desde
sábado você anda assim Daniel, bastou arranjar uma namoradinha pra ficar
arrogante, quer saber de uma dom Ruam? EU ESTOU FARTA DISSO, ADEUS! – E
gritando, a menina retirou-se em direção ao ponto de ônibus para voltar para
casa.
-
Gabriela! – Adriana correu em direção da amiga a fim de consolá-la.
-
O que foi que deu em você, cara? – Davi repreendeu – Olha só o que você fez...
-
Não fiz nada demais, apenas disse a verdade – Falou e seguiu em direção a sala
de aula.
Davi
não gostou da resposta de Daniel, no entanto, ele sabia que o amigo era teimoso
demais para voltar atrás.
Independente
de qualquer coisa, inclusive a indiferença de Daniel para com a ideia de
Gabriela, a dupla de detetives optou por se manter na equipe yashin aquela da
qual Gabriela os tinha escrito.
Um
mês se passou desde então e a semana de saúde ia aproximava-se a cada dia. Os
alunos, cada vez mais apressados, corriam para conseguir encerrar a produção
dos trabalhos a tempo, apesar de um mês ser um tempo grande para a produção de
um trabalho o mesmo necessitava de tal tempo para ser concluído, afinal de
contas aquele não era um trabalho de quinta série onde o único esforço era o de
colar figuras numa cartolina, mas sim uma produção extremamente maior com
direito a imensas pesquisas, ensaios e até mesmo um corpo especial de jurados
compostos por professores e convidados para ver e julgar os trabalhos.
Alguns
dos estudantes, especialmente os mais veteranos, não gostavam da forma com que
seus trabalhos eram julgados, pois muitos deles perdiam dinheiro, tempo e muito
esforço para ganhar apenas 70 ou 80% da nota total, tendo muitas vezes razão,
pois o esforço dedicado para agradar ao grupo de jurados era algo fora do sério
para não se ganhar a nota total do projeto.
Os
dias passaram e enfim chegara o tão temido dia do início da semana de saúde.
As
apresentações seriam todas feitas no fim do corredor do térreo de forma que
todos os estudantes e jurados pudessem ver a apresentação. Cinco equipes já
tinham se apresentado, já eram duas horas da tarde, os estudantes tinham
acabado de voltar do almoço e eis que agora era a vez da equipe de Daniel e
Davi se apresentar.
-
Estou nervosa – Disse Adriana.
-
Todos estamos dri, mas tenha fé que vai sair tudo certo – Davi abraçou a amiga
a fim de encorajá-la.
-
Pra você é fácil falar, você só precisou fazer o vídeo que vai rolar enquanto
vamos estamos falando – Daniel estava revendo a sua fala.
-
Sim, Daniel, você é o mais cara de pau de todos aqui, com certeza não está com
um pingo de nervosismo – Repreendeu Davi.
-
Nada a ver, eu estou nervoso sim, quero que o júri fique impressionado com
minha entrada – O loiro sorriu.
-
Certo Daniel, em questão de sem vergonhisse você se supera a cada dia – Davi
riu e voltou-se novamente para Adriana.
-
Ei, pessoal – Luciana, a líder da equipe, chamava seus companheiros juntamente
a Daniel e Adriana – O professor já deu sinal verde, é agora!
Sem
mais delongas todos os integrantes da apresentação dirigiram-se para o local da
mesma e Daniel, é claro, foi o último a sair, distribuindo a todos sorrisos e
saudações com uma autoconfiança de gigante. Adriana suava frio.
O
tema da equipe foi doação de sangue, Daniel foi o primeiro a falar. O discurso
desse equipe focava-se nos pontos positivos e nos ganhos que a doação de sangue
trazia tanto para os beneficiados quanto para os beneficentes e também falava
muito da necessidade de se doar sangue hoje em dia.
Vinte
minutos de discussão (com Daniel, como sempre, falando bem mais do que devia) e
eis que a apresentação acabara.
-
Então é isso aí pessoal, nós somos a equipe yashin e essa foi nossa
apresentação sobre doação de sangue – Ao término da fala de Daniel a equipe
saiu de cena com uma salva de palmas.
-
Vocês foram ótimos – Com um enorme sorriso Davi parabenizava os companheiros de
equipe.
-
Eu sabia que ia dar tudo certo – Daniel gabava-se de seus feitos – Afinal de
contas eu estou na equipe.
-
Sim, senhor das apresentações – Davi falava em tom de deboche – tenho dois
recados para você. Primeiro, Luciana mandou avisar que depois quer todos da
equipe juntos para tirar umas fotos. Segundo, “ela” me ligou e disse que já
estava aí, pediu pra você ir vê-la depois que terminasse de apresentar, “ela”
disse que está ali no camarote vip – Davi apontou para cima apontando para o
corredor do primeiro andar da instituição do qual podia-se ver as apresentações
por conta de que seu corrimão parava muito antes do parede que fica a sua
frente deixando um grande espaço para se ver o que acontece logo abaixo de quem
está olhando do mesmo.
-
Camarote vip não é? Hum...- Daniel estava pensativo – E falando isso Daniel
subiu as escadas e com alguns segundos de caminhada eis que ele avistara uma
garota singular de cabelos negros assistindo as demais apresentações. Ela já
tinha percebido que ele estava andando em sua direção, mas fingia não notar.
Assim que a alcançou Daniel a abraçou beijando-a logo em seguida.
-
Já estava pensando que não viria mais. Por que não ligou pra mim ao invés de
ligar pra Davi? – Disse o loiro a sua namorada.
Se
eu ligasse para você ia estragar a surpresa de ver a sua apresentação, já que
você com certeza ficaria nervoso se soubesse que eu estava assistindo – Clara
não conseguia parar de olhar os olhos do amado.
-
Ah, tá...Você sabe que eu não tenho essas besteiras – O loiro irritou-se.
-
Sei, ô como sei – Irônica, Clara virava o olhar – Amor, vou ir ao banheiro,
viu? Já volto.
Assim
que Clara saiu, Davi, Adriana e Gabriela estavam chegando ao ponto que assim
que Clara se virou para ir em direção ao banheiro ela pode ver Davi junto As
duas garotas vindo em sua direção. Clara acenou para Davi e ele correspondeu de
muito bom grado. Poucos passos depois lá estava ele ao lado de Daniel.
-
Ei, Romeu, está sabendo que a próxima apresentação é a da equipe de Órion, né?
– Davi deu um tapinha nas costas do amigo.
-
É sobre o que a apresentação?
-Medicina
do trabalho.
Daniel
olhava para trás para ver se Clara já estava voltando – Tipo...
Superinteressante.
-
O que é isso cara? Eu sei que não é um tema legal, mas vamos prestigiar a
apresentação do garoto.
-
É isso aí – Gabriela interrompeu – Vão assistindo apresentação de Órion aí,
enquanto isso eu e Adriana vamos descer pra beber água – A ruiva puxou a amiga
que prontamente se dispôs a seguir a amiga.
-
Ai, ai... – Davi sorria – Essas duas são incríveis, estamos estudando numa
escola da qual estamos sobre o risco de ser assassinados a qualquer momento e
mesmo assim elas conseguem agir como se nada disso estivesse acontecendo.
-
Se for pra ver por esse lado nós também estamos assim, já tem um mês que a
investigação está parada, só pesquisamos e pesquisamos e ação nada. Estou
começando a ficar preocupado Davi, não sabemos quando o zodíaco pode atacar
novamente, ele disse algo sobre ser um ataque triplo muito bem bolado e que
seria num momento que não iríamos esperar.
-
“Um momento que não iríamos esperar”... – Davi fez uma pausa para pensar um
pouco – provavelmente ele estava se referindo a um momento do qual jamais
imaginaríamos um assassinato, talvez pudesse ser quando estivéssemos no
banheiro ou quando a escola estivesse cheia, também devemos cogitar um ataque
fora da escola.
-
Quando a escola estivesse cheia? – Daniel assustou-se – Tipo... Hoje?
Um
grito irrompeu da multidão.
-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
-
O que foi isso? – Disse Davi.
-
Zodíaco! – Respondeu Daniel.
No
mesmo instante um homem mascarado apareceu bem no maio da apresentação, ele
estava armado com uma pistola semiautomática segurando-a apenas com o braço
direito, pois o esquerdo estava ocupado demais segurando Órion.
-
Olá, caros estudantes do IFBA simões filho, há muito eu queria lhes ver. – Em
seu rosto estava esboçado um sádico e horrendo sorriso.
-ÓRION!
– Gritou Davi.
-
Sabe, eu fiquei muito ofendido quando soube que vocês não me chamaram para essa
festa – o monstro continuava seu discurso – Tão nervoso que me deu vontade de
matar um – No mesmo momento ele atirou na máquina fotográfica do câmeraman que
estava registrando tudo.
Professores,
jurados, alunos, todos começaram a correr desenfreadamente em direção a saída
que ficava do outro lado do pavilhão estudantil, no entanto, outra figura
apareceu do lado da porta.
-
Muito bem garotada – Uma garota mascarada com uma camisa regata, calças e botas
igualmente negras apontava seu revolver para a multidão – Ninguém sai do
prédio. Se alguém der uma de herói ou bancar o espertinho morre na hora.
Um
dos estudantes irou-se – VOCÊ NÃO PODE CONTRA TODOS NÓS! – Ele saiu correndo
junto a outros quatro colegas visando derrubar a criminosa.
BANG!
BANG! BANG! BANG! BANG!
Cinco
tiros certeiros, na cabeça, os cinco estudantes fora, atingidos antes mesmo de
chegarem a três metros da garota.
-
Eu avisei – Disse ela – Vamos lá, todo mundo voltando para perto do meu colega
ali na outra ponta do pavilhão.
Instantaneamente
e de uma forma um tanto quanto desesperado os reféns fizeram o que a garota
lhes mandara.
Daniel
e Davi permaneciam no mesmo lugar onde estavam, por mais que eles não pudessem
fazer nada eles não poderiam deixar Órion sozinho com um dos zodíaco.
Assim
que os demais reféns chegaram Daniel e Davi puderam avistar a autora dos tiros
que ouviram há pouco, eles também a escutaram dando ordens como “continue!” ou
“mais rápido!”.
-
É ela – Concluiu Daniel – Foi ela a zodíaco que me ligou.
-
Muito bem – Enquanto apertava a cabeça de Órion com o revolver o bandido começou
a falar - Escutem o que vou dizer agora por que só vou falar uma vez. Viemos
aqui fazer uma visitinha no seu colégio para lhes dar um recado. Primeiramente
quero que saibam que não estamos gostando da forma com que vocês têm agido, nós
fizemos o favor de avisar que mataríamos aqueles que se ousassem a sair do
colégio e vocês simplesmente o fazem ou passam a deixar de frequentar as aulas
sem mais nem menos? Isso é um absurdo, mas como eu somos muito legais decidimos
lhes dar mais uma chance, passem a ser bons estudantes e frequentem as aulas
todos os dias. Faltou uma aula? Morre. Claro, nós não poderíamos deixar barato
para aqueles que saíram do colégio sem mais nem menos, hoje de manhã já matamos
os cinco que saíram do IFBA, são eles: Arnaldo Silva, George Antônio, Marcos
Lucas, Catarina Marques e Dionísio Dantas,
-NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÕOOOOOOOOOO!
– Uma garota gritava e chorava desamparada em meio à multidão –
MAAAAAAAARCOOOOS!
Ela
chorava, chorava e chorava sem cessar, estava irremediável. Eis que o zodíaco
que segurava Órion aproximou-se dela se agachou e levantou seu rosto com a
ponta do revolver.
-
Ó, coitadinha, era seu namorado?
Tremendo,
ela fez sinal positivo com a cabeça sem jamais deixar de olhar para baixo.
-
Que peninha, sabe, a maioria dos assassinos mandariam você calar a boca e parar
com esse choro infernal ou te matariam na hora, mas como sou um cara bonzinho
não vou fazer nada disso, afinal de contas o som do seu choro colabora para que
os demais permaneçam em pânico.
A
garota levantou a cabeça e visualizou desesperada o sorriso maquiavélico
daquele demônio até que...
BANG!
-
Brincadeirinha, eu até gosto de pânico geral, mas poupar menininhas chorosas
não é bem a minha praia. – Disse o assassino após estourar os miolos da garota.
-
Sim baby, vamos logo ao que interessa – A garota do zodíaco voltou-se o seu
comparsa.
-
Ai, ai... Apressadinha como sempre – Ele respondeu e então elevou a voz –
Certo, estamos aqui a procura de dois caras muito conhecidos por aqui, os nomes
deles são... Daniel e Davi.
9ª Suspeita: Beijo de sangue
Dia 15 de maio
de 2013, quarta-feira, sol, Simões Filho, IFBA, 14h57min da tarde.
- Estamos
aqui à procura de dois caras muito conhecidos por aqui, os nomes deles são
Daniel e Davi, eles estudam no primeiro ano de eletromecânica durante a tarde.
– Disse o zodíaco que acabara de assassinar uma garota.
O
clima estava tenso. Os dois detetives estavam suando frio. Repentinamente uma
voz irrompeu da multidão.
-
SÃO ELES! – Disse o jovem que apontara para os dois amigos.
Todos
os olhares voltaram-se para Daniel e Davi.
-
Há, há, há – Gargalhou o zodíaco que falara a pouco – Ora, ora, se não são meus
detetives favoritos. Venham aqui, desçam, quero vê-los de perto. – Seu sorriso
maquiavélico deixava mais do que claro quais eram suas intenções.
Sem
escolha os dois jovens desceram respondendo ao chamado do assassino.
-
E agora? – Disse Daniel.
-
É nossa chance, finalmente vamos ver cara-a-cara os autores das ligações do
zodíaco. Vamos arrancar o máximo de informações que conseguirmos, isso vai ser
útil mais tarde. – Apesar de aparentar estar calmo Davi suava frio.
-Isso
é, se nós sobrevivermos, claro. – Daniel descia os últimos degraus até chegar a
aquele que os chamou.
-
Vamos sobreviver... Acho.
Por
fim os dois detetives chagaram até onde a dupla de vilões os chamou.
A
situação não era nada agradável e qualquer deslize acarretaria na morte dos
estudantes, a coisa ia de mal a pior.
O
zodíaco não tinha um pingo de pudor quanto a esconder sua diversão com aquele
momento.
-
Vocês não sabem o quanto eu esperei para vê-los... Apesar de que eu sempre
achei que fossem mais altos, afinal, pra matar nosso companheiro touro vocês
certamente deveriam ter um bom condicionamento físico.
-
DANIEL, DAVI, SAIAM DAQUI! – Gritou Órion ao ver os amigos, o bandido apertou
com mais força a arma em sua cabeça assim que o rapaz gritou.
-
Quando se tem uma arma em mãos pouco importa o condicionamento físico – Davi
tomou a frente. – Vocês mesmos são exemplos disso, fazendo de refém toda uma
escola apenas com dois revólveres, o que se mostra um ato pra lá de covarde.
-
Ora, cada um usa as armas que tem, garoto. Um leão não se preocupa se uma zebra
tem presas quando parte para a caça. Assim são os humanos, tão sujos e
selvagens quanto os animais. – Enquanto falava isso ele apertava a clavícula de
Daniel com o revólver segurando Órion com mais força com o braço que o prendia.
-
Vamos parar de rodeios. Digam logo o que vocês querem. – Daniel simulava a
total ausência de medo.
-
Nada de mais, apenas viemos fazer uma visitinha, passar nosso recado aos seus
colegas de escola e ver pessoalmente a cara de vocês, afinal, precisamos saber
até onde vocês são bons.
-
O que quer dizer com isso? – Perguntou o loiro.
O
zodíaco revirou os olhos, a única parte do rosto que sua máscara deixava a
mostra. – Misericórdia, você realmente não lembra? Vamos lá, me mostre do que
são feitos os “maiores detetives juvenis do mundo” – Disse em tom de ironia. –
Nós já falamos que nosso próximo ataque, no caso este, seria em um momento em
que jamais esperariam, e assim foi, estamos aqui em plena luz do dia, em um
evento onde várias pessoas estão testemunhando isto...
-
Seria “um ataque triplo muito bem bolado”. – Completou Davi.
-
Exatamente, não acham que falta alguma coisa?
-
Hum... – Daniel se pôs a pensar. – No momento existem apenas dois de vocês
aqui, ou seja, ou vocês vão fazer mais dois ataques durante o dia ou mais um de
vocês ainda vai aparecer hoje.
-
Bingo, uma salva de palmas para o loirinho, no entanto, ainda tem mais um fator,
seria muito sem graça se as coisas fossem tão simples.
-
O que você quer dizer?
-
Pense bem, idiota. Olhem o perfil do assassino que está perante vocês, nós
somos cheios de caprichos, gostamos de emoção, de fazer as coisas ficarem
sempre mais e mais divertidas, até por que matar por matar não tem graça, tem
que ter um algo a mais. Apesar de estarem encurralados fisicamente seu
psicológico ainda está totalmente sobre controle, vocês acham mesmo que nós
íamos deixar isso assim?
-
Não... – Daniel foi o primeiro a perceber. – DEIXE-AS FORA DISSO! – O loiro
começou a tremer.
-
HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ – a gargalhada maquiavélica do assassino parecia
ser capaz de cortar corações. Seu som se propagava horrivelmente por todo o
pavilhão. – Então você percebeu, que maravilha. Olhem só, já está tremendo, que
ótimo, magnífico, não esperava menos de seu poder dedutivo, estou adorando sua
reação.
-
O que foi, Daniel? O que você percebeu? – Davi ainda não compreendia a situação
e tocava o ombro do amigo a fim de acalma-lo.
-
Não tenho tempo de explicar, cuida dele! – Daniel saiu em disparada subindo as
escadas pelas quais descera há pouco.
-EI!
– Gritou o zodíaco apontando a arma para o loiro.
-
AGORA! – Gritou Órion ao perceber a brecha que foi aberta.
Aproveitando-se
da distração do zodíaco Davi deu um chute na mão que estava armada fazendo com
que o revolver saísse da mesma rodopiando pelo ar, a arma disparou, mas errou
devido ao golpe que a mão que a estava controlando levou, com um salto o rapaz
pegou a mesma apontando-a logo em seguida para o monstro.
-
O tabuleiro virou, solte Órion! – A expressão de Davi mostrava que ele não estava
de brincadeira.
-
Muito bem, você venceu. – O zodíaco homem fez o que lhe foi mandado, Órion
correu para junto de Davi assim que foi solto. – No entanto, ainda existem mais
peças no jogo que você está ignorando.
-ISSO
MESMO! – A garota mascarada que fazia todos de reféns pelas costas
manifestou-se diante do risco que seu comparsa corria no momento e mirou a arma
para Davi. – Agora sou eu que mando nessa zona, solte a arma!
-Nem
pensar. – Davi mirou a pistola para o rosto do homem que prendia Órion até então.
– Se você fizer alguma coisa ele morre.
-
Hu – A garota deu uma leve risadinha, ela ficou impressionada com o quanto o
jovem era perspicaz e a maneira com que ele conseguiu virar a situação. – Sem
problemas, eu mato ele primeiro e depois mato você.
-
Está blefando.
-
Não estou, vamos logo com isso, solte a arma.
-
Se você o matar terá que conter sozinha todo esse pessoal, as chances deles
conseguirem fugir será grande, sem falar que podem te enfrentar, já que não
terá mais ninguém apontando um cano de revolver atrás de suas cabeças. – Davi
fez um sinal para que Órion se aproximasse, e colocou a mão do ruivo junto a
sua na arma de fogo. - Se me matar Órion já estará com a arma em mãos e vai
poder atirar em você no mesmo instante, por mais rápida que seja você não vai
conseguir revidar antes dele, sem falar que eu conheço esta arma, ela tem
capacidade para até seis balas, você já usou cindo mais cedo, só tem mais uma,
vai ter que recarregar o que dará tempo suficiente para Órion explodir seus
miolos.
-
Boa. – Órion sorriu ao ouvir o plano do amigo.
Por
um instante todos ficaram calados, ninguém esperava que algo assim viria a
acontecer, nem mesmo a dupla do zodíaco, sorrisos e lágrimas estavam espalhados
entre os rostos daqueles que estavam sendo usados de reféns, uma esperança
surgia nos corações, talvez ninguém mais precisasse morrer naquela tarde.
-
Você é bom, muito melhor do que eu imaginava, mas nós também temos armas na
manga. – A garota apontou para cima.
-
Daniel... Droga.
Daniel
a muito tinha parado de correr, pois assim que chegou a outra ponta do primeiro
andar do pavilhão estudantil avistou aquilo que temia. Zodíaco, mais um
assassino, o último, aquele que enfim completaria o ataque triplo. Ele era um
homem alto e forte, usava uma camisa regata preta, calças e botas de igual cor
e não estava sozinho, com as mãos na nuca e ajoelhadas no chão estavam Adriana,
Gabriela e Clara, o terceiro apontava sua arma para as cabeças das moças,
Adriana chorava, Gabriela desesperou-se ao ver Daniel, Clara gritou.
-
DANIEL!
- O
príncipe encantado chegou em sua carruagem. – Disse o terceiro zodíaco – Pensei
que não chegaria a tempo de salvar a princesinha em apuros. – E assim que o
disse lambeu o rosto de Clara num tom pervertido de provocação.
-
Se você tocar mais um dedo que seja nela, eu... – Daniel irou-se, seus olhos
estavam cheios de veias.
-
Você o que? Vai me bater? Por favor... Dê graças a Deus que eu ainda não pude
fazer nada com ela... Ainda – Daniel ficou ainda mais irritado e ameaçou
avançar no criminoso, mas parou assim que o mesmo fez um gestão de calma com a
mão a fim de o fazer ouvir, sua face demonstrava o quanto ele estava
sadicamente divertindo-se com aquilo .- Então vamos começar o jogo, escolha uma
delas que imediatamente eu matarei as outras duas. Se quiser um palpite eu
pouparia à ruiva, pois ela é mais encorpada, he, he, he...
O
maligno estava a encarar o detetive loiro com sua sádica expressão de prazer.
Todos
ficaram calados, as garotas se entreolharam, Adriana e Gabriela sabiam que não
tinha mais volta e que certamente Daniel escolheria Clara, no entanto, ele
mesmo já não tinha tanta certeza, não que ele não a amasse, mas o fato de ter
que escolher alguém para sobreviver, ou melhor, escolher quem vai morrer era um
desafio para o garoto, ele não podia simplesmente dizer que preferia que a
namorada continuasse viva, pois jamais conseguiria viver com o fardo de ter
feito uma escolha que matou suas amigas, sua cabeça já estava tonta de tanto
pensar, quando, de repente, ele fez a escolha mais louca e também a mais
irresponsável.
-
AAAAAAAAAAAAAH! – Furiosamente gritou Daniel ao avançar a toda em seu inimigo.
-
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, IDIOTA? – O zodíaco deu dois disparos antes de cair,
em vão, pois Daniel conseguiu segurar o braço do mesmo antes que ele tivesse a
oportunidade de balear o garoto o que fez com que as balas não o atingissem.
Os
dois começaram a digladiar-se, Daniel segurava os dois braços de seu adversário
fazendo com que eles pudessem valer-se apenas das pernas da luta. Chutes,
cabeçadas, rasteiras, pontapés... Os golpes pareciam não ter fim e Daniel
parecia não ir bem, já estava bem machucado e sangrando enquanto o zodíaco
ainda demonstrava o mesmo vigor que tivera desde o começo da luta.
-
Aceite o seu fim, moleque, não tem jeito pra você, me solte que eu lhe prometo
pensar em não abusar da sua namorada na sua frente!
O
zodíaco estava quase soltando suas mãos, e sorria predizendo sua vitória, as
garotas começaram a gritar e o desespero subia a garganta do jovem detetive,
foi quando sem opções ele valeu-se de uma medida impensada.
-
NÃÃÃÃÃÃOOOO, DAANIEEEEEL!!! – Clara estava desesperada com a cena.
Daniel
usou o peso de seu corpo saltando sobre seu inimigo fazendo com que ambos
caíssem da sacada do primeiro andar.
Clara
vomitou sangue assim que viu a cena, Adriana estava paralisada, simplesmente
sem ação e Gabriela não parava de chorar, o bandido se fora, mas levou Daniel
junto com sigo, um minuto de silêncio se seguiu, até que elas avistaram uma mão
que parecia pendurar o peso de seu corpo no chão da sacada.
-
Não é possível. – Gabriela enxugava as lágrimas. – Daniel deu a vida pra nos
proteger e você ainda está vivo? – Ela se levantou. – Não vai ter tanta sorte
dessa vez.
Gabriela
saiu correndo na pretensão de terminar o trabalho que seu amigo havia começado,
em sua cabeça borbulhavam milhares de pensamentos e emoções, aquele garoto tão
tosco e arrogante que ainda a pouco brigara com ela parecia valer mais do que
qualquer tesouro, seu coração estava apertado, uma mistura de tristeza e ódio,
uma alquimia pra lá de perigosa. Ela corria e levantou o pé a fim de pisotear a
mão do zodíaco até que ele caísse, mas assim que as lágrimas deixaram seus
olhos permitindo que ela enxergasse melhor ela viu algo que jamais esperou.
-
Da... Daniel? – Sua expressão passava de surpresa a felicidade.
-
Por favor, não faça isso de novo, por um momento pensei que você realmente ia
me fazer cair de vez. – Ele sorria e fazia sinal de positivo com a mão que
estava livre. – Vem, me ajuda a subir!
Prontamente e muito feliz a amiga fez o que
lhe foi pedido e Daniel subiu sem mais problemas.
A
tristeza que outrora tomava os corações que presenciaram a cena agora parecia
jamais ter existido, um sentimento de alívio e de alegria geral tomou conta de
todos... Até agora.
-
CLARA! – O loiro gritou ao ver sua namorada. – O que foi que houve?
Ele
ajoelhou-se junto a ela e percebeu a situação horrível da qual a pobre se
encontrava. Uma das balas que foram desviadas a pegou em cheio no ombro direito,
e agora ela sangrava horrivelmente pelo mesmo. Daniel a pegou em braços e a
suspendeu junto a seu peito com todo o carinho e atenção do mundo a fim de não
a ferir ainda mais. Os olhos dos dois encheram-se de lágrimas, e a alegria que
rapidamente tinha chegado aos seus corações foi embora com a mesma velocidade
que veio.
-
Clara... Meu Deus... Eu não queria... – As frases não conseguiam sair completas
da garganta do rapaz.
-
Eu sei... COF! – ela tossiu expelindo mais uma onda de sangue pela boca. – Eu
sei, amor... Ninguém queria...
-CHAMEM
A AMBULÂNCIA! RÁPIDO, CHAMEM A AMBULÂNCIA! – Ao ouvir o pedido de Daniel as
duas amigas desesperadamente pegaram o celular de seus respectivos bolsos.
-
Calma, não é preciso. – Clara interveio. – Eu trabalho com gente morta todo
dia, sei quando não tem mais jeito. COF! COF!
-
Não fala assim Clara, tudo tem jeito sim, a gente vai dar um jeito, a gente
vai... – Clara elevou os dedos aos lábios do namorado fazendo-o carinhosamente
calar-se.
-
Que engraçado, não é? Parece até conto de fadas, até que a morte os separe... –
Serenamente ela sorria.
O
rosto de Daniel estava vermelho de tanto chorar. – Sua boba... Eu... – Ele
aproximou seus lábios aos dela. – Eu te amo.
Um
longo beijo de despedida foi concretizado naquele momento, os lábios de ambos
estavam delineados com sangue. Igualmente aos seus lábios as lágrimas dos dois
se encontraram e enfim, como tudo acaba, até mesmo a vida, o beijo cessou.
-
Eu te amo, Daniel... Te amo...
Ela
fechou pesadamente os olhos e uma serena e calma expressão tomou conta de seu
rosto.
Clara está morta.
10ª Suspeita: Recomeço
Clara está morta...
Logo após o
falecimento da jovem namorada de Daniel os dois zodíacos restantes sumiram. A
garota que estava armada jogou uma bomba de fumaça no chão o que deu brecha
para que seu comparsa pudesse fugir junto a ela e Davi nada pôde fazer, pois
seria muito arriscado correr naquela fumaça, pois se caísse e deixasse com que
a arma escapasse de suas mãos ele não teria mais nada que o protegesse.
O terceiro
zodíaco morreu logo após cair da sacada. Depois disso, Clara que se foi...
Dia 17 de maio
de 2013, sexta-feira, nublado, Salvador, cemitério parque bosque da paz ,
15h33min da tarde.
Todos estavam de
preto, assim como o céu que os ameaçava com sua trovoada incessante. Lágrimas
corriam pelo rosto de praticamente todos os presentes. Daniel estava
irremediável. Perder a namorada que tanto amava de forma tão brutal, morta em
seus braços, era demais pra ele, era um fardo que ele não poderia aguentar.
Davi, Adriana, Gabriela e Órion também estavam presentes, todos devidamente
vestidos para a ocasião.
Por fim, o corpo
de Clara chegou protegido por um caixão robusto e muito bem ornado em detalhes
dourados, a cor favorita da falecida. Seus pais choravam mais do que qualquer
coisa. Seu irmão mais novo já tinha covas no rosto de tanto que chorara até
então.
O padre que
estava no local fez algumas considerações, falou sobre o quanto aquela jovem
era promissora e a falta enorme que ela faria nos corações de todos ali
presentes. Ele falou bastante, quase o mesmo tanto que falou durante a homilia
da missa celebrada a pouco justamente em nome de Clara. Mais algumas orações e
preces, vários minutos de silêncio e finalizaram o sepultamento, repousando o
caixão dentro da cova feita especialmente para ele, enchendo-a de terra logo em
seguida.
O número de
flores que ornavam a sepultura poderiam sozinhas formar um dos mais belos
jardins já vistos, uma coisa tão linda para honrar a triste morte de uma jovem
garota que ainda tinha uma vida toda pela frente.
Começou a chover.
Todos procuraram por abrigo numa casinha próxima, menos Daniel, a esta altura
ele já estava encharcado, mas ele pouco ligava para isto, ele não ligava pra
mais nada.
- A gente tinha
tantos planos... Tantas coisas que eu queria viver com você... E no fim, apesar
de tudo o que eu fiz, de toda a minha infantilidade, de todos os meus erros,
você sorria pra mim... Eu preferia muito mais que eu estivesse nessa cova agora
e não você, você não merece...
O jovem caiu de
joelhos e assim que eles chegaram ao chão ele soltou um urro de indignação, todos
puderam ouvir.
Um guarda-chuva
pairou sobre Daniel, fazendo com que ele não viesse a se molhar ainda mais. O
loiro nem se deu ao esforço de olhar para cima, seu rosto não transmitia
expressão alguma além de dor, dor e sofrimento inigualáveis.
-Vamos meu caro,
não perca a compostura. – Daniel enfim olhou para cima e o que viu foi um homem
alto de cabelos e barba castanhos , ele era um tanto encorpado com mãos brutas,
mas usava roupas finas, um terno de marca junto a uma gravata, camisa calça e
sapatos de igual magnitude, ele olhava para Daniel e sorria para ele num tom de
serenidade e confiança sem igual, seu sotaque soava um tanto norte americano, o
que evidenciava que se tratava de u estrangeiro. - Eu compreendo sua dor, mas
deixar-se abater por ela de forma a expor-se aos males da chuva não lhe trará
bem algum. Não creio que esta jovem donzela que aí foi sepultada apreciasse que
sua pessoa viesse a adoecer por conta desta chuva.
- Quem... Quem é
você?
- Eu? Ora, isto
pouco importa. Sou um homem de negócios e esta jovem que aí está era filha de
um de meus melhores clientes. Meu nome é Carl Reymond, dono das empresas de propaganda
e publicidade See! corporations.
- Sei... Meu nome
é Daniel. Agradeço a sua ajuda senhor Reymond, mas não quero sair daqui agora,
tenho muito pra pensar antes de ir embora.
- Entendo, a dor
que o abate é tão profunda que não o permite sair de seu estado de luto. Pois
bem meu jovem, o deixarei em paz, mas tome, leve meu cartão, pode parecer
estranho mais me afeiçoei a você, caso necessite de alguma coisa sobre os
problemas de sua instituição de ensino pode me procurar por este número que eu
prontamente o atenderei.
Em seguida
Reymond deixou Daniel na chuva uma vez mais. Ele já estava de costas quando
Daniel o chamou.
- Reymond!
- Sim, diga-me.
- Como sabe dos
problemas que estão ocorrendo em minha escola?
- Ah, homens como
eu tem uma vasta rede de informações, afinal de contas, por mais que isso possa
a lhe abater confesso que o caso que sua instituição de ensino se encontra no
momento é instigante. Estou curioso para saber o final desta investigação.
Quero saber qual dos lados irá ganhar, o voraz e genial assassino ou a
magnífica dupla de detetives. – Reymond deu um leve sorriso.
- Isso não é um
jogo, vidas humanas estão em risco... Clara foi uma delas.
- A vida é um
jogo, caro amigo, independente do que está em risco. Tudo não passa de um
grande jogo cheio de trapaças e armadilhas preparadas pelos mais bravos e
cruéis algozes existentes.
- Você sabe
demais e fala num tom que me desagrada, não percebe que neste exato momento
você está entrando pra a minha lista de suspeitos número um?
- Sim, eu sei, no
entanto peço que compreenda que apenas fiz um comentário que achei pertinente,
afinal de contas sei que um detetive tão hábil quanto você é capaz de achar o
assassino antes que ele faça sua próxima vítima.
- Próxima vítima?
– Daniel deu uma risada de leve e em seguida seu rosto foi tomada por uma
furiosa e assustadora expressão. – ELE vai ser a próxima vítima, não vou
descansar até acha-lo, busco ele no inferno se for necessário.
- Hu,hu, hu. –
Após terminar de rir o homem de preto voltou a andar em direção a uma limusine
preta que acabara de chegar às portas do cemitério. – A determinação de um
jovem é algo atípico atualmente, estou ansioso por notícias suas senhor Daniel,
nos veremos novamente, até lá, mantenha-se vivo, pois não gostaria de vir a
outro enterro tão cedo, pois é muito desgastante, até mais e tenha um bom dia.
- Até. – Daniel
acenou ao homem que o respondeu com um sorriso antes que o carro desse a
partida e saísse do local instantes depois.
O carro sumiu no
horizonte.
Daniel ficou
alguns instantes a contemplar o cartão que lhe foi dado pro Carl Reymond, era
um belo carão contendo o telefone, website e endereço da See! corporations que
curiosamente era uma empresa multinacional que trabalhava com publicidade e
propaganda (desde comercias até criação de logo marcas ou slogans).
Por fim, Daniel
guardou o cartão no bolso de sua calça e dirigiu-se na direção do carro de sua
mãe (um Corolla prateado 2009) onde a mesma o esperava para voltar pra casa.
Enquanto andava Daniel pôde ver que seus amigos já estavam no carro a sua
espera e neste momento ele decidiu que não perderia nenhum deles nem que para
isso ele tivesse que matar o zodíaco com suas próprias mãos.
Uma nova fase da
investigação começava.
Dia 20 de maio de 2013, segunda-feira, sol, IFBA,
campus Simões filho, 14h21min da tarde.
Apesar de na
maior parte das vezes os estudantes do IFBA detestassem sua escola nunca se viu
um dia em que ela estivesse tão silenciosa e deprimente quanto hoje. Por
incrível que pareça todos os estudantes estavam na instituição assistindo suas
respectivas aulas, o silêncio não provinha da falta de alunos, mas sim do
desespero que assombrava a todos. Mesmo não querendo estar ali os jovens do
IFBA não se ousariam a cabular aula, até por que por mais que sua mãe parecesse
assustadora quando o assunto fosse faltar a aula um serial killer que lhe
ameaça de matar caso o faça é bem mais intimidador (ao menos na maioria dos
casos).
O intervalo
acabara de soar e todos, inclusive os professores, saíram de suas salas sem um
pingo de ânimo. Ao saírem puderam notar
que várias cadeiras estavam dispostas no corredor e no final do mesmo Daniel e
Davi estavam em pé, cada um com seu respectivo microfone, junto a eles estava
todo o aparato necessário para o bom funcionamento dos aparelhos de áudio. Ao
verem a cena os estudantes captaram logo à mensagem e sentaram nas cadeiras a
espera do que os detetives tinham a dizer.
- Boa tarde,
galera – Davi iniciou a conversa, apenas meia dúzia de pessoas respondeu a sua
saudação – Acho que nem precisamos nos apresentar, né? Depois da semana passada
creio que todos aqui já nos conhecem. Bem... Primeiramente eu gostaria de
agradecer ao grêmio da escola por nos ajudar a fazer essa reunião de última
hora – Um dos estudantes do grêmio levantou a mão direita formando um “V” com
seus dedos indicador e médio em sinal de aprovação – Eles deram a maior força
com a reunião que fizemos de manhã e se prontificaram a fazer o mesmo com a
reunião que vamos fazer de a noite com a galera do subsequente.
- Diz logo o que
você tem pra falar! – Gritou um estudante que estava sentado no fundo.
- O.k. – Davi
tentou disfarçar a raiva quanto ao comentário – Como todos sabem eu e meu amigo
Daniel somos detetives profissionais prematuros – Ele olhou para o amigo que
fez um sinal de “sim” com a cabeça encorajando-o a continuar - Nós já estamos nessa vida há três anos e já
vimos muita coisa, mas confesso que nunca vi nada igual ao caso desse colégio.
Os assassinos tem feito o que bem querem, a policial não sabe nem ao menos pra
onde ir e mesmo nós não conseguimos fazer nada... – Com um olhar de tristeza o
jovem fitava o chão – Sei que as coisas estão ficando complicadas, mas temos
que continuar a investigação, caso contrário todos morreremos, mas para isso
precisamos da ajuda de vocês, precisamos que continuem a frequentar as aulas
normalmente, mesmo que fiquem doentes ou machucados venham pra escola, é melhor
do que morre. Ainda não sabemos onde os assassinos estão ou quem são eles,
precisamos de tempo para descobrir isso e não quero que nenhum de vocês morra
durante esse tempo.
- É mesmo? –
Disse um aluno que estava sentado logo à frente – Por que não disseram isso
semana passada? Minha irmã morreu justamente por causa disso no ataque de
terça-feira.
- Mas a diretoria
tinha avisado vocês de que...
- NÃO IMPOTA! –
Gritou a menina que interrompeu Davi no canto direito do corredor – VOCÊS NUNCA
VÃO PEGAR O ASSASSINO, ESTAMOS TODOS MORTOS!
- Nós sentimos
muito pessoal, mas é que...
- QUE DETETIVES
SÃO ESSES QUE NÃO CONSEGUEM FAZER NADA? – Gritou um terceiro que foi
prontamente seguido por todos os seus colegas.
- CALEM A BOCA! –
O grito de Daniel fez com que todos ficassem em silêncio quase que no mesmo
instante – ESTÃO CANSADOS DISSO TUDO? QUEREM UMA SOLUÇÃO? SE ESTÃO ACHANDO RUIM
DESAFIO A FAZEREM MELHOR. ESTAMOS NESSA MERDA HÁ UM MÊS E EU JÁ NÃO AGUENTO
MAIS ESSE BANDO DE IDIOTAS QUE FICAM APENAS OLHANDO E FALANDO MAL DO NOSSO
TRABALHO. QUEREM RESULTADOS? ENTÃO AJAM DE ACORDO OU MORRAM!
A reação da
maioria das pessoas para com um discurso deste em geral é vaiar, xingar ou até
mesmo agredir a pessoa que o fez, no entanto todos permaneceram quietos. Daniel
estava com uma cara horrível e todos perceberam que ele não estava de
brincadeira. Davi olhou para o companheiro com um tom de surpresa, nem mesmo
ele esperava por esse ataque de raiva repentino.
- Er... Daniel,
acho melhor irmos com calma...
- Já tivemos
calma por tempo demais – Daniel continuava a encarar seus colegas de escola sem
jamais desviar o olhar ou afrouxar os punhos que estavam quase estourando de
tão fechados – As coisas agora vão ser diferentes, para continuarmos a
investigação precisamos que nenhum de vocês faça besteira, venham pra a escola
e pronto, se tiverem algo que possa ajudar quero que falem agora.
Ninguém se
pronunciou, uns por medo, outros por indiferença, mas o silêncio continuou a
reinar.
- Pois bem, se
mais ninguém tem nada a dizer considero esta reunião por encerrada, até mais e
tentem manterem-se vivos – Finalizou Daniel.
Um burburinho se formou
e depois de cinco minutos de conversas internas e de discussões sobre o assunto
todos saíram do local, apenas Davi e Daniel permaneceram exatamente no mesmo
local em que estavam.
- Acho que você
não vai ficar muito popular entre as garotas agindo dessa forma... – Davi
tentara animar o colega.
- Não quero ficar
popular entre as garotas, a garota que eu amava morreu há seis dias.
Uma resposta
inesperada, Davi permaneceu em silêncio e abraçou o amigo dando-lhe alguns
tapinhas nas costas.
- Vamos pra a sala,
cara, a aula já vai começar.
- Certo... –
Encerrou o loiro.
O restante do dia
seguiu normalmente, as mesmas aulas maçantes, os mesmos horários de sempre até
que enfim o relógio bateu dezoito horas e todos os alunos foram liberados de
suas casas para irem pra casa.
Quando a dupla de
detetives estava passando pelo corredor puderam ver que algumas garotas estavam
a comentar o quanto eles eram prepotentes e arrogantes, mas tentaram disfarçar
assim que viram que os dois estavam olhando para elas.
- As coisas estão
feias... – Davi olhava compenetrado para o nada – Nem nossos colegas estão
confiando mais em nós.
- E por que
deveriam confiar? Nem mesmo eu confiaria, eles apenas estão tentando colocar a
culpa em alguém por todos esses desastres que têm acontecido, é normal que eu e
você ficássemos sobrando. – Daniel andava enquanto seus olhos focavam o chão.
- Ei, alô? É
mesmo com o Daniel que eu conheço que estou falando? Cara, nós não temos culpa
de nada, eu sei que essa coisa de Clara foi muito chata, mas não tem jeito,
velho. Vamos continuar investigando e quando terminarmos tudo volta ao normal
como sempre acaba.
- Não, Davi, não
vai voltar nada ao normal, por minha culpa Clara acabou morrendo... Se eu fosse
um pouquinho só mais rápido, se eu... – Uma tímida lágrima corria pelo rosto do
rapaz, rosto este que ele prontamente abaixou assim que notou seu estado.
Davi ficou um
tempo calado, nada se ouvia a não ser as pacatas conversas estudantis que
brotavam aqui ou ali. Daniel pôde ouvir o escolar chagando, mas continuou
imóvel com os olhos fechados tentando ao máximo reprimir o choro, foi quando,
de repente, ele sentiu um calor em seu corpo, algo o tocara e ele pôde sentir
um leve perfume de rosas próximo ao seu rosto, um perfume feminino de alguém
que lhe abraçara com toda a delicadeza e o carinho possíveis.
- Daniel... –
Disse a garota ruiva que o chamara – É Gabriela, sabe, eu e Adriana ainda
estamos vivas e lindas como sempre, se você fosse mais lento todas nós,
inclusive você estaríamos mortos, talvez até Davi já estaria no caixão, ninguém
sabe. Você fez um trabalho ótimo tentando salvar a todos, mas infelizmente não
podemos fazer tudo, no entanto, por sua causa nós estamos aqui e é aqui que
queremos continuar, bem ao seu lado. Você é um cara legal, Dani, com certeza
vai passar por essa barra e vai se orgulhar de ser “Daniel, o grande salvador
da IFBA Simões Filho”. Só não se orgulhe muito disso, tá? Ninguém gosta dessa
escola.
O rapaz deu uma
risadinha quase inaudível e levantou a cabeça, estava com um leve sorriso, mas
uma lágrima ainda corria por sua bochecha. Gabriela secou sua lágrima com um
toque de seus dedos e o acariciou o rosto logo em seguida, beijou-o no lugar
onde a lágrima estivera á pouco, e olhou novamente para o rapaz que agora
sorria de forma mais desinibida.
- Foi só dessa
vez, viu? Vê se não se acostuma, só vai ganhar outro se ficar bem logo – A
ruiva sorriu.
- Ah, tá... Eu
nem queria mesmo – O jovem começou a rir e notou que Adriana também estava
presente e lhe dava carinho em seu ombro – Bem, pessoal, acho que realmente
ficar triste não combina muito comigo não, vamos andando que vou me gabar desse
beijo de Gabriela pro resto da vida.
Todos riram quase
que no mesmo instante, a alegria que eles não viam há quase uma semana voltou
completamente como num passe de mágica.
A esta altura o
ônibus escolar já tinha ido embora e os adolescentes não viam outra opção a não
ser irem andando até o ponto de ônibus que ficava a uns vinte minutos de
caminhada dali, sem demora eles começaram a andar até que Daniel chamou seu
amigo.
- Ei, Davi,
espera um minutinho aí.
O amigo atendeu
ao pedido prontamente e pediu para as garotas irem andando prometendo a elas
que logo as alcançaria. Quando as duas finalmente deram de costas Daniel
começou a falar.
- Cara, só vocês
mesmo pra me fazerem rir, há, há.
- Pois é, né...
Mas anda logo, eu sei que você não me chamou aqui só pra falar disso, as
meninas já estão com pressa, esse momento te fez bater aquela inspiração, não
é?
- Você nunca
muda, direto como sempre – Daniel deu uma risada e elevou o indicador direito
na altura da boca com um sorriso pra lá de confiante – Pois bem, eu realmente
tive uma ideia que vai nos ajudar em muito na investigação, conheci uma figura
interessante nessa sexta-feira. Não acho que Clara ficaria feliz de me ver
assim pra baixo, nem pareço eu, temos que continuar esse caso, o show não pode
terminar!
- É isso, cara,
então para onde vamos agora?
- Ah, dessa vez
vamos dar uma passadinha lá em Copacabana. Nossa próxima parada é o Rio de
Janeiro, vamos para a See! Corporations.
11ª Suspeita: Recomeço
Dia 1 de junho de 2013, sábado, sol, aeroporto
internacional de Salvador, 08h03min da manhã.
Apesar de o dia ter começado a pouco o aeroporto
internacional de Salvador já estava bem movimentado, ainda mais por conta de
que era mês de julho onde muitas escolas estariam de recesso junino na Bahia,
menos o IFBA, por conta de seus naturais atrasos letivos que acontecem na maior
parte dos anos. Eram famílias inteiras voltando pra casa, namorados se reencontrando,
amigos indo viajar, o silêncio parecia estar de férias aquela manhã o que não
impedia Daniel de estar babando num dos bancos da sala de embarque.
- Ei, dorminhoco – Dizia Davi enquanto ria da situação – Já
está na hora de embarcarmos. Logo, logo nosso avião sai.
- Só mais dez minutinhos... – Daniel bocejava.
- Vamos, Dan. Assim você vai perder o avião! – Gabriela
estava com a cabeça de Daniel em seu colo, o que deveria ser muito incomodo por
conta do rio Amazonas que ele despejava de sua boca, até então ela acariciava a
cabeça do amigo, mas parou para que o mesmo pudesse levantar-se.
- Liguem pra nós assim que chegarem – Adriana repreendia
enquanto ajudava Davi com algumas malas.
- Ei, assim está até parecendo a minha mãe.
- Como é, Daniel? – A mãe do loiro estava presente com sua
saia azul escuro até depois dos joelhos, sua camisa de manga grande magenta,
seus salto altos negros e seu natural cabelo loiro, um tanto grisalho pela
idade, mas predominantemente dourado. A presença da mesma surpreendeu seu filho com esta fala.
- Ih, a senhora está aí, né? Tinha até me esquecido... Olha,
o avião já vai sair, até mais. – E dizendo isso o rapaz correu até o embarque
antes que sua mão o trucidasse.
- Até mais pessoal. Prometo que vamos voltar com boas
notícias. – Davi seguiu o amigo até o embarque depois de abraçar suas
acompanhantes.
- Tchau. – Disseram as três mulheres em uníssono.
Enquanto os dois entravam no embarque e passavam pelo
detector de metais, Gabriela estava a pensar o que esta viagem daria ao fim
disso tudo, se ela era realmente a chave para acabarem com este infindável
ciclo de matanças de sua escola. “Espero que voltem bem... “ assim pensava ela.
O avião partiu.
Dia 1 de junho de 2013, sábado, sol, Rio de
Janeiro, aeroporto, 10h51min da manhã.
Pelo fato de ter feito escala no Espírito Santo o avião
acabou demorando um pouco mais do que o esperado para chegar ao seu destino. A
esta altura do campeonato os rapazes já tinham avisado as suas mães e amigas de
que já chegaram à terra carioca e que estavam instalados em um hotel próximo ao
centro do estado chamado lady sereia, um local que não era nem extremamente
chique nem precário em nenhuma de suas formas de atendimento.
Mais algum tempo se passou e agora as bagagens dos jovens já
estavam devidamente desarrumadas com a maior parte de suas coisas nas camas, no
entanto, eles já não mais estavam no quarto.
Dia 1 de junho de 2013, sábado, sol, Rio de
Janeiro, centro, 15h13min da tarde.
Um prédio enorme de vinte andares
com as paredes totalmente feitas de vidro azul escuro, esta era a aparência da
sede da see! Corporations e bem a sua frente estava a dupla de detetives
prontos para entrar no edifício.
- Muito bem... Qual é o plano,
Daniel?
- Bem... Essa parte eu não pensei,
mas acho que podemos simplesmente bater na porta e entrar, não acho que vão
lançar laser na gente por causa disso.
Davi não gostou da resposta do
amigo, apesar de que ele já deveria ter imaginado isso, vindo de Daniel isso é
algo comum de acontecer.
Ao entrarem no prédio os jovens
depararam-se com uma enorme sala de recepção que sozinha preenchia todo o
térreo. O piso do local era todo de vido também, o que dava um toque de luxo
sem igual ao estabelecimento.
Assim que entraram, logo eles
perceberam um grupo de pessoas, todos jovens de vinte e tantos anos, e notaram
pelas mochilas deles que aquilo se tratava de uma excursão dos alunos do curso
de publicidade da UFRJ.
Daniel, matreiro como sempre,
sorriu para o companheiro que entendeu no mesmo instante e o seguiu para
misturarem-se aos estudantes. Os dois ficaram mais ao fundo a fim de não
chamarem atenção ou serem vistos pelos possíveis professores que estivessem
guiando os alunos na excursão.
Após subirem para o primeiro andar,
divididos em duas turmas para que todos coubessem no elevador, os alunos
puderam ver um enorme corredor com vários quadros e um tapete vermelho assim
que a porta do mesmo abriu-se.
Assim que lá chegaram o professor
responsável deu sinal verde para que o guia da excursão começasse seu trabalho.
- Boa tarde, meu nome é Fábio Filho
e serei o guia de vocês de hoje – Ele andou alguns passos que foram prontamente
seguidos por todos os presentes e parou junto ao primeiro quadro que tinha uma
fotografia preto e branco de um homem de bigode de meia idade, na legenda da
fotografia estava escrito “John Reymond” – Este aqui é nosso fundador em uma
fotografia que data de 1925 quando ele tinha 26 anos, seu nome é John Reymond e
foi ele que criou técnicas de publicidade que usamos até hoje para atender
nossos clientes .
O guia andou um pouco mais e chegou próximo a
outro quadro juntamente aos estudantes. Este quadro mostrava John trabalhando
dentro de uma sala de redação de jornal.
- Reymond era um homem simples que
trabalhava no The New York Times. Ele escrevia artigos que falavam sobre
notícias menores e com pouco tempo passou a escrever todas as matérias que
estampavam as capas do jornal. O senhor John nunca gostou muito da forma com
que diagramavam e elaboravam as capas da Time e vivia dando ideias para
incrementar a mesma. Dizem que apenas com suas novas ideias para deixar as
capas mais chamativas a Times passou a vender cinco por cento a mais do que
antes. Com a grande depressão de 1929 as coisas se complicavam, mas com sorte o
senhor John conseguiu permanecer no emprego e justamente nessa época que ele
teve de sustentar o jornal nas costas, pois as capas deveriam ser cada vez mais
chamativas ou as vendas despencariam ainda mais de forma que foi justamente
nesse tempo que ele aperfeiçoou muito suas habilidades nesse quesito. Em 1940,
pouco depois do início da segunda guerra mundial o governo americano começou a
investir pesado em propaganda para que os jovens viessem a alistar-se no
exército e novamente John Reymond apareceu para fazer os cartazes que estariam
presentes nas ruas na intenção de trazerem novos soldados ao país. Segundo
pesquisas o crescimento de alistados foi de trinta por cento em relação ao
período em que o senhor John ainda não trabalhava com os cartazes, ele
simplesmente era uma estrela em se tratando de chamar atenção e publicidade ao
ponto de que em 1947 já em seus quarenta e oito anos Reymond enfim abriu a See!
Corporations que começou muito simples e pequena, mas cresceu de forma
espantosa em questão de pouco tempo. Logo à frente vocês podem ver um dos
cartazes que foram elaboradas para a guerra...
O guia seguiu para de junto do
cartaz que estava exposto a uns dois metros de distância da fotografia que ele
explicara há pouco e foi prontamente seguido pelos estudantes. Ele tinha
acabado de fazer outro discurso enorme sobre o cartaz, explicando sobre técnicas,
fontes e etc... Davi já estava aproximando-se quando sentiu um puxão na parte
de trás da gola de sua camisa e quando virou-se para ver o que era percebeu que
era Daniel chamando-o para sair dali.
- Pelo amor de Deus, não aguento
mais esse casa falar, vamos sair daqui – O loiro fazia uma expressão de agonia
sem igual.
- Sim, você é louco? Se sairmos
daqui vão nos notar, vamos aproveitar essa excursão escolar, estamos
conseguindo muita informação – Davi tomava cuidado de manter um tom de voz
baixo para que ninguém pudesse escutá-lo.
- Mas não são essas as informações
que queremos, não vamos pra lugar nenhum aqui, e já vi algo bem mais bacana –
Ele apontou para uma sala que estava fechada logo ao lado de elevador, em sua
porta estava escrito: “Acesso permitido apenas a pessoas autorizadas!”.
Davi mexia na maçaneta da porta
precavendo-se de forma que ninguém percebe-se – Está trancado.
No mesmo instante saiu do elevador
um homem trajando todo um uniforme próprio para laboratório: luvas, máscara e
jaleco branco. Ele carregava uma maca com algumas caixas pesadas com algum
componente desconhecido e pediu ajuda aos dois amigos para abrirem a porta com
sua chave e o ajudarem a fazer passar aquela maca enorme pela porta. Daniel não
perdeu a oportunidade e em conjunto com seu amigo conseguiu fazer o que lhes
foi pedido com muita facilidade. O homem agradeceu e saiu esquecendo-se de
trancar a porta.
- Eu já ouvi falar que tem dias que
você acorda com toda a sorte do mundo, mas isso aqui já é um absurdo – Davi ria
da situação.
- Sorte? Não meu amigo, foi tudo
completamente planejado em seu mínimos detalhes, eu já sabia que aquele homem
passaria aqui mais cedo ou mais tarde, e ele chegou exatamente na hora que
pensei, por isso que eu não estava com pressa. – Daniel falava num tom de
superioridade sem igual.
- Completamente planejado? Tá Certo
Daniel, você é um gênio – Davi revirava os olhos enquanto ironizava seu
companheiro – Vamos logo, se demorarmos muito seremos pegos.
- Certo.
Sem demora os dois adentraram
aquele corredor que tanto os chamava atenção.
Eles passaram por várias portas a
espera de alguma que pela sua placa de entrada os pudesse guiar no meio daquela
situação, tiveram de se esconder entre os corredores duas ou três vezes quando
alguns guardas ou funcionários apareciam de repente, ficaram andando por quase
cinco minutos até que Davi queixou-se ao amigo.
- Cara, o que diabos você está
procurando?
- Algo que possa ajudar – Daniel
estava junto a Davi abaixado próximo a entrada de uma encruzilhada de corredores
– Você não acha estranho a roupa daquele cara que nós ajudamos antes de entrar
aqui? Isso aqui é uma agência de publicidade e ele parecia mais que estava inda
para algum tipo de laboratório... Não faz sentido algum.
- E o que você queria achar? Um quartinho
escuro com um cientista maluco e o Frankenstein dentro?
- Não, quase isso, mas é um pouco
diferente. Vamos, o guarda já passou.
Os dois estavam sempre tomando
cuidado para que as câmeras dos corredores não os flagrassem, sempre visando
passar pelo seu ponto cego, o que ao menos até ali estava funcionando com
perfeição.
Eles passaram por várias portas:
setor estratégico, relações internacionais, central de atendimento... Até que
acharam um que parecia ser algo interessante.
- “Setor de pesquisa e desenvolvimento
estratégico de controle de ideias”, bom nome, muito grande e bem a cara de
coisa do mal.
- Sem brincadeira Daniel, vamos
entrar, estou sentindo que vamos achar alguma coisa bem relevante aí.
Os dois olharam pelo vidro que
ficava a frente da porta da sala, esperaram alguns segundos até perceberem que
todos estavam de costas e com um barulho quase que inaudível abriram a porta de
leve, de forma que ninguém percebeu. Entraram e fecharam a porta.
A sala estava cheia de computadores
e estantes com vários livros e alguns armários cheios de documentos.
Os dois amigos rolaram e já ficaram
escondidos atrás de uma das estantes, estavam suando frio, pois podiam ser
pegos a qualquer hora.
Davi puxou um livro que falava
sobre mente humana e ele naturalmente estranhou, mas nada que fosse tão
estranho ao ponto de fazê-lo investigar, no entanto, assim que ele fechou o
livro percebeu que Daniel já não estava mais lá. No mesmo instante o rapaz ficou
desesperado, se pegassem Daniel o plano iria por água a baixo e eles não
conseguiriam informação nenhuma. Já estava quase enlouquecendo quando viu a
ponta de um tênis all star que lhe era muito bem conhecido próximo a uma
escrivaninha. Sem demora ele olhou ao redor, percebeu que ninguém estava
notando-o e rolou para de junto da escrivaninha. Daniel quase gritou de susto
ao ver o amigo que prontamente tapou sua boca assim que percebeu o risco de ser
descoberto.
- Você é maluco, Daniel? Que merda
você tem na cabeça pra sumir assim?
-Miffi fazzfariffi.
- Hã? Ops – Davi tirou a mão da
boca do detetive.
- Eca, sua mão ainda está com gosto
do doritos que a gente comeu na praia, você ainda não lavou?
- Não, nem tive tempo, ao contrário
de você eu não lambo os dedos.
- Sim, deixe meus dedos e minhas
manias lá, de toda forma acho que encontrei alguma coisa bem bacana aqui, Davi.
Daniel estava com uma pasta em mãos
e abriu para que seu colega pudesse ver o que ele estava contemplando há pouco.
Lá estavam vários documentos com pesquisas sobre o cérebro humano e os efeitos
que as drogas poderiam gerar nele, era tudo muito detalhado e com referências
de vários livros e doutores especializados no assunto.
- Bem, eu acho que isso aqui não é
pra fazer propagando de drogas, é?
- Você é um gênio Daniel! Agora as
coisas estão começando a fazer sentido.
- Sim, certamente estão – Disse um
guarda que olhara para os dois amigos por cima da escrivaninha.
- Ah... Oi – Daniel tentava manter
o controle – Somos estudantes que viemos na excursão da UFRJ, mas acabamos nos
perdendo, garanto que se nos mostrar a saída não traremos mais prob...
- Digam isso ao meu chefe, vocês
vem comigo.
O homem fez um sinal com a mão e
mais três guardas apareceram para ajuda-lo. Daniel e Davi nem tiveram chance de
reagir.
Durante o percurso eles tentaram
fugir duas ou três vezes, no entanto o máximo que conseguiam era algumas belas
pancadas nas costas ou na cabeça. Daniel já tinha uns três hematomas, tanto por
tentar fugir quanto por ser desbocado.
Por fim eles foram de elevador até
o último andar do prédio e entraram na sala da administração, assim que
adentraram o recinto puderam ver várias pessoas trabalhando e no final do mesmo
estava uma grande mesa totalmente feita em mármore negro, a mesma cor que
tingia o enorme monitor do computador que ali estava junto a uma pilha de
documentos muito bem organizados logo ao lado do porta canetas.
Atrás da mesa estava sentado um
homem alto de cabelos castanhos que iam até próximo aos seus ombros, tinha uma
barba bem feita de igual cor e usava um terno totalmente branco acompanhado de
uma gravata vermelha.
O homem parecia estar muito
ocupado, estava sempre a falar com alguém ou atender a algum telefonema, mas
assim que viu os jovens detetives entrarem na sala ele deu um sorriso e parou
tudo que estava fazendo, desligou o telefone e dispensou a secretária a quem
acabara de dar alguma ordem incompleta.
- Ora, ora, senhor Daniel, como o
destino é irônico, nos encontramos novamente – Ele parecia estar divertindo-se com
a situação.
- Carl Reymond, seu canalha! O que
é que está acontecendo? - Daniel esbravejou.
- Isso eu também gostaria de saber,
caro amigo, espero que saiba que esta invasão a minha propriedade lhes custará
mais caro do que imagina, meus planos pra vocês dois já estão me deixando
ansioso pelo que vem aí...
12ª Suspeita: Zumbis
Dia 1 de junho de 2013, sábado, nublado, Rio de
Janeiro, centro, 16h37min da tarde.
A
situação não ia nada bem, Daniel e Davi acabaram sendo pegos dentro da see!
Corporations e encontraram aquele que eles não esperavam ver tão cedo.
-
Carl Reymond, seu canalha! O que é que está acontecendo? - Daniel esbravejou.
-
Isso eu também gostaria de saber, caro amigo, espero que saiba que esta invasão
a minha propriedade lhes custará mais caro do que imagina, meus planos pra
vocês dois já estão me deixando ansioso pelo que vem aí...
- Como assim? Pare de joguinhos e diga logo o que é que tá
pegando!
- Acalme-se meu jovem, a pressa não nos leva a lugar algum,
sem falar que um filme do qual você já conhece o enredo não consegue entreter
da forma desejada, tenha calma, aprenda a degustar com clareza os mínimos
detalhes dos fios que tecem nossas vidas. Agora, sente-se – Dizia ele apontando
para as duas cadeiras que estavam logo à frente de sua mesa – Ao menos a isso
vocês tem direito... Ainda.
Davi estava um pouco confuso por não saber ao certo o que
estava acontecendo. Daniel já havia lhe contado sobre Carl e foi justamente por
isso que eles decidiram ir á sede de sua empresa no Rio de Janeiro, para
averiguar a identidade suspeita deste homem, no entanto, Davi só conhecia Carl
pelo que seu amigo lhe contara e não esperava que ele tivesse uma aparência tão
singular e nobre ao mesmo tempo isso sem falar no seu jeito tão excêntrico de
agir.
Daniel por sua vez estava irritado, ele não imaginava em sua
habitual e extrema autoconfiança que seria pego tão facilmente e Carl parecia
(e estava) se divertindo à custa dele, isso o deixava furioso, sem falar que
sua cabeça estava a mil pensando numa forma de sair dali. No entanto, por mais
que estivesse nervoso ele tentava manter a calma sem refrear seu orgulho e ao
invés de sentar simplesmente permaneceu em pé dando um tapa na mão do guarda
que o segurava pelo ombro fazendo-o soltar na mesma hora, o guarda ia fazer
alguma contramedida, mas bastou um severo olhar de Reymond para que ele nada
fizesse.
- Pois bem, já que não querem sentar eu nada posso fazer
quanto a isso, porém, peço que compreendam que minha hospitalidade acaba por
aqui, e com justo motivo, pois não compreendo o que os levou a entrar na sede
de minha tão estimada empresa de forma tão vil quanto a que mostraram-me a
pouco.
- O que me levou a
entrar aqui para investigar não vem ao caso, o que importa é que tem alguma
coisa muito podre acontecendo aqui, e com certeza você está planejando algo com
isso – Daniel apontou o indicador para Reymond de forma que ele pareceu não
gostar muito – Não acho que uma empresa de publicidade estaria fazendo
pesquisas sobre drogas sem nenhum motivo obscuro, abra o jogo Carl, é tráfico
que você está fazendo, não é?
- Ora, que difamação infame, lamento que me veja de forma
tão hedionda senhor Daniel, mas peço que me dê seu voto de confiança, tráfico
seria algo muito problemático para minha empresa, nós estamos trabalhando há
anos em nosso ramo e já somos uma grande corporação de respeito no mundo todo,
não queremos manchar nossa boa imagem conquistada com tanto trabalho apenas
para vender drogas à meia dúzia de vândalos.
Daniel iria retrucar, mas Davi o parou e ele entendeu a
mensagem de primeira: Eles não tinham prova nenhuma para incriminar Reymond e
se continuassem a conversa só iriam se complicar ainda mais, eles precisavam
mesmo é pensar em como sair dali.
- Vou admitir que isso que fizeram foi apenas um acesso de
loucura juvenil e dar-lhes-ei mais uma chance, podem sair, cavalheiros, só não
voltem a fazer o mesmo erro na saída, pois não pretendo ser tão condescendente
uma segunda vez.
- Ah, agradecemos por sua bondade senhor Reymond – Dizia
Davi ao puxar seu amigo a fim de saírem dali – Não esqueceremos desse seu gesto
de amizade jamais.
Sem pestanejar Daniel acompanhou o amigo até a saída
enquanto Reymond deu ordem a um dos guardas que os acompanhasse até a recepção.
- Pois bem amigos, espero que nosso próximo encontro possa
ter a graça de ser mais caloroso e casual – Dizia Reymond enquanto os jovens
passavam pela porta de saída.
Daniel voltou seu olhar para trás por um momento e como uma
lâmina ficou todo seu ódio num olhar voltado para aquele homem que ali estava
atrás de sua imponente mesa de mármore.
- Não haverá próxima vez, Reymond, pois até lá você estará
atrás das grades. – E falando isso saiu
do aposento que permaneceu em silêncio por alguns instantes, até que Carl num
tom de satisfação proferiu estas palavras:
- Veremos, senhor Daniel... Veremos.
Um dos três guardas que ali estavam não conseguia disfarçar
o desconforto em ver seu patrão ser tão desafiado ao ponto de que o mesmo
chegou a perguntar-lhe o que o atormentava.
- Senhor, peço que me perdoe, mas não entendo o que o leva a
ser tão piedoso com aqueles marginais – O guarda revirava os olhos enquanto
falava.
- Acalme-se, Huston – Referia-se ao guarda – Não ouviu o que
eu disse mais cedo? Não vamos estragar a graça do filme acelerando os
acontecimentos, eles mal esperam o que lhes irá acontecer... Brevemente e com amargor
eles hão lembrar-se de minhas palavras... Breve.
Dia 1 de junho de 2013, sábado, chuva, Rio de
Janeiro, hotel lady sereia, 17h06min da tarde.
Encharcados.
Essa era a palavra que podia definir os rapazes que acabaram de chegar
ensopados no hotel lady sereia.
Os
dois tinham pegado uma chuva terrível na volta ao hotel, estavam molhados,
exaustos e sem nenhum resultado da investigação, o que era o pior de tudo, pois
eles vieram para o Rio apenas pra isso.
Teriam
pegado um ônibus, mas não conheciam praticamente nada do lugar e justamente por
isso que tiveram que ir na chuva.
Davi
já estava estressado na cama quando Daniel pediu uma pizza tamanho família por
telefone.
Daniel olhou para a cara fechada de seu amigo
e sentando na cama onde o mesmo estivera deitado começou a falar:
-
Hey, cara, relaxa, não foi tudo em vão, conseguimos achar muita coisa bacana.
-
Sim, Daniel... Nós poderíamos ter achado bem mais se não fôssemos pegos, nunca
mais vamos ter uma chance dessas. Se pudéssemos ver aqueles documentos ao menos
mais uma vez...
-
E quem disse que não podemos? – Daniel deu um sorriso.
-
Cara, na boa, eu vou dormir, amanhã a gente conversa mais, boa noite.
-
Boa... – Daniel chateou-se com a atitude de seu companheiro, mas permaneceu
calado, ele mais do que ninguém sabia que quando Davi estava chateado o melhor
era deixa-lo sozinho por um tempo.
No
dia seguinte já as sete da manhã Davi não estava mais no apartamento. Daniel,
assim que acordou ficou a procurar por ele e inclusive perguntou aos
funcionários do estabelecimento sobre o sumiço do rapaz, eles apenas o
informaram que o mesmo tinha saído por volta de umas seis e meia e desde então
não tinha voltado.
Daniel
ficou preocupado, mas achou melhor não ir atrás do amigo, ao invés disso voltou
ao seu quarto.
Lá
chegando ele percebeu que em cima da geladeira tinha um bilhete.
“Fui dar uma volta, só
volto de noite.
Se sair avise por sms
pra que eu saiba.
Até mais.
Davi”
-
Ora, ora, então fica nervosinho e se manda, né? – Daniel acabara de jogar o
bilhete fora – Às vezes é difícil entender esse cara... Só quero ver quando ele
souber do que tenho aqui.
Por
fim, Daniel ligou a televisão, o vídeo game e passou o dia todo a jogar final
fantasy.
Sete
horas da noite.
Daniel
e Davi agora estavam novamente no aeroporto, só que desta vez na Bahia.
Durante
toda a viagem de volta Davi permaneceu calado, Daniel por alguns momentos
tentou estabelecer diálogo, em vão, pois o amigo estava irremediável, disse que
necessitava pensar e que logo conversariam, no entanto, não sabia quando. O
loiro não gostou da resposta, mas ele tinha em mente que quando Davi ficava
assim o melhor é deixa-lo quieto, ele certamente estava a pensar sobre o caso,
apesar de não parecer, até mesmo ele não sabia o que fazer.
Eles
passaram apenas dois dias no Rio por conta de que no dia seguinte teriam aula,
sem falar que aquela foi uma viagem puramente profissional.
Chegando
à Bahia os dois foram recepcionados pela mãe de Daniel que quis saber logo das
novidades da viagem e ficou a tagarelar o tempo todo com seu filho, ele não
estava muito pra conversa, mas sabia que se não respondesse as perguntas de sua
mãe ela certamente não iria gostar.
Por
fim, eles entraram no carro e voltaram para casa, segundo o combinado Davi iria
dormir na casa de Daniel, mas assim que entrou no carro as únicas palavras que
disse foi o aviso que fez a mãe de seu amigo de que preferia voltar para sua
casa, ele achou estranho, mas não replicou.
Davi
durante toda a viagem não disse uma palavra.
Dia 3 de junho de 2013, segunda-feira, nublado,
IFBA, campus Simões Filho, 12h46min da tarde.
Era
mais um dia pacato de aulas, nada fora do normal acontecendo. Até então.
Daniel
acabara de chegar à escola e logo percebeu que havia algo de errado. Todos que
passavam por ele o olhavam como quem guarda ódio dele por anos. De início
pensava que era coisa de sua cabeça, mas logo percebeu que não era bem assim.
Ele
começou a andar mais depressa e na velocidade que andava acabou por se esbarrar
com alguém.
-
Ei, olha por onde anda! – Dizia o loiro enquanto mexia com sua mão na cabeça
contundida.
-
Daniel? Graças a Deus que você chegou. Eu e Adriana estamos tentando te ligar há
horas, Davi disse que vinha mais tarde, estávamos super preocupadas – Gabriela
falava isso num tom de voz mais do que aflito e abraçava seu amigo apesar do
mesmo tê-la respondido de forma tão grosseira.
-
AH... Gabi... Desculpa, não vi que era você... – Daniel parecia envergonhado,
mas logo se recompôs e ajudou a ruiva a levantar-se – O que foi que houve pra
você estar assim?
-
O pessoal da escola, todo mundo está mega estranho, disseram que querem saber
de resultados de vocês quanto à investigação, eles estão esquisitos, Daniel,
tanto que dá medo.
-
Calma, Gabi, vai tudo dar certo, só se acalme e deixa o resto comi...
-
OLHA UM DELES ALI! –Um gordo estudante disse ao apontar pra Daniel.
-
PEGA ELE, NÃO O DEIXE FUGIR! – Um segundo gritou e ao correr foi seguido por
uma legião de estudantes enfurecidos.
- Merda, onde está Adriana? – Daniel falou ao
mesmo tempo em que corria segurando o braço da amiga.
-
Ela tinha ido comprar alguma coisa pra comer, disse que só assim pra se acalmar
e...
-
Olha ela ali! – Daniel apontara para a garota da qual falavam há pouco.
Por
mais estranho que pareça Adriana também estava correndo, só que na direção
oposta a dos colegas de classe que estavam sendo seguidos. Ela parecia chorar,
mas não parava de correr, acabou deixando alguns lanches como salgadinhos e
refrigerante caírem no chão no meio da corrida.
Assim
que ela avistou os amigos correu em disparada para encontra-los, mas ela nem
sequer parou quando chegou neles, apenas os chamou para ir junto consigo e
continuou a correr.
Daniel
continuava a segurar a mão de Gabriela a todo o momento, pois temia que sua
amiga não o conseguisse acompanhar correndo.
A
esta altura os revoltados estudantes já estavam a jogar pedras em seus
perseguidos. Algumas poucas os acertavam, mas a maior parte passava direto
zunindo por seus ouvidos, mas mesmo sendo atingidos eles não paravam de correr.
-
O que foi que aconteceu, Adriana? – Perguntou o único rapaz do grupo.
-
Eu não sei – A garota tentava conter o choro – Eu estava voltando do mercadinho
com os lanches meu e de Gabriela e do nada eles me pararam... Queriam saber
onde estava você e Davi, eu disse que não sabia e eles não acreditaram e estão
correndo atrás de mim até agora...
-
É, isso deu pra perceber – Daniel olhava para trás a fim de ver se seus
perseguidores já os tinham alcançado.
-
OLHEM! – Gabriela apontara para frente.
Na
direção que Gabriela apontava estava um garoto que cobria seu rosto com o touca
de sua blusa, ele segurava um taco de beisebol e estava pronto pra acertar
alguém.
Daniel
e suas duas amigas passaram correndo pelo lado do rapaz do taco de forma que
ele os ignorou, no entanto, assim que o primeiro estudante enfurecido
aproximou-se dele o mesmo o acertou com um belo golpe de taco.
Muitos
jogaram pedras sobre ele, mas nenhuma o acertou, ele rebateu todas para que
voltassem direto na cabeça de quem as arremessou, preferindo aqueles que
estavam mais a frente.
Doze
caíram acertados por suas próprias pedras antes que o rapaz resolvesse sair
dali seguindo na direção que Gabriela, Adriana e Daniel foram.
Ele
correu de forma que acabou por adentrar o pavilhão administrativo, subiu as
escadas e seguiu a toda para a sala do fim do corredor, o auditório três ou
auditório administrativo.
Daniel
abriu a porta para o rapaz e fez sinal para que ele entrasse, ele aproximou-se
da porta ficando a apenas vinte centímetros dela quando tirou três bolas de
sinuca do bolso, assim que as tirou jogou-as para cima no mesmo instante e
bateu com seu taco nas três ao mesmo tempo o que acabou por nocautear nove
estudantes que estavam mais a frente da perseguição a uns vinte metros da sala
em que o jovem do taco acabara de entrar junto a Daniel.
-
Cara, pensei que não fossemos conseguir... – Daniel enxugava o suor do rosto.
-
Sorte que nem sempre você acerta – O anônimo do taco abaixou a toca mostrando
seu rosto. – Não pude responder suas mensagens por que estava sem crédito,
sorte que eu trouxe esse taco, sabia que seria útil.
-
Davi! – Adriana saltou aos braços do rapaz que teve que soltar o taco no chão
para poder segurá-la.
-
Cara, o que foi isso lá fora? Eles estão loucos, querem nos matar sem mais nem
menos... – Daniel olhava para a porta pressentindo o pior – Eles são o que?
Zumbis? Estamos no meio do 6º filme de Resident Evil e não me avisaram? Parece
até brincadeira...
-
Não, Daniel – Davi afastou-se um pouco do rapaz – Isso é muito pior que
resident evil. Zumbis matam para se alimentar, eles matam por ódio. Zumbis são
lentos, eles são rápidos. Zumbis são burros, eles são inteligentes. Zumbis
nunca entrariam aqui... E eles logo vão entrar.
A
dobradiça da porta começava a ruir.
13ª Suspeita: Proposta
Dia 3 de junho de 2013, segunda-feira, nublado, IFBA,
campus Simões Filho, 1h21min da tarde.
As
portas do auditório administrativo ainda estavam fechadas e apenas mantinham-se
assim graças aos esforços dos jovens presos de colocar mais e mais coisas a
frente da mesma. Eles chegaram ao ponto de quebrar as cadeiras que estavam
fixadas no chão apenas para barrarem a porta, tudo feito com muito trabalho e
com o taco de beisebol de Davi.
O
auditório era uma sala relativamente grande, tinha um clima de cinema, com ar
condicionado e um projetor que ficava sempre apontado para o quadro branco que
eventualmente era utilizado para fazer anotações de aulas ou reuniões entre os
professores e docentes do campus.
As
cadeiras eram verdes e acolchoadas, muito bem feitas, e ao menos até então eram
fixadas no chão. No momento sua serventia era barrar uma onda de estudantes
furiosos querendo derrubar a porta de entrada.
-
Pronto, essa foi a última fileira de cadeiras – Disse Daniel ao jogá-las na
porta – Isso vai ajudar, mas não por muito tempo.
-
Cara, que merda isso tudo... – Davi tirava o suor do rosto enquanto pegava um
pouco de água no bebedouro juntamente a um copo descartável que achara ali –
Não esperava que eles ficassem tão furiosos ao ponto de querer nos matar... Se
ao menos tivéssemos algum resultado da investigação que fizemos no Rio...
-
E quem disse que não temos?
-
Hã? Como assim, Daniel? Aquilo tudo não
deu em nada, os guardas nos pegaram antes que pudéssemos ler todos os
documentos.
-
Pois é, só que eu sou mais inteligente que eles – Daniel sorriu e tirou o
celular do bolso – Caso você não tenha notado meu celular tem câmera.
-
Cara, não me diga que...
-
Exatamente – O loiro enchia o peito de satisfação – Tirei fotos de tudo.
Davi
ficou extremamente feliz ao ouvir essas palavras, em seguida abraçou o amigo e
pegou o celular da mão do mesmo a fim de olhar as fotos já citadas.
Todas
as fotografias foram tiradas com extrema precisão de forma que era perceptível
que ao tirá-las Daniel preocupou-se que o texto presente nos documentos
pudessem ser legíveis mesmo na tela do celular.
A
maior parte das páginas dos documentos falavam de drogas e seus efeitos no
comportamento e no cérebro humano, as únicas que não falavam disso eram,
naturalmente, a capa e o fundo.
Em
uma de suas páginas era possível se ler o seguinte texto:
“Nome: Cocaína
Formas de consumo:
Merla, crack e pó branco
Tempo de início de efeito:
10 a 15 segundos depois do consumo.
Duração do efeito:
Menos de 5 minutos
Efeitos: Sensação de
grande prazer, poder e euforia.
Efeitos em caso de uso
exacerbado: Irritação, comportamento agressivo, paranoia, tremores, visão
borrada, dores no peito, contrações musculares, convulsões e pode levar a coma,
aumento na frequência cardíaca, alucinações, aumento de pressão arterial,
delírios e rabdomiólise.
Nota: Os efeitos da
abstinência da droga são mais pertinentes ao projeto do que os do uso da droga
em si. Seria interessante a criação de uma droga que pudesse unir os dois
efeitos, o da abstinência e o do uso, assim o usuário poderia viciar-se com
mais facilidade enquanto a droga estaria servindo aos propósitos de sua
produção.”
Abaixo
do texto existiam algumas fotos de cocaína em todas as suas formas, isso sem
falar de fotos do rosto de pessoas que estavam sob o efeito da mesma.
Os
rapazes ficaram abismados com o que leram, mas nem por isso pararam. Por um
instante se entreolharam e passaram a página:
“Nome: LSD
Formas de consumo:
Oral, também pode ser fumado se misturado com tabaco.
Tempo de início de
efeito: 30 a 90 minutos depois do consumo.
Duração do efeito: 6
horas.
Efeitos: Tremores, aumento da temperatura corporal, da frequência cardíaca e da pressão arterial,
pupilas dilatadas, aumento da glicemia, suores, perda de apetite, náuseas, tontura,
parestesia (queimação da pele), boca seca, insônia e convulsão.
Durante o efeito do alucinógeno são
produzidos fenômenos alucinatórios que envolvem alterações nas percepções:
auditivas, visuais, gustativa, olfativa, táctil, perda do limite
entre o espaço e o próprio corpo, podendo causar diversos tipos de acidentes:
domésticos, de trabalho, automobilísticos, etc., despersonalização, sensações de
pânico e medo, ou ainda sinestesias, que é uma confusão de informações
sensoriais, onde as sensações auditivas, traduzem-se em imagens e estas em sons
, delírio, sensações alternadas e simultâneas de alegria e tristeza, e de
relaxamento e tensão, perda da coordenação do pensamento, apreensão constante.
As sensações produzidas pelo LSD, ao usuário,
são “reais”, provocando medo, prazer, ansiedade e dor.
Efeitos em caso de uso
exacerbado: Tensão corporal e fadiga (podendo perdurar por vários dias), depressão
profunda, surtos de esquizofrenia, reflexos exaltados e perda da memória.
Nota: Essa é uma droga
interessante a ser estudada, pois seus efeitos são extremamente fortes e
perduram por uma grande quantidade de tempo, o interessante seria podermos
controlar esses efeitos de acordo com as palavras-chave, mas é necessário
testes com a substância que a compõe para averiguar se de fato nos pode ser
útil.”
-
Que... – Davi estava imóvel – Que merda é essa?
- Eu
disse que tem coisa podre na see! Coporations! – Daniel guardava o celular e
assim que mencionou o nome da corporação. Ele baixou o tom de voz enquanto
olhava para a porta a fim de que aqueles que estão do lado de fora da sala não
o escutem – Na hora que estávamos na sala do Reymond eu apenas citei tráfico de
drogas pra ter uma desculpa que ele engolisse, não queria que ele soubesse que
estávamos ali por que tenho minhas suspeitas quanto a ele.
-
Precisamos olhar melhor isso... Sinto que as coisas estão começando a se
conectar – Davi estava pensativo. Ele olhava para o nada, compenetrado e
buscava em sua mente algo que pudesse trazer uma luz ao caso.
Gabriela
e Adriana, naturalmente, também estavam presentes na cena. Elas testemunharam
todo este diálogo, mas permaneceram quietas, elas bem sabiam que quando os
jovens detetives estavam pensando o melhor que podiam fazer era ficar em
silêncio, já que eles não conseguiam pensar com muito barulho os atormentando,
no entanto Gabriela os chamou da mesma forma.
- Er...
Gente, desculpa incomodar o momento que a “imensa” sabedoria de vocês entra em
prática, mas temos problemas – A ruiva apontara para a porta de onde uma voz
familiar parecia rir.
- Há,
há, há...
-
Essa... Essa risada – Davi aproximou-se a porta junto ao amigo e olhou pelo
vidro reforçado que ficava na horizontal da mesma para ver quem era, pelo fato
do vidro ser muito escuro ele demorou algum tempo para notar quem era – Ei,
espera... O que você... O que você está fazendo aí?...
- O que
eu estou fazendo? – Respondeu a voz que vinha de fora da sala – Não é obvio,
Davi? Vim ver sua linda expressão de pânico. Eles estão do meu lado – Apontou
para a horda de estudantes loucos logo a suas costas.
- SEU
DESGRAÇADO! TRAIDOR! O QUE DIABOS VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, ÓRION? – Gritou
Daniel.
-
Clama, Daniel. Estou apenas mostrando a vocês que surpresas sempre acontecem.
Sinceramente, eu esperava mais de vocês, pensei que fossem me descobrir muito
antes.
-
Então... Desde o início foi tudo mentira? – Davi tentava inutilmente manter a
calma perante aquela situação caótica.
- Desde
o início? Não, muito antes do início já era tudo mentira, tudo o que fiz e
falei a vocês foi minimamente planejado.
- O que
você quer afinal de contas, seu maldito? – A esta altura Daniel já estava
vermelho de ódio e louco para avançar no pescoço do traidor – Juro pra você que
assim que eu sair daqui te parto em dois!
- Ui,
tá nervoso... HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ! – Ele ria desenfreadamente e de forma até
medonha ao ouvir a frase dita a pouco – Eu vim aqui justamente para garantir
que vocês não saiam daí, mas assim como meus companheiros eu gosto de ver um
pouco de desespero, quero que fiquem presos aí até implorarem pela morte de
tanta fome e sede que passarão. Nunca matei uma pessoa assim, sabia? Sempre
quis fazer isso... De toda forma, tenho uma proposta para vocês.
- Diga!
– Davi afastou seu amigo temendo que ele viesse a fazer alguma besteira por
conta de sua raiva.
- Pois
bem, eu tenho dois brinquedinhos aqui que vão deixar tudo mais bacana – Órion
levantou em suas mãos duas algemas sujas de sangue – Não quero que vocês dois
fujam de forma alguma, não tenho interesse nenhum nas garotas, eu posso até
deixa-las sair, no entanto, pra que isso ocorra preciso que vocês concordem em
usar essas algemas sem nenhuma forma de resistência, não quero que vocês morram
tentando se defender.
-
Hum... – Davi estava a pensar enquanto Daniel gritava ofensas ao seu
interlocutor. Se ele não aceitasse a proposta a probabilidade de Órion mata-los
na hora era enorme, porém, se ele aceitasse suas chances de sobrevivência
seriam reduzidas de quase nada pra nula. Depois de muito pensar e não conseguir
resultado nenhum Davi enfim deu uma resposta desesperada – Cara... Sua proposta
é “tão boa” que acho que vou ter que conversar um pouco com o pessoal aqui
antes, pode me dar um tempo?
-
Claro, mas sejam rápidos, eles estão esperando – O ruivo sorria sadicamente ao
apontar para os estudantes do lado de fora. – Ah, vou olhar vocês lá da sala da
sala do setor de informática pela câmera que está aí, O.K.? Portanto, nada de
gracinhas enquanto eu estiver fora.
“Droga, eu tinha esquecido da câmera”.
Pensava Davi. “Tenho menos de dois
minutos pra agir”.
Órion
se virou, deu algumas ordens e saiu de cena.
-
Adriana, a câmera do seu celular tem temporizador? – Disse o rapaz do taco
assim que se virou.
- Hã?
Tem sim, mas pra que você quer tirar uma foto numa hora dessas?
- Não
importa! – Davi pegou o celular que estava em mãos da amiga e saiu correndo
para coloca-lo em cima da mesa que estava logo à frente da sala com o projetor
recostado sobre ela – Todo mundo pro canto da sala, agora! Nossa sobrevivência
depende disso.
____________________________________________________________________________
A sala
do setor de informática estava um pouco bagunçada, eram computadores, monitores
e conjuntos imensos de CPU’S jogados para tudo que é lado. Desta sala era
possível se ver as imagens que eram gravadas de todas as câmeras presentes na
escola, no entanto, apesar de tantas imagens para ver Órion apenas prestava
atenção nas imagens do auditório administrativo e em sua pizza de mussarela
enquanto atendia uma ligação.
- O
plano parece ter saído de acordo com o esperado – Falava o ruivo ao telefone
celular – Os alunos estão convictos de que devem matar os moleques detetives...
Hum... Sei... Eu entendo, não tivemos muitos problemas com os professores ou a
diretoria, até por que eles também estão de acordo com a matança dos moleques.
Ah, assim que cheguei aqui um aluno que era da minha sala me disse que ouviu
Daniel ligar pelo menos umas quatro vezes para a polícia, o que significa que
ela também não vai fazer nada, ótimo. Hã? Onde estão eles? Estão bem aqui,
prendemos eles dentro de uma sala e eu estou vendo tudo por vídeo aqui na sala
do T.I, eles estão ali sentados todos juntos no canto da sala sem fazer nada...
– Órion novamente uma olhada na imagem, só que desta vez ele percebeu que tinha
algo errado ali – É, a sala está bem escura, eles apagaram as luzes, mas... –
Ele tirou o celular do ouvido e aproximou-se do monitor – Eles... Estão brilhando?
– Um pensamento que o amedrontou tomou conta de sua mente, no mesmo instante
Órion saiu correndo da sala deixando cair tanto a última fatia da pizza quanto
seu iPhone.
- ONDE
ESTÃO OS REFÉNS? – O jovem gritava desesperadamente para os alunos loucos que
estavam a espera da morte dos detetives e suas amigas.
- Estão
lá dentro, Órion – Respondeu o adolescente que antes o tinha informado sobre as
ligações de Daniel a polícia – Não tiramos os olhos deles nem por um segundo,
apesar de que a sala está escura. Não tem como eles saírem...
-
Idiota, saia da frente! – E tirando seu informante do caminho Órion sacou um
revolver de seu bolso e deu um tiro na maçaneta da porta.
Assim
que adentrou a sala o rapaz pôde ver que assim como tinha visto na sala de
vídeo os quatro reféns estavam todos sentados no canto da sala próximos as
janelas, a sala continuava escura, mas era possível vê-los com clareza, clareza
até demais.
Ele
aproximou-se das janelas e pôde ver que tinha uma imensa corda que levava até o
chão onde se encontravam dois estudantes caídos, provavelmente golpeados com um
certo taco de beisebol.
-
Órion? O que foi que houve? – Perguntou o mesmo informante de agora a pouco.
- O que
foi que houve?... O QUE FOI QUE HOUVE? – A pele do traidor já estava no tom de
seus cabelos.
Órion
chegou junto ao projetor e ao notebook que estava junto ao mesmo no outro lado
da sala recostados sobre uma mesa de madeira, no notebook apenas existia um
cartão de memória embutido e em sua tela era possível se ver uma foto de quatro
jovens bem familiares no canto dessa sala.
Por fim
Órion acendeu a luz e viu que
aquilo, que os quatro que estavam do outro lado da sala não passavam de uma
imagem do projetor.
-
PORCARIA, MERDA! – Praguejava o jovem – VOU MATÁ-LOS UM POR UM!
Os
quatro amigos fugiram.
Continua...
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